Adrenalina, o hormônio do rendimento e da ativação

Adrenalina, o hormônio do rendimento e da ativação
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

A adrenalina nos permite atingir a euforia quando praticamos um esporte. Também é ela que nos faz estremecer quando nos sentimos atraídos por alguém. Além disso, esse hormônio nos permite reagir aos perigos do dia a dia. No entanto, além de favorecer nosso rendimento e nossa ativação, a adrenalina também tem um lado obscuro. Um excesso na liberação desse hormônio causa sérios efeitos secundários.

Estamos perante uma substância polivalente, assim como, por exemplo, a dopamina ou a oxitocina. No entanto, a adrenalina, que também desempenha a função de neurotransmissor, é um dos hormônios que mais impacto exerce sobre o nosso comportamento. Por exemplo, é ela que ativa os nossos mecanismos mais instintivos de sobrevivência. Mas também é a adrenalina que nos faz cair em comportamentos de dependência e facilita o aparecimento dos estados de ansiedade ou estresse crônico.

Dia após dia, mais pessoas precisam das suas doses de adrenalina para quebrar a monotonia. Isso pode nos levar a experimentar a vida ao máximo ou nos conduzir a situações de risco na tentativa de preencher nossos vazios.

Como curiosidade, é interessante saber que muitos profissionais que se dedicam à gestão de crises costumam treinar seus clientes para lidar adequadamente com a adrenalina. Para isso, passa-se por uma série de dinâmicas e simulações com grande estresse físico e emocional, com os quais é possível regular os tipos de resposta. A finalidade é simples: treinar as pessoas para que elas não percam o controle e para que a adrenalina se transforme na melhor aliada, nunca em uma inimiga.

Conseguir fazer isso, saber tudo o que esse hormônio é capaz de provocar no nosso corpo e influenciar no nosso comportamento é incrível.  Recomendamos que você descubra a seguir.

Homem correndo uma maratona

Adrenalina, o que é e quais são suas funções

Em 1982, Angela Cavallo, de Lawrenceville, na Georgia, se transformou na mãe do ano. Assim determinou a imprensa depois que ela se tornou conhecida no mundo todo por ter feito algo difícil de acreditar se não fosse a presença de várias testemunhas. O filho dela, Tony, estava na garagem consertando um antigo Chevrolet quando, de repente, o macaco que segurava o carro falhou e o pior aconteceu: o carro desabou em cima do jovem, deixando-o preso.

Angela Cavallo tinha 51 anos e pesava pouco mais de 65 quilos. Ela não frequentava academia, não era muito forte nem teve o hábito de fazer exercícios ao longo da sua vida. No entanto, ao ver os pés do filho embaixo do carro, ela começou a gritar pedindo ajuda aos vizinhos. Percebendo que não teria ajuda de ninguém tão rapidamente, ela não hesitou mais nenhum segundo: correu até o carro de 1.500 quilos e o levantou, como se não fosse nada. Ela o manteve erguido por alguns segundos, tempo suficiente para que os vizinhos chegassem e tirassem o jovem inconsciente debaixo do carro.

Tal feito contém na verdade dois elementos quase mágicos: o amor de mãe e a adrenalina, muita adrenalina. Adrenalina suficiente para que em determinado momento conseguíssemos fazer coisas extraordinárias para garantir a nossa sobrevivência e a dos outros.

O hormônio que nos ativa

A adrenalina pertence ao grupo das catecolaminas (assim como a noradrenalina e a dopamina) e é produzida nas glândulas suprarrenais, localizadas bem em cima dos rins. No entanto, também temos sua versão sintética, a epinefrina. Essa substância criada em laboratório, por ser quimicamente idêntica à biológica, é muito útil em várias emergências médicas para a reanimação cardiopulmonar.

Fórmula química da adrenalina

Para entender seu mecanismo de ação, podemos tomar como referência o que aconteceu com a senhora Angela Cavallo e seu filho:

  • Quando vemos uma situação de ameaça ou de perigo (um carro caído em cima do nosso filho, por exemplo), o hipotálamo, responsável em partes pelas nossas reações emocionais, ativa o sistema simpático para emitir um tipo de resposta determinada a esse estímulo.
  • O hipotálamo tem uma conexão direta com a medula suprarrenal e esta última com as glândulas suprarrenais. Glândulas preparadas para liberar rapidamente uma boa quantidade de adrenalina para nos ativar, para influenciar o nosso comportamento e o tipo da nossa resposta.

A adrenalina utiliza mecanismos de ação muito específicos

Por outro lado, junto com a liberação da adrenalina, são colocados em prática uma série de mecanismos biológicos muito refinados, com os quais ela promove as nossas reações:

  • Perdemos a “consciência situacional”, ou seja, nosso cérebro tenta focar toda a nossa atenção na mesma coisa. O que estiver ao nosso redor deixa de ter importância.
  • Por outro lado, o cérebro escolhe quais sentidos vão ter mais utilidade. Na verdade, é bastante comum que promova uma exclusão auditiva. Ou seja, geralmente deixamos de ouvir com tanta precisão para reforçar outro sentido: a visão.
  • Assim, nossas pupilas vão se dilatar quase imediatamente para permitir a entrada de mais luz. Assim, conseguimos enxergar com mais clareza.
  • A adrenalina também tem uma característica muito conhecida: a dilatação dos vasos sanguíneos e o aumento do ritmo cardíaco. Isso acontece por uma razão bem específica: bombear mais sangue para que chegue mais oxigênio nos nossos músculos e para ter, assim, muito mais força e maior capacidade de reação.

