A amargura das lágrimas não derramadas

As lágrimas não derramadas machucam porque se acumulam dentro de nós na forma de desconforto. Dessa forma, a impotência e o desânimo tomam conta da vida. Por que não conseguimos chorar?
A amargura das lágrimas não derramadas
Gema Sánchez Cuevas

Escrito e verificado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Às vezes, uma profunda amargura das lágrimas não derramadas nos invade, um nó se forma em nossa garganta e a nossa mente fica presa em um beco sem saída. A tristeza vem à tona, enquanto o desamparo pelo que aconteceu nos aprisiona. Não podemos fazer nada, por mais que tentemos. Nem mesmo as lágrimas têm coragem de espreitar através dos olhos, cair pelas bochechas e nos ajudar a desabafar. O que houve? Por que não conseguimos chorar?

Há muitas pessoas que, depois de sofrerem uma situação negativa de grande impacto, são incapazes de liberar a sua dor. O que aconteceu as comoveu tanto que, de alguma forma, ficaram bloqueadas, presas em um sofrimento que lhes tira qualquer possibilidade de expressar como se sentem.

É uma sensação amarga. Querem chorar e não conseguem. Elas até gostariam de expressar em palavras o sentimento que as invade, mas são incapazes. O problema é que o desconforto fica cada vez maior, como se, pouco a pouco, as lágrimas não derramadas as afogassem por dentro.

“Eu quase morri por todas as lágrimas que não derramei”.
– O cavaleiro da armadura enferrujada, Robert Fisher –

Mulher angustiada

Lágrimas não derramadas: por que não consigo chorar?

A incapacidade de chorar pode estar associada a várias causas: desde uma doença até bloqueios emocionais. Portanto, em primeiro lugar, é importante descartar qualquer causa fisiológica.

Por exemplo, a síndrome de Sjögren é um distúrbio autoimune que se distingue pela destruição das glândulas que produzem lágrimas e saliva, embora também possa danificar outras partes do corpo. Por esse motivo, é importante ir ao médico, em vez de supor que o que aconteceu é devido a problemas psicológicos, como uma depressão.

Causas psicológicas

Uma vez descartadas as causas fisiológicas, é hora de investigar o universo psicológico da pessoa para saber o que acontece. Nesse caso, é importante ter em mente que nem todas as pessoas lidam com os problemas da mesma maneira. Cada um tem o seu próprio modo de encarar a realidade, os seus tempos de reação e a sua bagagem de estratégias.

Portanto, sempre haverá alguém capaz de liberar as suas emoções com facilidade, e outros que precisam de mais tempo para processar o que aconteceu e que, por algum motivo, ficam bloqueados devido ao forte impacto.

Assim, quando o problema tem uma origem psicológica, geralmente está relacionado ao mau gerenciamento das emoções. Isso pode ser algo pontual, mas também levar à depressão juntamente com outros fatores. Se a impossibilidade de chorar é sentida durante um processo de luto e se prolonga com o tempo, isso pode indicar a presença de um luto patológico.

No entanto, é importante considerar o que significa chorar para a pessoa, pois alguns acreditam que seja algo negativo ou um sinal de fraqueza, devido à educação que receberam. Portanto, muitas pessoas tendem a reprimir o choro por medo de serem consideradas frágeis ou vulneráveis, até que isso se torna um automatismo. Ou então, podem ter medo de entrar em contato consigo mesmas. O problema é que isso prejudica a saúde e, às vezes, facilita o acúmulo de raiva, a agressividade e a somatização.

“As lágrimas derramadas são amargas, mas mais amargas são aquelas que não derramamos”.
– Provérbio irlandês –

A liberação emocional das lágrimas

William Frey, médico do Centro Médico Saint Paul Ramsay, diz que as lágrimas são tão necessárias quanto os sorrisos. Embora seja verdade que elas não têm o poder de resolver os nossos problemas, diminuem as tensões, aliviam a tristeza, facilitam o autoconhecimento e a conexão com as outras pessoas.

