Ansiedade por separação: quando ela vira um problema?

Ansiedade por separação: quando ela vira um problema?
Anet Diner Gutverg

Escrito e verificado por a psicóloga Anet Diner Gutverg.

Última atualização: 29 dezembro, 2022

A ansiedade por separação é uma situação que associamos geralmente às crianças, mas que muitos adultos também experimentam. Ela é definida como uma ansiedade excessiva ao se separar do lar ou das pessoas pelas quais se tem um forte apego emocional (por exemplo, parceiro, pais, avós, irmãos, filhos, etc).

Os sintomas podem ser leves ou bastante graves e são semelhantes nas crianças e nos adultos. Nos adultos, normalmente, acredita-se que é um problema com o qual a pessoa cresceu, mas nem sempre é assim, ele pode surgir em qualquer momento de nossas vidas. A ansiedade por separação se manifesta como medo de se separar do parceiro, dos filhos, do trabalho ou de algo que a pessoa dá muito valor sentimental. Pode ser muito desgastante para quem sofre, mas também para os “objetos de apego”, já que em muitas ocasiões o que faz é refletir ou fortalecer uma dependência que já existia até certo ponto.

O conceito de tempo não é fácil e são necessários alguns anos para o desenvolvermos. Para muitas crianças, qualquer separação é difícil e causa sofrimento e choro. Além disso, se não for bem gerenciado por seus pais, pode ter sérias consequências, como uma grande insegurança na adolescência, até mesmo transcendendo para os anos posteriores.

Como todo transtorno de ansiedade, seja na infância ou na vida adulta, para a ansiedade por separação é muito importante buscar um tratamento: apenas em raras ocasiões ela desaparece de forma natural. O normal é que ela tenda a crescer, a se ramificar para outras áreas da vida e a facilitar o desenvolvimento de outras formas de ansiedade, como a agorafobia ou a síndrome do pânico.

Menino abraçando seu ursinho de pelúcia

O tratamento recomendado, geralmente, é a psicoterapia. No entanto, no caso das crianças, a informação que temos sobre isso e algumas ferramentas que oferecemos neste artigo podem ajudá-lo a evitar esta situação e a observar os sinais de aviso no caso de o problema começar a aparecer.

É uma etapa normal

Uma certa ansiedade pela separação é normal e habitual em uma determinada fase do nosso desenvolvimento. Entre os 8 e os 14 meses, os bebês, que antes não tinham senso do perigo, começam a ter medo de pessoas estranhas ou de lugares novos. Esta “etapa normal” é um método de adaptação natural que ajuda as crianças a se acostumarem e a dominarem o ambiente que as rodeia.

O habitual é que essa ansiedade por separação diminua consideravelmente ou desapareça completamente por volta dos dois anos de idade. As crianças desta idade entendem que seus pais podem se ausentar, mas que vão retornar mais tarde. Ao mesmo tempo, elas entendem que também podem fazer o mesmo e, com essa segurança, se animam a explorar o mundo.

Isso não significa que, em alguns momentos ou situações específicas e novas, as crianças não experimentem um certo grau de ansiedade. Essa ansiedade é mais provável quando elas se separam de seus pais por um período prolongado, quando enfrentam situações de internação, mudança de escola, etc.

A ansiedade por separação costuma provocar muitas emoções

Diante dessa situação, os pais podem experimentar diversas emoções. Há uma sensação de bem-estar porque nosso filho está apegado à nós, mas isso também pode gerar sentimentos de culpa por ter que os deixar com estranhos. Também é normal se sentir sobrecarregado com a grande quantidade de atenção e tempo que o filho exige.

O fato de seu filho não querer que você se vá é um bom sinal de que o apego entre vocês é saudável, desde que esse desejo não dê lugar a uma grande ansiedade. O apego saudável significa que existe confiança, que seu filho confia que você volta sempre que se ausentar, e isso é suficiente para fazer você se sentir calmo enquanto não estiver por perto. O apego patológico ocorre quando a criança precisa de reafirmação e segurança o tempo todo e quando ela não tem as ferramentas para enfrentar as novas situações, fazendo com que tenha muita dificuldade para fazer isso.

É uma etapa difícil. No entanto, a ansiedade deveria desaparecer com o tempo e com muita paciência e força. Por outro lado, se sempre que seu filho chora você entra correndo de outro quarto ou cancela todos os seus planos, é melhor refinar suas estratégias, tendo consciência de que está nas suas mãos o poder de evitar a separação que ele tanto teme.

Menina segurando a mão de seu pai

Prevenir e praticar: dois conceitos importantes

Se você está pensando em levar seu filho para a creche, saiba que é provável que você se depare com a ansiedade por separação da qual falamos: as crianças são especialmente sensíveis entre os oito meses e um ano. Se você tiver mesmo que fazer isso, pratique a separação pouco a pouco levando-o a lugares novos ou deixando-o com algum parente ou babá por períodos breves, até que você tenha que deixá-lo na creche.

Deixe esses “ensaios” para momentos em que seu filho não esteja cansado, inquieto ou com fome. Planeje fazer isso depois que ele tiver comido ou tirado a soneca. Lembre-se que ele é um bebê e que é muito melhor realizar mudanças quando as necessidades básicas estiverem satisfeitas e sem interferências.

Antecipe a entrada na creche visitando o lugar com ele antes do primeiro dia. Além disso, se for possível, coloque em prática a adaptação de forma progressiva, em que no início a criança vai poucas horas e, aos poucos, vai aumentando o tempo que fica na escolinha.

Coerência, calma e cumprir as promessas: 3 diretrizes fundamentais

Se você estiver levando seu filho a uma creche em especial, é porque confia nos profissionais que trabalham lá. Neste sentido, tente ser coerente com essa decisão e deixe que a ajudem a gerenciar a separação, seguindo o conselho dos funcionários. Pense que eles têm uma experiência muito grande em enfrentar este tipo de problemas e vão querer o melhor para você e para seu filho.

Mantenha a calma e tente transmitir tranquilidade e confiança ao seu filho. Explique a ele quando é que você vai voltar usando conceitos que ele possa entender, como “depois de comer”, “depois da soneca”, etc. Você pode criar um ritual de despedida em que o “adeus” ocorra de forma carinhosa e agradável, em que você dedique toda sua atenção a ele. E, quando você se for, não volte atrás: isso poderia piorar as coisas.

Menina abraçando sua mãe

Volte quando você prometeu voltar; assim, você vai alimentar a confiança do seu filho e poderá lidar melhor com essa situação. Seja pontual, principalmente durante a adaptação: embora as crianças não tenham um sentido tão acentuado do tempo, elas podem observar que as outras crianças estão indo embora e se sentem angustiadas por ninguém vir buscá-las.

Durante a despedida, não saia de fininho, mesmo que vir que seu filho está tranquilo, pois isso pode fazer com ele se sinta abandonado. Saia depois de ter se despedido. Além disso, não prolongue desnecessariamente a despedida, pois essa atitude reforça a sensação de que a creche pode ser um lugar ruim ou de que o que está acontecendo é algo mais importante do que realmente é.

Não é comum que a ansiedade por separação persista todos os dias durante longos períodos e de forma constante. Se você estiver preocupado de que seu filho não está se adaptando sem você, consulte um profissional. Tenha em mente que você também poderia estar lidando com a situação de forma inapropriada, precisando assim de um especialista.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.