A relação entre mente e corpo segundo a filosofia

A mente e o corpo são entidades separadas ou estão intrinsecamente ligados? No artigo a seguir, exploraremos as diferentes teorias filosóficas que tentam responder a essas perguntas.
A relação entre mente e corpo segundo a filosofia
Matias Rizzuto

Escrito e verificado por o filósofo Matias Rizzuto.

Última atualização: 14 julho, 2023

O problema da relação entre a mente e o corpo é tão antigo quanto a própria filosofia. Ao longo da história, inúmeras abordagens foram propostas para abordar essa questão fundamental. Apesar disso, ainda não há um consenso definitivo sobre como a mente e o corpo se relacionam. Dificuldades surgem na tentativa de estabelecer uma relação satisfatória entre as propriedades físicas e mentais.

Embora os aspectos físicos sejam observáveis e mensuráveis, os mentais introduzem elementos como consciência ou identidade pessoal, difíceis de serem avaliados por um observador. Isso tem gerado debates apaixonados e suscitado reflexões profundas sobre nossa natureza como seres conscientes. Descubra os postulados mais relevantes a esse respeito neste texto.

Relação entre mente e corpo: filosofia dualista ou monista?

Quando olhamos para nossa própria experiência, fica claro que mente e corpo estão interligados. Seu relacionamento e influência mútua confundiram filósofos, cientistas e pensadores ao longo dos séculos. As duas abordagens mais conhecidas para o estudo da filosofia são o dualismo e o monismo.

O debate entre essas duas conceituações filosóficas é um dos mais antigos e persistentes da disciplina. Ambas as teorias apresentam argumentos convincentes e desafios significativos, e cada uma influenciou nossa compreensão da mente e do corpo de maneiras diferentes.

O dualismo sustenta que a mente e o corpo são entidades separadas e de natureza diferente. Essa visão pode explicar nossas experiências subjetivas e a aparente diferença entre processos mentais e físicos.

Agora, o dualismo enfrenta o desafio de explicar como essas duas entidades tão diferentes podem interagir uma com a outra. Este último tem sido chamado de problema de interação.

Por outro lado, o monismo sustenta que a mente e o corpo são aspectos da mesma realidade. Essa visão abrange o problema da interação, argumentando que a mente e o corpo não são entidades separadas que precisam interagir, mas são manifestações da mesma substância.

No entanto, o monismo enfrenta seu próprio conjunto de desafios. Por exemplo, o monismo materialista explica como os processos físicos podem dar origem à experiência subjetiva, ou seja, como surge a consciência.

Ambas as perspectivas levantam questões sobre a relação entre mente e corpo e têm seus próprios problemas como teoria. Algumas das questões mais debatidas são: como a mente e o corpo interagem? Quais mecanismos estão por trás dessa relação? Uma entidade não física, como a mente, pode influenciar um organismo físico? uma ilusão gerada pelo cérebro?

O dualismo mente e corpo

A ideia de dualismo remonta aos tempos de Platão e Aristóteles. No entanto, foi René Descartes, um filósofo francês do século XVII, que o popularizou. Descartes argumentou que existe uma interação entre uma realidade física, o corpo, e uma realidade espiritual, a mente.

Essa forma de dualismo, exposta em um artigo da revista Universitas Psychologica como dualismo cartesiano, tem sido uma das teorias mais influentes na filosofia da mente. Também é chamado de dualismo de substâncias, pois sustenta que o corpo e a mente são dois tipos diferentes de elementos.

Por outro lado, o Dicionário Interdisciplinar Austral menciona o dualismo de predicados, que pode ser entendido como uma forma fraca de substancialismo. Afirma-se que, embora haja certa relação, as propriedades mentais não podem ser predicadas, de maneira direta, das propriedades do cérebro.

Em um artigo na revista Philosophical Studies  Aponta-se que as complexas interações que a mente teria com os neurônios ainda não podem ser explicadas teoricamente. Ou seja, existem experiências mentais que não podem ser reduzidas a  simples fenômenos físicos.