Às vezes, basta uma pequena “rajada” de adrenalina súbita, mas intensa, para que chegue às nossas pernas e aos nossos braços uma avalanche de glóbulos vermelhos ricos em oxigênio. É nesse momento, então, que nos sentimos mais fortes do que nunca.

Ao mesmo tempo, e isso também é interessante, o cérebro vai ordenar que o sistema imunológico libere grande quantidade de dopamina e endorfinas analgésicas. Tudo isso vai nos permitir não sentir dor se estivermos feridos. E isso fez, por exemplo, com que a senhora Angela Cavallo não sentisse nenhum desconforto ao levantar um carro de 1.500 quilos.

Homem levantando um carro

O lado positivo e negativo da adrenalina

A adrenalina tem muitas vantagens. Pode nos estimular a vencer desafios surpreendentes e também pode ser tão prazerosa quanto viciante. Torna mais fácil a adaptação a qualquer situação de estresse, nos ativa quando praticamos esportes de risco, facilita a ação de dar o melhor de nós mesmos em provas ou de aproveitar da melhor maneira um encontro amoroso.

O tremor nas mãos, o nó no estômago, a pupila dilatada quando olhamos alguém que nos atrai são efeitos diretos da adrenalina. É ela que faz nos sentirmos eufóricos ao dançar ou ao estar na companhia de outras pessoas nos divertindo. É ela quem nos oferece uma descarga incrivelmente prazerosa quando andamos em uma montanha-russa em um parque de diversões ou sentimos a velocidade ao dirigir.

Como podemos ver, muitos desses comportamentos têm, ao mesmo tempo, um componente de “risco”. É exatamente quando colocamos os pés no chão, após termos saídos ilesos dessas experiências, que se sente esse pico de euforia que, aos poucos, é acompanhado por um relaxamento enorme e gratificante. Tudo isso faz com que existam pessoas viciadas em adrenalina, um lado mais obscuro sobre o qual é preciso descobrir mais informações.

Homem escalando montanha

Dependência de adrenalina

Existem pessoas que vão para o lado mais perigoso dos esportes de risco. Há quem realize comportamentos e ações limites, nos quais colocam a vida em risco. Por trás desse tipo de comportamento que muitos de nós já vimos em alguma situação, às vezes há algo mais do que a simples busca por prazer e aventura. Esse pico intenso de adrenalina que essas pessoas experimentam serve também para preencher um vazio, para reforçar um sentido ou para mascarar uma emoção.

Quando pensamos em um viciado, visualizamos quase imediatamente uma pessoa que consome determinadas drogas e o faz por dependência (não tanto para buscar o prazer, mas sim para eliminar o mal-estar). No entanto, algo do que nem sempre se fala é que a adrenalina e essa busca constante por experimentar riscos para se sentir vivo também representa, ao mesmo tempo, um tipo muito específico de vício.

Quando uma pessoa precisa sentir o aumento diário da adrenalina, colocando em risco a própria vida, estamos diante de um comportamento de dependência.

Por outro lado, assim como acontece com outras substâncias viciantes, é comum que pouco a pouco se sinta a necessidade de “doses” maiores para sentir os mesmos efeitos de antes. O organismo, pouco a pouco, desenvolve uma tolerância. Portanto, sentimos a necessidade de buscar experiências mais arriscadas, comportamentos mais extremos para conseguir obter a mesma sensação.

Ainda, é necessário diferenciar um atleta que realiza uma prática de risco com responsabilidade e profissionalismo de uma pessoa que, fazendo a mesma coisa, é incapaz de pensar ou refletir sobre as consequências dos próprios atos.

Nesse sentido, devemos pensar que o viciado somente busca satisfazer uma necessidade biológica.

A adrenalina e o estresse crônico

Já vimos que a adrenalina pode se transformar em um tipo bastante específico de vício. Agora, é interessante lembrar também outro aspecto bastante negativo da adrenalina. Um aspecto que pouco a pouco, dia após dia, facilita a construção de um estresse crônico.

Esse termo, “estresse crônico”, é o resultado direto das nossas pressões e tensões contínuas, essas que não impedimos na hora certa ou que não gerimos de maneira adequada. Esse estado é o resultado direto da acumulação de dois hormônios no sangue: a adrenalina e o cortisol.

Mulher presa em labirinto

Quando passamos por situações que nos provocam mal-estar, que nos incomodam, que atentam contra o nosso equilíbrio físico e emocional, nosso cérebro as interpreta como um perigo, como um foco contra o qual reagir. É nesse momento em que a adrenalina aparece. E é também quando nós, sentindo essa série de ameaças, deveríamos conseguir agir de uma maneira eficiente.

No entanto, nem sempre conseguimos. E a partir de então a adrenalina se acumula e provoca mudanças no nosso organismo (hipertensão, taquicardia, má digestão…). Perdemos a saúde e colocamos nossa vida em risco. Portanto, não é qualquer coisa, não é algo de que podemos nos descuidar, não é algo que se pode adiar para amanhã ou para a semana que vem…

Para concluir, poderíamos dizer que a adrenalina desempenha sua função “mágica” desde que seja liberada de maneira pontual e específica. É nessas situações que age como um impulso vital para nos ajudar a reagir, para nos manter a salvo, para melhorar nossa capacidade de adaptação a determinadas situações. No entanto, se buscarmos seu efeito diário ou permitirmos que a tensão e os medos se acumulem de maneira constante no nosso interior, a adrenalina vai agir da pior maneira possível: roubando a nossa saúde.

Referências bibliográficas:

Kandel (2001). Principios de la neurociencia Madrid, LTC.

Hart, A (1995). Adrenalin and Stress. Thomas Nelson editors.

Bennett M (1999). “One hundred years of adrenaline: the discovery of autoreceptors”. Thieme Publishing Group.


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