Precisamos aprender a apreciar os detalhes dos quais o mundo é feito

Precisamos aprender a apreciar os detalhes dos quais o mundo é feito
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 02 dezembro, 2021

Existem pessoas que olham, mas não veem, pessoas que ouvem, mas não escutam, e pessoas que tocam, mas não sentem. É por isso que eu prefiro quem sabe apreciar os detalhes e sutilezas da vida, quem vive com coragem e sabe como me olhar até chegar às profundezas do meu ser sem a necessidade de passaporte. Porque quem combina intencionalidade com emoção sincera aprecia muito mais a vida.

Os antropólogos e os psicólogos dizem que a observação sempre foi a chave para a sobrevivência do ser humano. No entanto, chegamos a um ponto na nossa evolução que, se há algo que nos define, é precisamente a distração. Cada um tem o seu jeito de ser e vivemos em uma sociedade que nos proporciona mil estímulos ao mesmo tempo, que ignora os sentidos, mas paradoxalmente, tenta despertar todos eles. Queremos abraçar o mundo sem perceber o que ou quem temos diante de nós, sem apreciar os detalhes pequeninos que se apresentam dia após dia.

“Pensar é mais interessante do que saber, mas menos interessante do que olhar”.
 – Goethe –

Os pesquisadores dizem que, se não tivéssemos sido bons observadores no passado, provavelmente teríamos desaparecido como espécie. Os nossos antepassados usavam todo o potencial dos seus sentidos para intuir qualquer risco, ameaça ou estímulo a partir do qual poderiam obter qualquer benefício. Nós ajustávamos os ouvidos, a visão e o olfato para capturar todos os detalhes do nosso ambiente… Nada nos escapava.

No entanto, atualmente a maioria de nós se transformou em observadores preguiçosos; nem os sinais sonoros e nem os sinais visuais são suficientes para chamar a nossa atenção enquanto cruzamos uma faixa de pedestres. Não deixamos somente de perceber os perigos, mas perdemos detalhes valiosos e até mesmo aquelas fascinantes sutilezas que compõem a nossa realidade.

Pintura de Edward Hopper

O bom observador sabe apreciar os detalhes importantes

Os detalhes importantes são como pequenas caixas escondidas na nossa realidade onde uma determinada e maravilhosa informação é armazenada. Um gesto, um olhar, um tom de voz, uma mudança de luz, uma tela inclinada, um inseto que bebe água em uma gota de orvalho… Tudo isso são sutilezas que habitam o nosso campo de visão e nem sempre percebemos. Talvez por falta de vontade, talvez por falta de tempo.

Também é necessário lembrar que “ver não é o mesmo que olhar”. Para entendermos melhor, olhem por um momento a pintura de Edward Hopper que temos acima. Algumas pessoas simplesmente olharão para a tela por alguns segundos sem apreciar nada, sem perceber nada. Outros, no entanto, olharão atentamente para decidir o que ver, para capturar a alma da pintura, para apreciar os detalhes preciosos e, ainda mais, “contemplá-la” ao ponto de se identificar com uma dessas figuras.

O bom observador, aquele que transcende a realidade, sem dúvida perceberá o enigma sutil que Hopper quis transmitir com esse trabalho. Nós vemos duas mulheres em um restaurante, mas o que mais chama a atenção não é a semelhança entre as duas, mas a expressão da mulher que está de frente para nós. Qual é a razão? A jovem diante dela é o seu Doppelgänger, o seu duplo, o seu “outro eu”.

O ato de “ver” é o primeiro degrau da consciência, é um pequeno “eu” que nos ajuda a discriminar coisas, objetos, pessoas… No entanto, é o ato de “olhar” que nos permite acordar, que nos oferece a oportunidade de perceber o outro para entrar em contato com a sua alma e capturar a sua essência.

Observar com atenção para apreciar os detalhes

Por outro lado, é interessante lembrar que no teste do eneagrama também temos a personalidade do “observador”, que é definida como uma pessoa curiosa e inovadora, capaz de se distanciar das coisas para emitir os seus próprios julgamentos. Também são independentes, simples e muito perspicazes.

O mundo é feito de detalhes que merecem ser apreciados

Na nossa sociedade atual vemos, mas não olhamos. Deslizamos o dedo na tela dos nossos celulares em um gesto rotineiro, mecânico, às vezes obsessivo. Sentamos diante da televisão e muitas vezes nos limitamos a assistir tudo o que aparece. O mesmo acontece com a nossa vida, vemos e respiramos, mas não vivemos. Não vivemos da forma como deveríamos: com os olhos mais atentos e com o coração mais receptivo.

“O mais alto grau do saber é contemplar o porquê”.
-Sócrates-

Um dos livros mais interessantes sobre esse assunto e que, sem dúvida, nos convida a reflexão é “Escutar com os olhos” de Ferrán Ramón Cortés. O argumento não pode ser mais simples: um homem de repente vê uma das suas colegas mais competentes deixar o cargo que ocupava. O protagonista não entende o motivo e percebe que apesar de ter compartilhado 5 anos de profissão com ela, não a conhece.

Depois disso, ele decide melhorar as suas habilidades sociais. Ele decide fazer um curso de fotografia e aprender a se concentrar no objetivo para entender melhor a sua realidade, capturar e apreciar os detalhes, transcender, saber como contemplar e alcançar as pessoas com autenticidade, retirando uma a uma todas essas “camadas de cebola” que envolvem os nossos comportamentos e os nossos ambientes cotidianos.

Pintura de Edward Hopper com mulher observando pela janela

Para concluir, todos nós podemos escolher no nosso cotidiano duas opções: ver a vida ou olhar a realidade com todos os detalhes, para ser um participante completo. Além disso, existe uma terceira opção que é mais enriquecedora, mas que sem dúvida, requer mais tempo e vontade. Estamos falando da capacidade de “contemplar” a nossa realidade, tocar a alma das coisas e mergulhar nos seus múltiplos mistérios e enigmas, como nas duas telas de Edward Hopper que ilustram este artigo.


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