Suponhamos que alguém olhe para uma cor enquanto um neurocirurgião olha para o cérebro. Mesmo que ele pudesse reconhecer a área do cérebro que está ativada, não teria nenhuma informação sobre a percepção e a experiência subjetiva que está ocorrendo na mente do sujeito.

Há também o dualismo de propriedades, que pode ser considerado uma versão forte do dualismo de predicados, pois admite que as propriedades do cérebro e da mente são radicalmente diferentes e que não há relação causal entre elas.

A mente é qualitativamente diferente do corpo e não pode ser reduzida a estados cerebrais. Por sua vez, existem diferentes formas de dualismo, algumas que dão mais importância à interação entre mente e corpo, e outras que elevam a sua independência.

Interacionismo

Essa teoria sustenta que a mente e o corpo têm uma influência causal mútua, ou seja, os eventos mentais afetam os eventos físicos e vice-versa. Essa ideia é baseada em nossa vida cotidiana, onde o mundo físico influencia nossas percepções e reagimos comportamentalmente a essas experiências. Além disso, nosso pensamento também se manifesta em nossas ações e palavras.

Embora haja forte suporte intuitivo para o interacionismo, essa teoria enfrenta o problema de explicar como a interação ocorre.

Monismo da mente e do corpo

Monismo é uma teoria filosófica que sustenta que a mente e o corpo não são entidades separadas, mas que ambos constituem uma unidade. Essa visão contrasta com a do dualismo, que considera que a mente e o corpo não são a mesma coisa. Existem várias formas de monismo, mas as mais relevantes para a filosofia da mente são o monismo materialista e o monismo idealista.

O monismo oferece uma solução para o problema de interação colocado pelo dualismo: se a mente e o corpo são aspectos da mesma realidade, então não há necessidade de explicar como eles interagem um com o outro. No entanto, o monismo também enfrenta desafios, como explicar como os processos físicos podem dar origem à experiência subjetiva.

Materialismo

De acordo com um artigo da revista Cuadernos de neuropsicología, o monismo materialista sustenta que tudo o que existe é material ou físico, incluindo a mente. De acordo com essa visão, os processos mentais são processos físicos que ocorrem no cérebro.

Essa teoria ganhou popularidade com o avanço da neurociência, que mostrou como diferentes aspectos da mente, por exemplo, pensamentos, emoções e percepções, podem ser associados à atividade cerebral.

O materialismo nos leva a nos perguntar: a mente é apenas uma ilusão gerada pelo cérebro? Tudo o que se refere à experiência subjetiva pode ser reduzido a processos físicos e químicos?

Idealismo

O monismo idealista sustenta que tudo o que existe é mental ou espiritual. De acordo com essa visão, a realidade física é uma construção da mente. Embora essa forma de monismo seja menos popular na filosofia da mente contemporânea, ela teve uma influência significativa na filosofia oriental e em algumas escolas de psicologia.

A influência da filosofia na psicologia e na neurociência

O debate entre dualismo e monismo também teve um impacto significativo em campos como a psicologia e a neurociência. Por exemplo, tratar a mente como uma entidade separada que pode ser estudada independentemente do corpo é útil para a psicologia cognitiva.

Por outro lado, o monismo influenciou a neurociência cognitiva, que busca entender a mente estudando o cérebro e seus processos físicos. Tanto que um artigo da Frontiers in Education sugere que alguns aspectos da neurociência poderiam ser ensinados como parte do programa de humanidades.

O debate ainda continua

Sem dúvida, a relação entre mente e corpo continuará gerando debate no campo da filosofia, dadas as dificuldades que existem em analisar a ligação entre propriedades físicas e mentais.

Agora, tanto o dualismo quanto o monismo oferecem perspectivas valiosas sobre esse relacionamento. Embora cada teoria tenha seus desafios, ambas contribuíram para nossa compreensão da mente. No entanto, este continua sendo um dos mistérios mais profundos da consciência humana.


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