Como a mente nos engana quando temos o coração partido

Como a mente nos engana quando temos o coração partido
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

Assim como seus ossos podem se quebrar, você também pode ficar com o coração partido. Quando isso acontece, a mente nos engana, nos arrasta para uma fase de desespero, onde nos apegamos a qualquer sopro de esperanças pequenas e impossíveis. No entanto, pouco a pouco o coração se conforma e a mente se acalma, retorna ao lugar onde nos reconciliamos com a dignidade para superar o luto.

Somente como uma curiosidade, nos anos 70, uma das músicas mais tocadas era dos Bee Gees que dizia assim: “Como curar um coração partido? Como evitar que a chuva caia ou que o sol brilhe? “… Havia nessas letras um pequeno sopro de desespero, deixando vislumbrar que a falta de amor é aquela ferida que aparentemente nunca se cura.

“É melhor ter amado e perdido, do que nunca ter amado”.
– Alfred Lord Tennyson –

Outro aspecto interessante que tem sido estudado pelos psicólogos sociais é o fato de que as pessoas, em média, temem muito mais a dor social e/ou emocional do que a dor física. Por exemplo, quebrar um ou vários ossos não nos assusta tanto quanto sofrer uma decepção, uma mentira ou uma ruptura afetiva. Além disso, o nosso corpo sabe muito bem o que fazer e como reagir diante de uma lesão física ou uma infecção.

No entanto, quando um relacionamento termina, o corpo e a mente ficam bloqueados. Além disso, os especialistas dizem que o cérebro interpreta essa separação como uma queimadura. Ou seja, a dor emocional é experimentada pelo cérebro da mesma forma que uma ferida física, no entanto, não sabemos muito bem como “reparar” esse impacto. Por isso, a mente entra por um tempo em um processo de contradições, falsas esperanças, raciocínios sem sentido…

Casal unido

Como a mente nos engana quando temos o coração partido?

A mente nos engana, mas faz isso sem que percebamos. Age dessa forma porque está ferida, perdida e apegada ao coração fragmentado que não sabe como gerenciar a rejeição, o adeus a um amor que até pouco tempo era tudo. Quando isso acontece, ficamos presos numa rede complexa de mecanismos de defesa onde negamos tudo o que aconteceu. Além disso, ocorrem no cérebro processos ainda mais sofisticados e adversos.

O nosso córtex somatossensorial secundário e a ínsula dorsal posterior são intensamente ativados. Essas estruturas estão ligadas à dor física, uma vez que, como já mencionamos anteriormente, o sofrimento emocional é experimentado da mesma forma que o sofrimento físico. Tudo isso faz com que não possamos pensar com clareza. Vejamos agora como geralmente fazemos isso.

1. Perdi a pessoa mais importante da minha vida

A dor emocional provoca angústia e a angústia procura refúgios, busca recantos e aspectos onde possa atenuar o seu desespero. Nesta fase posterior à ruptura, é comum que surjam esses pensamentos idealizados, mas prejudiciais, onde podemos dizer coisas como: “Perdi a pessoa mais importante da minha vida, a única que poderia me fazer feliz”.

A sua mente está confusa e o engana. A pessoa mais importante da sua vida é você. O seu ex-parceiro foi alguém importante durante uma fase que já terminou, e isso é algo que é preciso assumir.

2. Eu fiz algo errado, preciso lhe dizer que “eu posso mudar”

A negação é a primeira fase do luto e é aqui que nos apegamos inevitavelmente a pensamentos contraditórios. O sentimento de culpa aparece, dizemos a nós mesmos que negligenciamos o relacionamento, que fizemos algo errado que ainda pode ser reparado.

A partir daí, tentamos quase que obsessivamente convencer a outra pessoa de que devemos tentar novamente, apagar o passado, reiniciar “porque o nosso amor não pode acabar assim”. A mente o engana, o seu coração dói e as boas intenções o atropelam enquanto você mantém uma venda nos olhos: a outra pessoa já não o ama mais e, diante dessa realidade, não há espaço para novas tentativas.

3. A obsessão de se conectar e ter notícias dessa pessoa

Vivemos na era da comunicação imediata, do reforço instantâneo, da incapacidade de tolerar a frustração… Como posso aceitar que a pessoa amada já não me escreva mais mensagens? Como posso entender que ela me bloqueou, que não quer mais saber de mim?

A nossa mente inventará mil desculpas para explicar o seu silêncio, a sua recusa ou a demora no momento de nos responder. Além disso, planejará mil estratégias para enviar uma última mensagem ou proposta desesperada. Essas dinâmicas destrutivas durarão até que a dignidade nos diga “basta”. Nesse momento tomaremos as providências necessárias, como excluir o nosso ex-parceiro da lista de contatos e das redes sociais.

“Às vezes, quando uma pessoa se vai, o mundo parece vazio”.
– Lamartine –

4. A minha vida nunca mais será a mesma

Esta afirmação é verdadeira, a nossa vida não será mais a mesma depois de sofrer essa perda emocional. No entanto, a mente nos engana quando sussurra em voz baixa e de forma constante que a felicidade se afastou de nós, que nunca encontraremos outro amor, que nunca encontraremos alguém como a pessoa que nos deixou.

Esses pensamentos são uma forma absurda de tortura mental. Claro, a vida não será a mesma, será diferente, será nova e será muito melhor, porque não teremos ao nosso lado alguém que simplesmente não nos ama. Ou sim, mas de forma equivocada.

5. Eu preciso saber por que ele deixou de me amar

Será que existe uma razão clara, objetiva, tangível e milimétrica pela qual deixamos de amar alguém? Nem sempre. Podemos ficar obcecados com isso e até nos desesperarmos, mas às vezes o amor acaba sem que saibamos muito bem o porquê.

Pode haver uma segunda pessoa, pode haver muitos detalhes que nos incomodam, mas na maioria das vezes o desamor não pode ser traduzido em palavras… Nestes casos, só nos resta a aceitação e, acima de tudo, a honestidade da pessoa que deixou de amar. É preciso deixar claro que não há mais volta e nem um futuro juntos.

Pintura de mulher e homem

Para concluir, sabemos que nem sempre podemos confiar na nossa mente quando temos o coração partido. No entanto, na maioria das vezes esse sentimento e esses questionamentos fazem parte do próprio luto. A aceitação do que aconteceu colocará ordem no meio do caos e aos poucos você retornará a sua vida normal. Não deixe que uma experiência ruim estrague a sua vida futura. Viva todas as etapas, curta o processo e inicie uma tarefa delicada e essencial: curar o seu coração.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.