Você nunca me viu nua, nunca soube dos meus sonhos
Você nunca me viu nua, nunca soube dos meus sonhos. Meus sonhos consumidos pelo passar do tempo que ficou esperando pensando que voltaríamos a nos encontrar. Agora me dei conta de que essa espera foi um tempo perdido com a mente cheia de musaranhos e quimeras. Se uma pessoa está suficientemente apaixonada, não há nada que deva mudar, apenas aumentar a vontade de estar juntos e enfrentar as dificuldades que impedem isso.
Além disso, me dou conta de que nossos encontros íntimos idealizados não eram nada mais que a nuvem de poeira que te distrai de saber a verdade sobre a pessoa que abraça. Despir-se diante de alguém é mostrar que você está apostando até o final, apesar das armadilhas e das tragédias do caminho. Agora me dou conta de que minha nudez só te mostrava minha disponibilidade, mas você nunca percebeu a entrega que havia por trás dela.
Despir-se não é o mesmo que despir-se de corpo e alma
Ainda estando nus, o que passa por nossas mentes é a verdadeira intimidade, que às vezes permanece impávida e inerte, misturada entre carícias e paixão, uma intimidade que se cala por pensar que pode impedir o desenvolvimento da paixão.
Conversas sobre o futuro e o que é esperado são evitadas pelo fato de que “todas as palavras são inúteis quando se dá um abraço verdadeiro”. Porém, como acreditar nessa linguagem do abraço se para alguém é um momento e para o outro é a eternidade que deseja ser compartilhada?. Quando duas almas estão em paz, não se deveria declarar guerra com o silêncio. É bom falar sobre medos, expectativas, sentimentos.
Porque como é possível fazer um relacionamento se desenvolver normalmente sem saber o que acontece com os sonhos da outra parte? Suas ideias para com a vida, sua maneira de ser feliz como pessoa. Como fazer vista grossa a um sentimento tão forte dentro de uma pessoa?
Despir-se diante de outra pessoa, quando o que se guarda dentro é a verdadeira intimidade
Qualquer pessoa se entrega para a outra sem pensar em receber nada em troca, nada além do que se deriva da mesma qualidade da intimidade. No entanto, espera-se sem pedir que passados os beijos, os abraços e as paixões, isso que existe dentro de nós mesmos saia para fora. Porque esconder o que se sente não é um amor livre, mas sim um amor prisioneiro.
Você não pode desfrutar do amor romântico ignorando as ilusões e imagens que dele estão surgindo. Às vezes se ignora por medo de ser ferido, por um adiamento do inconsciente ou pela prevenção do compromisso mal-entendido, que não é o cumprimento de uma pena, mas sim se livrar dela quando realmente se vive o que se sente.
Podemos estar dispostos a esperar que o medo se vá, mas podemos ficar esperando e nunca saber o que realmente somos. Talvez seja esse o risco que você não quer correr, mas se você evitá-lo, jamais saberá que poderia se encaixar nos sonhos do outro, mais do que em sua nudez.
O efeito Zeigarnik de alguns relacionamentos
Não há nostalgia pior do que ter saudades daquilo que jamais existiu e não há pior certeza que saber que algo bom se perdeu para sempre. Dizem que os finais abertos e as histórias inacabadas são mais encantadoras, que aquilo que se interrompe sempre é melhor lembrado, “o efeito Zeigarnik” que a psicologia descreve em seus estudos sobre a memória.
No entanto, o que se aplica à memória não serve para o desejo nem para o lamento. Interromper o que se deseja e se ama é um lamento que nunca será lembrado de forma heróica, mas sim revelando a covardia que existiu naquele momento. Calar-nos nus para não incomodar, perdedores de um amor que o esquecimento arrastará.