Vício em WhatsApp: uma realidade cada vez mais comum

Vício em WhatsApp: uma realidade cada vez mais comum
Francisco Pérez

Escrito e verificado por o psicólogo Francisco Pérez.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Vício em jogos online, vício em WhatsApp, vício em Instagram, vício em sexo virtual, etc. Sem dúvida alguma, o século XXI vai se caracterizar pelas condutas viciantes, repetitivas, geradoras de tolerância. É um fenômeno em crescimento, e novos vícios, especialmente relacionados com a tecnologia, provavelmente vão surgir nos próximos anos.

A explicação para este fenômeno é que qualquer conduta prazerosa, por puro reforço intrínseco, tende a se repetir. É, por isso, suscetível a se transformar em um comportamento viciante. No entanto, isso só acontece quando a pessoa mostra uma perda habitual de controle ao realizar uma determinada conduta. Além disso, continua com ela, apesar das consequências negativas. Pois bem, isso é o que acontece com o vício em WhatsApp.

É importante lembrar que os componentes fundamentais dos transtornos viciantes são a perda de controle e a dependência. Deste modo, os vícios não se limitam às condutas geradas por substâncias químicas.

Na verdade, existem hábitos de conduta aparentemente inofensivos que podem se converter em viciantes, como o uso das novas tecnologias. O certo é que, pelo uso repetitivo e prioritário, elas podem destruir, literalmente, a vida das pessoas afetadas.

Mulher usando seu celular

O uso do WhatsApp

A WhatsApp Inc. foi fundada em 2009 por Jan Koum. Jan havia chegado da Ucrânia aos Estados Unidos no começo dos anos noventa, falando muito pouco inglês, tendo sido anteriormente o diretor da equipe de operações da plataforma do Yahoo.

Este aplicativo não demorou a se transformar em uma máquina de gerar usuários, superando a barreira de 1 bilhão. Atualmente, os servidores do WhatsApp não podem ter mais descanso, já que diariamente passam por eles 42 bilhões de mensagens de texto. Através do WhatsApp são enviadas 1,6 bilhão de fotografias e mais de 250 milhões de vídeos diariamente. Estes dados nos dão uma ideia da popularidade e, portanto, do poder, desta ferramenta na atualidade.

Os vícios psicológicos

A dependência de drogas costuma se referir às substâncias químicas. No entanto, atualmente temos experiência clínica suficiente para falar de vícios psicológicos, como é o caso do vício em WhatsApp.

Não é exagero dizer que certas condutas, como o jogo patológico, a dependência das redes sociais, a compulsão alimentar, etc., podem ser considerados vícios. A pessoa mostra uma forte dependência psicológica para estas condutas e age com ansiedade e de forma impulsiva. Assim, ela perde o interesse por qualquer outro tipo de atividade gratificante, que fica relegada a um segundo plano. Desta maneira, a pessoa é “sequestrada”.

O WhatsApp, assim como outros aplicativos para o celular, é utilizado em qualquer lugar e a qualquer hora. Sua disponibilidade é imediata, e o seu uso é muito gratificante, o que nos dá uma ideia do poder viciante que ele possui.

Homem viciado em redes sociais

Qual é a sequência do vício em WhatsApp?

Como em qualquer outro vício psicológico, a sequência pela qual os usuários do WhatsApp passam para se viciar no aplicativo é a seguinte:

  • O uso do WhatsApp é prazeroso e recompensador para a pessoa. Isso é lógico se levarmos em conta as características do aplicativo.
  • Existe um aumento dos pensamentos referidos a utilizar o WhatsApp nos momentos em que a pessoa não está implicada nessa conduta.
  • O uso do WhatsApp tende a se tornar cada vez mais frequente. A pessoa perde o interesse por outros tipos de atividades anteriormente gratificantes (ler, escutar música, fazer exercícios, etc.).
  • A pessoa tende a não dar importância ao interesse suscitado nela pelo uso do WhatsApp (isso é chamado de mecanismo psicológico de negação).
  • Experimenta-se um intenso desejo periódico de utilizar o WhatsApp. Tem-se expectativas muito altas sobre o alívio do mal-estar que se sente depois do uso do aplicativo.
  • A conduta se mantém, apesar das consequências negativas crescentes. Existe uma justificativa pessoal e uma tentativa de convencimento dos outros por meio de uma distorção acentuada da realidade.
  • À medida que os efeitos adversos de utilizar o WhatsApp aumentam, o viciado começa a ter consciência da realidade. Faz tentativas falidas de controlar a conduta por si mesmo.
  • Agora, o que mantém a conduta de utilizar o WhatsApp não é mais o efeito prazeroso, e sim o alívio do mal-estar. Este alívio tem cada vez menos intensidade e é de mais curta duração.
  • A pessoa mostra uma capacidade cada vez menor de lidar com as emoções negativas e as frustrações cotidianas. As estratégias de enfrentamento se empobrecem devido à falta de uso. Deste modo, o comportamento viciante de utilizar o WhatsApp se transforma na única via para enfrentar o estresse.
  • O uso do WhatsApp piora. Uma crise externa, como o fim de um relacionamento amoroso, leva a pessoa ou a família a buscar um tratamento.
Vício em WhatsApp

As consequências do vício em WhatsApp

Como consequência de tudo isso, o uso do WhatsApp se transforma em algo automático. Seu uso é emocionalmente ativado, com pouco controle por parte da pessoa viciada. A pessoa pesa os benefícios da gratificação imediata, mas não repara nas possíveis consequências negativas a longo prazo.

São duas as principais consequências negativas do vicio em WhatsApp. Uma delas é o isolamento do entorno. A outra supõe não prestar atenção em outros aspectos sociais, como as obrigações profissionais ou acadêmicas. As relações afetivas são deterioradas e, inclusive, a vida em casal pode chegar a sofrer perigosas consequências.

Como vemos, além dos vícios fisiológicos (cigarro, álcool, cocaína, etc.) existem vícios psicológicos. Este é o caso do vício em WhatsApp. Os efeitos do uso compulsivo deste aplicativo podem ser muito prejudiciais para quem sofre com eles, restringindo e deteriorando, apesar de parecer paradoxal, a sua vida social.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.