Apego: a maior fonte de sofrimento

Apego: a maior fonte de sofrimento

Última atualização: 14 janeiro, 2016

Na verdade, a espécie humana é uma das mais frágeis da natureza. Quando um bebê nasce, precisa de sua mãe de forma quase absoluta para sobreviver. Um filhote de leão, peixe ou lagarto nasce mais preparado para a independência.

Esta necessidade “do outro” não é apenas para as necessidades básicas, tais como a nutrição ou calor. Há também uma profunda necessidade emocional desde o início de nossas vidas: os bebês que não recebem carinho podem adoecer e até mesmo morrer.

É indiscutível que todos temos essa necessidade. Como espécie, precisamos um do outro; definhamos e morremos sem outro ser humano por perto.

No entanto, existe uma grande diferença entre este vínculo instintivo que garante nossa sobrevivência e as dependências neuróticas que desenvolvemos na idade adulta.

“Os sentimentos como o ódio e o apego não têm pernas, braços ou outros membros; e não têm coragem ou habilidade. Como então conseguiram me tornar seu escravo?”

– Shantideva –

apego

Os labirintos do apego

Paradoxalmente, só alcançamos a autonomia quando experimentamos a completa dependência.

“O apego com os nossos cuidadores durante a infância é o suporte para a nossa segurança emocional”.

O mecanismo é simples: se durante a sua infância, você conta com alguém a quem sempre pode recorrer em busca de proteção, irá desenvolver um senso de confiança frente ao mundo e aos seres humanos. Isso permitirá que você alcance a independência em sua vida adulta.

Todos nós precisamos de uma mãe ou de alguém que a substitua durante a nossa infância, mas nem sempre temos essa figura.

Muitas vezes, a mãe trabalha fora e tem que deixar seu filho em uma creche desde muito cedo. Em outras ocasiões, ela está tão ocupada com seus próprios problemas que não tem disposição para estar totalmente presente quando seu bebê precisa; ou tem que cuidar dos outros filhos, mesmo que precisemos dela só para nós.

Algumas mulheres se sentem tão ansiosas com a sua função de mãe que transmitem ao seu filho todas as suas inseguranças, e o protegem como se o mundo fosse uma ameaça constante.

Nesses casos, os filhos crescem com uma sensação de vazio emocional. Ficam muito ansiosos sempre que enfrentam uma nova situação sozinhos, ou quando têm que fazer uma escolha.

E secretamente anseiam encontrar uma figura para substituir a mãe que não tiveram, ou que perderam em um determinado momento da vida.

Por isso, tentamos encontrar um parceiro que nos dê tudo, sem esperar nada. Exigimos uma dedicação incondicional e ficamos profundamente frustrados diante de  qualquer sinal de indiferença ou distanciamento. Vivemos com medo de perder essa pessoa, porque acreditamos que ela pode preencher nosso vazio interior.
libertar-se

Do apego a autonomia

O apego aos outros é importante e necessário ao longo da nossa vida. Do berço ao túmulo, precisamos dos outros para garantir a nossa saúde física e emocional. Não importa se somos um investidor de sucesso em Nova Iorque ou uma dona de casa na Bolívia. Todos nós precisamos uns dos outros.

O problema surge quando a necessidade se torna ansiedade. Acreditamos que, se nos deixarem sozinhos, voltaremos a ser uma criança indefesa, paralisada diante dos perigos do mundo.

Para superar essa ansiedade, as pessoas podem empregar diferentes estratégias. Uma delas é encontrar uma pessoa que tente cumprir essa promessa impossível: “eu sempre estarei lá, eu nunca vou deixá-lo sozinho”.

Outra possibilidade é optar pelo oposto: evitar a todo custo criar laços de dependência com os outros, de modo que nunca se sinta abandonado.

Também podemos nos tornar desconfiados e excessivamente exigentes. Pedimos às pessoas mais do que elas podem dar. E renegaremos eternamente seus defeitos, falhas e limitações, se elas não conseguirem nos atender como se fôssemos um pequeno ditador, frustrado por não sermos capazes de controlar os outros de acordo com a nossa vontade.

Em todos estes casos, o sofrimento será constante. Sofremos para conservar esse benfeitor que nos “adotou”, seja ele um parceiro, um chefe, um amigo, etc.

Sofremos de solidão por não sermos capazes de estabelecer laços estreitos com os outros. Sofremos por não sermos capazes de valorizar os outros seres humanos como eles são.

Dizem que as frutas são as únicas que amadurecem. Os seres humanos podem ter 30 ou 50 anos e ainda conservam os mesmos medos que tinham quando eram crianças.

Pode ser uma boa ideia refletir sobre esses vazios da infância que nos levam a apegos neuróticos no presente.

É possível que, em algum momento de nossa vida adulta, sejamos capazes de desistir do desejo impossível de encontrar, de uma vez por todas, alguém que se comporte como a mãe ideal que nunca tivemos.


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