3 estratégias para reduzir os preconceitos

3 estratégias para reduzir os preconceitos
Roberto Muelas Lobato

Escrito e verificado por o psicólogo Roberto Muelas Lobato.

Última atualização: 29 dezembro, 2022

Todos temos preconceitos. Os preconceitos são atitudes, positivas ou negativas, em relação a grupos ou a seus membros, que utilizamos para avaliar e rotular as pessoas que não conhecemos. Por exemplo, se ao conhecermos um cigano pensarmos que os ciganos tocam violão bem, nossa interação com ele estaria determinada por essa crença prévia de que ele seria um bom músico. Os preconceitos servem para manter as hierarquias de status entre os grupos, mas, felizmente, existem diferentes maneiras de reduzir os preconceitos.

Acredita-se que os preconceitos têm três componentes: Um componente cognitivo, os estereótipos, que representam as imagens mentais que temos dos membros de um determinado grupo. Um outro componente é o afetivo, as emoções e sentimentos que são despertados. O último componente é o comportamental, representado pela discriminação, pelas atitudes negativas em relação ao grupo contra o qual temos preconceitos.

Visto que os mesmos são atitudes em relação a grupos ou a seus membros, diferentes formas de reduzir os preconceitos vêm sendo desenvolvidas pela psicologia social, baseadas nas teorias da categorização e da identidade social.

Redução de preconceitos através da recategorização

As pessoas tendem a categorizar, a dividir as pessoas em categorias. Esta categorização faz com que favoreçamos mais aqueles que incluímos na nossa própria categoria, criando assim preconceitos contra os membros das outras. Por isso, aumentar a flexibilidade dos limites das categorias reduzirá os preconceitos. Neste sentido, há ao menos três possibilidades:

  • A descategorização: consiste em ver os membros de outras categorias enquanto indivíduos. Desta forma, o preconceito será reduzido. Se, ao invés de enxergar uma pessoa como um membro de um país, a enxergarmos como um indivíduo independente, as atitudes serão mais positivas.
  • A categorização cruzada: consiste em ressaltar as categorias em comum a que possam pertencer os membros de dois grupos em conflito. Ao fazer com que as pessoas sejam conscientes das categorias que compartilham, as atitudes em relação a estas outras pessoas seriam mais favoráveis. Podemos ter diferentes religiões, mas, apesar disso, compartilhar gênero e nacionalidade.
  • A recategorização: consiste em criar uma nova categorização, que englobe os membros de diferentes categorias ao mesmo tempo. Por exemplo: não somos espanhóis ou franceses, mas sim europeus.
Reduzir os preconceitos através de uma identidade grupal comum

“Eu sou como eu sou e você é como você é, vamos construir um mundo onde eu possa existir sem deixar de ser eu, onde você possa existir sem deixar de ser você, e onde nem eu nem você obriguemos o outro a ser como eu ou como você”.
-Subcomandante Marcos.

Reduzir os preconceitos através de uma identidade grupal comum

Esta última estratégia, a recategorização, é a que mais foi estudada. Uma vez que categorizar leva à formação de identidades, se me categorizo como mulher, formarei uma identidade de mulher. Deste modo, para incentivar a recategorização, seria necessário criar novas identidades mais inclusivas. Identidades que englobem tanto a minha identidade quanto as dos outros.

Por exemplo, se a minha identidade é a de mulher e a sua é a de homem, eu irei favorecer mais o meu grupo, as mulheres, e terei preconceitos contra os membros do seu grupo, os homens. Se, ao contrário, ambos nos identificamos com a identidade de feministas, então irei favorecer tanto aos homens quanto às mulheres.

Ter uma identidade em comum faz com que aumentem os comportamentos de ajuda e cooperação. Portanto, quanto mais pessoas fizerem parte da identidade, maiores serão os benefícios para o grupo. Além disso, retornando ao exemplo anterior, as identidades iniciais não seriam perdidas. Continuaríamos sendo mulheres e feministas ou homens e feministas. Desta forma, teríamos uma dupla identidade e, ainda que existisse outro grupo com outra identidade, eles seriam membros do nosso grupo ao mesmo tempo. O problema é que as identidades sociais não se ativam todas de uma vez, apenas aquela que for a mais importante naquele momento será ativada.

Reduzir os preconceitos através do contato

Reduzir os preconceitos através do contato

A hipótese do contato está muito relacionada às estratégias de categorização para reduzir os preconceitos. Esta teoria afirma que é possível reduzir os preconceitos quando se aumenta o contato entre membros de vários grupos sociais, ou quando se sabe que membros do próprio grupo têm relações próximas com membros de outros.

Entretanto, a hipótese do contato parece apenas funcionar mediante algumas condições específicas que favoreçam o contato entre os membros de diferentes grupos sociais.  São quatro as condições:

  • Deve existir apoio total, tanto social quanto institucional, no momento de promover o contato.
  • O contato deve ser prolongado. Deve haver tempo suficiente para que as relações entre os membros dos grupos sejam significativas.
  • Os participantes, as pessoas entre as quais se dá o contato, devem ter um status similar. A condição dos grupos deve ser a mesma.
  • Os grupos envolvidos devem ter objetivos em comum, de forma que estes interesses compartilhados gerem relações de cooperação.

Resumindo, há diversas formas de reduzir os preconceitos. Aparentemente, criar uma categoria como “humanos”, a partir da qual se gere uma identidade de humanos, seria o ideal. Esta seria a forma perfeita de reduzir o preconceito.

Entretanto, a dificuldade em fazer com que as pessoas se identifiquem como humanas e que esta seja sempre a identidade mais importante complica a viabilidade desta opção. Talvez um inimigo em comum, de outro planeta, faria com que nos identificássemos como humanos ou terráqueos, e assim o preconceito acabaria. É algo possível, porém improvável.


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