As lágrimas fazem parte de nós, são um mecanismo de defesa e de alívio, ou seja, uma maneira de liberar a tensão acumulada, independentemente da situação. Portanto, é importante se permitir expressá-las. Lauren Bylsman, pesquisadora da Universidade de Pittsburgh, afirma que o choro ajuda o corpo a retornar ao seu estado de homeostase, ou seja, a recuperar o equilíbrio após ter sido perturbado.

Quando choramos, liberamos adrenalina e noradrenalina, hormônios que são secretados excessivamente em situações estressantes e podem ser perigosos. Isso produz uma sensação de tranquilidade e alívio no corpo, pois promove o relaxamento.

A amargura das lágrimas não derramadas

De acordo com um estudo realizado pelo bioquímico William H. Frey, as lágrimas derramadas por uma situação negativa ou dramática liberam endorfinas, prolactina, cloreto de potássio e magnésio, além de adrenocorticotropina e leucina-encefalina. Assim, o nosso desconforto, tanto físico quanto emocional, é aliviado devido à sensação produzida por essa explosão emocional.

Técnicas de alívio emocional

Reprimir o choro ou não conseguir chorar implica um acúmulo do desconforto. É como flutuar em um oceano de sofrimento, sem ter salva-vidas ou terra à vista. No entanto, existem algumas estratégias que podem nos ajudar a descarregar a tensão acumulada e, finalmente, começar a derramar as nossas primeiras lágrimas:

  • Esvaziar a mente: é uma técnica para descer às nossas profundezas. O primeiro passo é perguntar o que nos entristece ou nos impede de nos sentirmos bem. Uma vez identificado o motivo, tentaremos responder na primeira pessoa: eu me sinto … isso me dói… Depois disso, pensaremos em como agir no futuro e no que poderíamos fazer para alcançar a tranquilidade de que tanto precisamos.
  • Escrita terapêutica: escrever é uma maneira de liberar sentimentos e desenrolar aquele novelo interno que nos paralisa tanto. Este exercício consiste em escrever sobre os nossos sentimentos sem pensar muito. O importante é fazê-lo naturalmente.
  • Rever as crenças: é importante indagar-nos a respeito da nossa concepção sobre o choro. Talvez possamos descobrir certas restrições ou mitos que, se forem banidos, nos permitirão chorar. Pensamentos como “chorar é para os fracos”, “os homens não choram” ou “chorar não resolve nada”, são alguns exemplos.
  • Conversar com uma pessoa de confiança: recorrer àquela pessoa que nos escuta, que nos acolhe e nos apoia pode ser uma opção para nos sentirmos compreendidos e liberar o que sentimos. Devemos escolher aqueles que nos transmitem confiança, segurança e calma.

O que podemos concluir sobre as lágrimas não derramadas?

Como vimos, chorar é um ato libertador e saudável. É capaz de transformar a tensão experimentada em uma expressão do nosso mundo interior. Ajuda-nos a liberar a pressão interna da qual, às vezes, somos prisioneiros; isto é, facilita a descarga emocional e relaxa. Dessa forma, começaremos a nos sentir mais seguros e poderemos observar o que aconteceu a partir de outra perspectiva.

Além disso, as lágrimas também se comunicam; de fato, são consideradas um chamado à empatia e ao apoio de outras pessoas. Elas surgem quando as palavras não conseguem descrever o que a alma transborda, quando somos incapazes de descrever a forma como nos sentimos devido a sua intensidade.

Chorar não é um sinal de fraqueza, mas de coragem; uma forma de comunicar a profundidade dos nossos sentimentos. Como dizia o escritor americano Washington Irving: “Há algo sagrado nas lágrimas. Elas não são um sinal de fraqueza, mas de poder. São as mensageiras da tristeza avassaladora e do amor indescritível”.

“As lágrimas são o sangue da alma”.
– Santo Agostinho –


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