A sexualidade dura a vida toda

A sexualidade não se limita à idade adulta, mas dura toda a nossa vida. Como muitos conceitos sexológicos, este termo foi sendo difamado com a passagem do tempo até quase perder seu significado. Refletindo sobre a sexualidade, descobriremos por que é algo inerente à nossa condição humana.
A sexualidade dura a vida toda
Alberto Álamo

Escrito e verificado por o psicólogo Alberto Álamo.

Última atualização: 29 dezembro, 2022

Costuma-se dizer que a sexualidade é “coisa de adultos”. Embora esteja presente na vida adulta, não se adere exclusivamente a esse estágio vital, mas está presente em todos.

Talvez isso possa ser melhor compreendido se definirmos e descrevermos o que é a sexualidade. Já sabemos que os termos sexológicos são muito utilizados, mas, ao mesmo tempo, têm sido tão difamados ao longo da história que alguns deles merecem uma reflexão, como o próprio conceito de “sexo”. Vamos nos aprofundar.

O que é e, acima de tudo, o que não é sexualidade

A sexualidade não é sinônimo de orientação sexual. No entanto, muitas pessoas confundem estes conceitos. Assim, os termos “condição sexual”, “escolha sexual” e “sexualidade” são frequentemente utilizados para referir-se à orientação sexual do desejo erótico (comumente chamada de orientação sexual).

Esses termos não são sinônimos, nem entre si, nem de sexualidade. A orientação sexual não é uma opção, uma vez que as opções são escolhidas e a orientação sexual não se escolhe. A orientação sexual também não é uma condição, porque não condiciona absolutamente nada.

O que é e, acima de tudo, o que não é sexualidade

A sexualidade, como conceito, refere-se à “qualidade com que os indivíduos vivem como sujeitos sexuados”, segundo o Instituto de Sexologia INCISEX. Ou seja, é a expressão de homens e mulheres de sua forma de sentir e viver como homens e como mulheres.

Os homens e as mulheres são sexuados; ‘temos’ sexo, em termos de identidade sexual. Além disso, há infinitas formas de ser homem e infinitas formas de ser mulher, e a maneira como os homens e mulheres expressam essas formas é definida pela sexualidade.

Sexualidade e sexuação

A sexologia, em seu âmbito mais teórico, é responsável por estruturar este e muitos outros conceitos, dando-lhes harmonia e coerência. Por isso, a sexualidade (e muitos outros conceitos provenientes da palavra ‘sexo’) não possui uma relação direta com as relações eróticas, como se acredita popularmente.

A sexualidade está mais relacionada a outro conceito: a sexuação. Assim, trata-se do processo constante de nos definirmos e redefinirmos como homens e como mulheres. Isso começa antes do nascimento (na gestação) e termina com o fim da vida.

A sexuação não é um processo exclusivamente biológico, mas biográfico. Está sujeito a todo tipo de influência que nos configura como seres sexuados, com nossos modos e nossas nuances e peculiaridades.

Portanto, a sexuação e a sexualidade fazem parte do nosso ser pelo simples fato de sermos seres sexuados. Isso significa que um e outro estão presentes em nossa vida o tempo todo.

Na infância e na velhice

Considerando que este conceito não é, talvez, o que as pessoas têm em mente, podemos ir um pouco mais fundo. Assim, contamos com esta expressão de ‘ser sexuado’ por toda vida. No entanto, essa expressão muda de acordo com o estágio vital em que nos encontramos.

Costuma-se ignorar a sexualidade infantil e da velhice por motivos muito diferentes com um denominador comum: a ignorância. Se entendermos este conceito a partir de seu significado real, vetar a sexualidade na infância ou na velhice não teria muito sentido.

Sexualidade na infância e na velhice

A sexualidade na velhice é uma bela expressão, porque homens e mulheres mais velhos a expressam a partir da vivência de um caminho que lhes deu sabedoria, experiência. É fato que também existe um veto à sexualidade na velhice por uma questão cultural. No ocidente, temos muito a melhorar quanto à visibilidade e ao respeito pelos idosos. Talvez nos educarmos sobre as outras culturas e ver como esse estágio da vida é concebido nos faça aprender.

Por outro lado, a sexualidade na infância é igualmente bela, mas por outras razões. Assim como a velhice nos dá experiência, a sexualidade na infância ocorre em um contexto de inocência e descoberta. O mais bonito é que, nesta fase da vida, não estamos contaminados com praticamente nenhuma influência social. Sendo pequenos, nos expressamos sem tabus, sem filtros, a partir da nossa curiosidade sobre o mundo que nos rodeia.

Para acabar com os estereótipos e tabus que cercam conceitos como a sexualidade, é fundamental aprofundá-los e entendê-los. São necessárias mais abordagens sobre a educação sexual. Só assim poderemos desestigmatizar todas as manifestações que formam o ato sexual humano.


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