A curiosa síndrome da cabeça explosiva, um tipo de parassonia
Há pessoas que experimentam uma explosão repentina quando entram ou saem do sono profundo. Porém, esse som inesperado não vem do quarto ou da casa onde estão dormindo. A síndrome da cabeça explosiva ou choque craniano episódico é um distúrbio do sono que causa a percepção de um forte som interno durante o estado onírico.
A imagem por si só, sem dúvida, evoca um filme de David Lynch. Trata-se de algo estranho e até mesmo assustador. Além disso, as pessoas afetadas descrevem esses sons como extremamente fortes e avassaladores. No entanto, embora seja verdade que esse fenômeno seja algo curioso dentro do mundo das parassonias, trata-se de uma alteração mais recorrente do que pensamos.
Existem estudos que indicam que cerca de 40% das pessoas já experimentaram esse raro distúrbio do sono em algum momento da vida. Destas, 5% indicam que são afetadas entre uma e duas vezes por semana. Por que isso acontece? Qual seria a origem? É possível tratar de alguma forma? Vamos analisar a seguir.
A síndrome da cabeça explosiva não representa nenhum risco para a saúde. Também não se deve a qualquer doença neurológica; porém, geralmente causa grande ansiedade e medo nas pessoas afetadas.
Síndrome da cabeça explosiva: características, causas e tratamento
Um dos estudos mais recentes sobre a síndrome da cabeça explosiva foi realizado na Universidade King Saud, na Arábia Saudita. Foi definida como um tipo de parassonia pouco reconhecido que cursa com um ruído alto e repentino quando a pessoa acaba de adormecer ou está prestes a acordar. Esse som é semelhante a uma alucinação auditiva.
Concluiu-se que é uma condição benigna e que pode ser tratada de forma eficaz com a amitriptilina (um tipo de antidepressivo). No entanto, dentre toda a literatura científica, também cabe destacar outro trabalho realizado a nível internacional em colaboração com várias universidades importantes. Foi a revista BBC Science Focus que propôs esta pesquisa para entender esse fenômeno de forma aprofundada.
Como se manifesta?
Um episódio da síndrome da cabeça explosiva dura menos de um segundo. A pessoa experimenta um som semelhante a um estrondo intenso, a uma explosão interna e mental. Ou seja, não há dúvida em nenhum momento de que se trata de um fenômeno psicológico e que essa explosão não vem de algo externo ou ambiental.
- Esta experiência não envolve nenhum tipo de dor.
- Às vezes, podem ocorrer flashes de luz e até mesmo uma sensação de formigamento no corpo.
- A sensação de que “a cabeça está explodindo” é acompanhada por um estado de ansiedade e nervosismo. De fato, é comum sentir taquicardia e sensação de sufocamento.
- Esse distúrbio do sono aparece com maior frequência quando a pessoa se esforça para adormecer. No momento em que consegue, ela acorda com o som de uma explosão. É algo muito parecido com quando acordamos porque sonhamos que estamos caindo.
- A síndrome da cabeça explosiva é mais comum em mulheres.
Esse tipo de fenômeno geralmente é vivenciado como algo dramático e aterrorizante. Embora seja uma parassonia inofensiva e sem qualquer origem neurológica, a pessoa afetada pode sofrer de sérios problemas para adormecer por causa do medo de vivenciar essa síndrome novamente.
Qual é a causa da síndrome da cabeça explosiva?
Esta síndrome foi descrita pela primeira vez em 1870 e, até o momento, não existem dados conclusivos sobre a origem e a causa que a determina. Porém, embora atualmente ainda se desconheça a etiologia, existem dois fatores que se correlacionam de forma significativa: estresse e fadiga.
Geralmente, os pacientes que apresentam a síndrome da cabeça explosiva relatam ter sentido medo e ansiedade intensa durante o sono. Portanto, poderíamos considerar a possibilidade de que um estado mental de angústia permanente e de estresse sustentado ao longo do tempo estariam por trás desse fenômeno.
Outro fato que também poderíamos adicionar a essa variável é uma alteração orgânica: um movimento brusco em alguma parte da orelha média ou da trompa de Eustáquio. Também se observa uma certa relação com a enxaqueca. Entretanto, seriam necessários mais estudos para identificar com segurança as variáveis que estariam por trás dessa experiência (inofensiva, porém perturbadora) que afeta uma pequena parte da população.
É importante ressaltar que a síndrome da cabeça explosiva é um fenômeno real que não é causado por alterações psicopatológicas ou neurológicas. Assim, devemos dar total crédito àqueles que sofrem com o problema.
Como tratá-la?
Conforme apontamos, demonstrou-se que o tratamento com antidepressivos reduz completamente o aparecimento desse tipo de parassonia. No entanto, antes de recorrer às drogas psicotrópicas, é importante salientar que também já se observaram melhorias claras fornecendo às pessoas técnicas de gerenciamento do estresse e de relaxamento.
A complexidade da síndrome da cabeça explosiva está no fato de que ela aumenta o descanso noturno inadequado. Então, essa falta de sono reparador aumenta o estresse e, como consequência, o risco óbvio de passar por essa experiência aterrorizante com maior frequência. A chave seria, em todos os casos, a introdução de habilidades para gerenciar o estresse e para melhorar a higiene do sono.
Para concluir, cabe destacar apenas um fato inegável. O mundo das parassonias é tão extenso quanto complexo. Assim, diante de qualquer alteração ou experiência incomum durante o nosso descanso noturno, não devemos hesitar em consultar um especialista.
Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.
- Denis D, Poerio GL, Derveeuw S, Badini I, Gregory AM. Associations between exploding head syndrome and measures of sleep quality and experiences, dissociation, and well-being. Sleep. 2019 Feb 1;42(2). doi: 10.1093/sleep/zsy216. PMID: 30544141.
- Frese, Achim; Summ, Oliver; Evers, Stefan (1 de septiembre de 2014). «Exploding head syndrome: Six new cases and review of the literature» Cephalalgia (en inglés) 34 (10): 823-827. ISSN 0333-1024. doi:10.1177/0333102414536059
- Pearce, JM (30 de julio de 1988). «Exploding head syndrome». Lancet 2 (8605): 270-1. PMID 2899248
- Pirzada AR, Almeneessier AS, BaHammam AS. Exploding Head Syndrome: A Case Series of Underdiagnosed Hypnic Parasomnia. Case Rep Neurol. 2020 Oct 8;12(3):348-358. doi: 10.1159/000509344. PMID: 33173495; PMCID: PMC7590748.
- Sharpless BA. Exploding head syndrome. Sleep Med Rev. 2014 Dec;18(6):489-93. doi: 10.1016/j.smrv.2014.03.001. Epub 2014 Mar 13. PMID: 24703829.