As pessoas boas nem sempre foram alegres

As pessoas boas nem sempre foram alegres

Última atualização: 16 fevereiro, 2022

As pessoas boas nem sempre foram alegres. No seu coração se escondem diversas inquietações e decepções que costumam disfarçar com sorrisos cheios de proximidade. Porque a bondade é uma virtude que caracteriza todos aqueles capazes de entender que a tristeza também tem um sentido restaurador, e que além disso, serve para que sejamos mais sensíveis à dor alheia.

Na bondade, querendo ou não, sempre se escondem algumas gotas de morna tristeza, a necessária para focarmos no que é importante, para depurar ilusões e saber “quem sim e quem não”. Agora, se existe uma coisa que caracteriza as pessoas boas ou nobres, é que na sua tristeza não cabe o ressentimento ou a amargura. Jamais usam o rancor para ferir a outros.

Se nos limitarmos a esperar um grande gesto de bondade para crer na nobreza das pessoas, não conseguiremos nada. A bondade precisa partir de nós mesmos, sendo grandes nos pequenos detalhes do dia a dia.

Uma coisa curiosa sobre este tema que o psicólogo Antoni Bolinches sugere no seu livro “O segredo da autoestima” é que a bondade, apesar de ser uma fonte essencial de gratificação e autoafirmação, também é uma desvantagem para o sucesso social. A razão disto está em que, às vezes, quem age com “coerência ética” nem sempre é bom competindo com outros.

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As pessoas boas, uma luta contínua para preservar a sua essência

Não vamos entrar aqui no tradicional debate sobre o homem ser bom por natureza ou tornar-se bom com o tempo. O que está claro é que as pessoas boas lutam todos os dias para manter a sua essência. Estamos em um mundo onde o sucesso está ligado à competição, e no qual a nobreza é relacionada à “fragilidade”. Tudo isso nos faz cair muitas vezes em um tipo de neurose social muito complexa.

As pessoas com ideais nobres, preocupadas com o próximo e consigo mesmas, não são muito comuns. Agora, isso não significa que o resto das pessoas seja “ruim”. Não devemos ver a nossa realidade em termos absolutos de branco ou preto, ou bom ou ruim; a psicologia humana não funciona desta forma. Existem diversos tons e trajetos pessoais que nos permitem ver o mundo de uma forma ou de outra.

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A bondade, uma trajetória interior que também foca no exterior

A bondade não apenas faz parte de uma trajetória interior, pois o seu reflexo também pode ser visto do exterior:

  • Atualmente, vivemos no que alguns denominam como a era do “autoconhecimento desmedido”. Trata-se de um interesse quase exagerado em se conhecer e a se dedicar a si mesmo exclusivamente como meio para alcançar a felicidade.
  • Este “materialismo espiritual” se caracteriza por constantemente se perguntar “por que não sou feliz” ou “por que não tenho conseguido o que desejo” caindo pouco a pouco na obsessão onde simplesmente nos esquecemos de viver e, pior ainda, nos desligamos daqueles que nos rodeiam.
  • Por sua vez, aquelas pessoas de gestos nobres, também passaram por essa etapa de “autoconhecimento”. Tiveram que superar uma fase para curar as feridas, aliviar decepções, curar uma ou outra traição e, acima de tudo, se aceitarem.

Contudo, logo após se encontrar, se curar, também olham para o exterior para se dedicar aos outros como fizeram consigo mesmos. A sua sensibilidade os faz se reencontrar com aqueles que os rodeiam para ajudar, para trazer felicidade. Porque essas são as suas raízes, essa é a sua essência…

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A bondade também precisa de espaço próprio

A nobreza, a bondade, o respeito e a gratidão, além de serem virtudes, são forças. Apesar de serem traços que todas as pessoas possuem em maior ou menor medida, é interessante considerar que quem as assume como próprias e as pratica com freqüência se beneficia, além disso, de uma boa saúde tanto física quanto mental.

As pessoas boas gozam de uma sensação de bem-estar cada vez que ajudam ou investem os seus esforços nos outros, porque no seu cérebro se ativa um circuito neuronal associado ao prazer e à recompensa. Além disso, são secretadas diferentes “substancias químicas” associadas à felicidade, como a dopamina e a oxitocina.

Uma coisa tão simples como maximizar as nossas potencialidades solidárias nos faz entrar em um círculo virtuoso onde contribuímos para que os outros sintam o mesmo bem-estar. Agora, uma coisa fundamental que não deveríamos esquecer é que a bondade também precisa de espaços próprios e limites mediante os quais “preservar a sua integridade”.

Ser bom não é sinônimo de ser ingênuo. Ser bom é essa virtude que os ingênuos e aqueles que se fazem chamar de sábios jamais entenderão.

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O psicólogo cognitivo Paul Bloom, professor da Universidade de Yale e colaborador da revista “Nature and Science”, explica que às vezes a relação entre empatia, bondade e compaixão traz altas doses de sofrimento.

  • Um excesso de empatia nos conduz a sofrer um elevado nível de dor emocional por aqueles que nos rodeiam a ponto de ficarmos esgotados ou padecermos de algum tipo de doença mental. Portanto, é necessário estabelecer um limite prudente e saudável.
  • Também é preciso controlar o nosso papel de “salvadores”: não podemos ajudar o mundo todo, nem é recomendável carregar todas as cargas alheias esperando que assim as coisas se solucionem. De fato, nem sempre funciona.
  • Às vezes quem tenta “salvar” a todos esquece de salvar a si mesmo. Principalmente porque os outros acabam deixando-o cair. Não permita isto, há momentos em que um “não” a tempo é a solução mais inteligente, e nem por isso você será uma pessoa ruim, porque as pessoas boas também são capazes de cuidar de si mesmas colocando limites, para depois darem o melhor aos outros quando for verdadeiramente necessário.
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Imagens cortesia de Mi-Kyung Choi.


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