Acordar pela manhã: o momento mais difícil para a pessoa com depressão

Acordar pela manhã: o momento mais difícil para a pessoa com depressão

Última atualização: 20 maio, 2017

A anatomia da depressão é diferente, única e exclusiva em cada pessoa. No entanto, no meio desses terríveis labirintos privados de escuridão há um elemento comum a todas as pessoas: os sintomas desta doença são devastadores pela manhã, quando o dia começa e a pessoa se sente impotente, sem vontade, sem fôlego…

Os pacientes que sofrem deste distúrbio em todas as suas variedades (depressão maior, transtorno distímico, associada ao luto…), também têm uma ideia em comum. Eles gostariam de ter outro tipo de doença cujos sintomas fossem mais visíveis, físicos. Dessa forma, o sofrimento seria mais óbvio e poderiam contar com mais compreensão das outras pessoas.

“Quanto maior a ferida, mais privada é a dor”.
 – Isabel Allende –

Digamos, por exemplo, que alguém diz algo tão categórico como: “Eu sou incapaz de me levantar de manhã”. Isto dá ao psicólogo ou médico uma pista clara sobre o que pode estar acontecendo com essa pessoa. No entanto, aos olhos dos colegas de trabalho, amigos ou até mesmo da família, algo assim pode ser interpretado como descuido, preguiça ou até mesmo uma desculpa para não assumir as suas responsabilidades pessoais e de trabalho.

Não é fácil. A depressão é semelhante ao impacto de um ciclone interno: devasta e muda tudo. Grande parte dos nossos processos corporais se desaceleram, o metabolismo muda, a percepção da nossa realidade se transforma e essa neuroquímica causa o que é conhecida como “variação diurna de humor”.

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Bom dia depressão, mais uma vez ao meu lado

Andréa tem 46 anos e atualmente está sofrendo uma recaída da sua depressão. Há dois anos, ela conseguiu superá-la com sucesso graças à medicação e à psicoterapia. Ela conseguiu identificar o retorno desta sombra desconfortável na sua vida por um fato muito concreto: ficava cada vez mais difícil se levantar de manhã.  A cada dia se sentia mais apática, desanimada e com muitos pensamentos negativos. Não tinha mais dúvidas: a depressão tinha voltado.

Essa conhecida inimiga geralmente intensifica os seus sintomas nas primeiras horas da manhã por uma série de processos e dimensões muito específicas. São as seguintes:

  • A variação diurna do humor é caracterizada por um despertar carregado de sentimentos negativos, abatimento e muita fadiga física, que geralmente melhoram um pouco no decorrer do dia.
  • De acordo com vários estudos, a maioria das pessoas com depressão tem seus ritmos circadianos alterados. Os hormônios como a melatonina e cortisol são liberados em uma quantidade muito pequena, ou em momentos indevidos. Isto faz com que, por exemplo, a pessoa com depressão sofra de insônia ou até mesmo experimente alguma sonolência diurna.
  • Por sua vez, esta mudança nos ritmos circadianos da pessoa deprimida pode fazer com que ela sinta mais frio na parte da manhã, que experimente um nível de energia muito baixo ou inexistente ou, até mesmo que seja incapaz de reagir a certos estímulos por causa da sua apatia.

Podemos acrescentar outro fator ainda mais debilitante, que é a sensação de não ter forças para enfrentar o dia que está apenas começando. Este desamparo e a certeza de não ser capaz de lidar com as suas responsabilidades aumenta ainda mais a sensação de que estamos perdendo o controle das nossas vidas.

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Como enfrentar o momento mais difícil do dia

Voltamos mais uma vez com a nossa protagonista, Andréa, uma mulher que precisa enfrentar um novo episódio de depressão que não havia planejado e nem esperava experimentar novamente. Embora a depressão seja uma velha conhecida na sua vida, não hesita em voltar para o seu especialista, para que ele receite o medicamento mais adequado para o seu caso.

“Todos nós ignoramos a nossa verdadeira estatura, até que precisamos ficar de pé”.
 – Emily Dickinson –

Algo que deve ficar claro é que as pessoas que experimentam sintomas mais intensos nas primeiras horas do dia precisam de um tipo de tratamento que as ajude a regular certos neurotransmissores que alteram os seus ritmos circadianos. Além do tratamento medicamentoso, Andréa criou uma série de rotinas na sua vida que lhe permitirão lidar melhor com a sua doença.

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Diretrizes para enfrentar os sintomas matinais da depressão

Vale a pena lembrar que tanto a terapia interpessoal como a terapia cognitivo-comportamental podem ser muito úteis para tratar estes tipos de transtornos, aos quais nenhum de nós está imune.

A nossa protagonista decide, em primeiro lugar, ir ao seu médico para realizar uma análise do que está acontecendo. Sabemos que fatos concretos como um problema na função da tireoide, níveis baixos de vitamina B12 ou até mesmo um problema hepático podem causar ou aumentar essa queda de humor e de energia na parte da manhã.

  • Depois, ela estabelece uma rotina diária que começa com uma série alongamentos pela manhã. Antes de levantar e no seu próprio quarto, faz 10 minutos de exercícios suaves de ioga.
  • Em seguida, toma banho e se veste.
  • O que vem depois é tão simples quanto terapêutico: Andréa tem alguém que liga todas as manhãs por telefone para lhe dar coragem, força e energia. No seu caso, é sua mãe. No entanto, cada um de nós pode contar com um amigo que sempre nos apoia, com um irmão ou uma pessoa de referência capaz de nos ajudar, de nos motivar.
  • Andréa toma o café da manhã com calma e sem pressa. Quase nunca está com fome, mas se obriga a fazê-lo, porque ela sabe que o cérebro precisa dessa energia matutina para funcionar melhor.

Por último, mas não menos importante, ela define um tempo para meditar: apenas 15 ou 20 minutos são suficientes. É um momento importante de conexão com você mesmo, onde pode gerenciar um pouco melhor os pensamentos e as emoções negativas. Assim, a nossa protagonista consegue um pouco mais de calma, serenidade e motivação para enfrentar pouco a pouco os desafios do seu dia.

Acreditamos que estas dicas simples também possam ser úteis para você.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.