Aprenda a tirar partido da fuga como estratégia

Aprenda a tirar partido da fuga como estratégia

Última atualização: 02 julho, 2015

A Arte da Guerra é um livro milenar que contém reflexões e conselhos para assumir um confronto armado. Reúne aspectos da filosofia, das Artes Marciais e tem sido aplicado, parcial ou totalmente, em quase todas as culturas e em quase qualquer época. Ele parte da ideia de que em uma guerra é muito mais importante a estratégia do que a força ou a superioridade numérica.

O texto insiste que a melhor guerra é aquela que não acontece. O propósito de qualquer guerreiro autêntico é evitar que o confronto aconteça, pois nesse caso ambos combatentes perdem. Uns mais, outros menos, mas nenhum sairá ileso.

Disso, podemos extrair algumas conclusões para a vida, porque nem sempre uma guerra é o enfrentamento de dois exércitos, mas também acontece entre pessoas aparentemente desarmadas, na vida cotidiana. Evitar o conflito até onde seja possível é uma decisão sábia. O desperdício de energia emocional em um confronto é muito alto, e poucas são as vezes em que terminam sem feridas os que se aventuram em alguma dessas batalhas domésticas.

O livro também enfatiza que é necessário compreender as circunstâncias para poder discernir quando atacar e quando fugir. A fuga é vista como uma tática e não como uma rendição. Se o inimigo pegar você de surpresa, se a superioridade for muito acentuada em uma situação específica, se você não está preparado para deter o ataque, continuar é absurdo. Essas e outras situações semelhantes indicam que o mais inteligente é fugir.

Tudo é aplicável em nosso dia a dia. Fugir é uma opção legítima em muitas oportunidades. Se como resultado de uma avaliação objetiva, a fuga trouxer menos consequências negativas que o confronto, é então a alternativa mais razoável.

A fuga da imaginação

Até ai, tudo muito bem. O problema é que os seres humanos as vezes agem guiados por motivos que não são muito lógicos, nem muito razoáveis. Em muitas ocasiões usamos a fuga como estratégia, ainda que à luz da razão não seja a melhor opção. De fato, as vezes fugimos sem que exista um perigo concreto. Nem sequer um inimigo definido. São ocasiões em que na verdade fugimos apenas da nossa imaginação.

Acontece quando você se sente inferior às exigências de um conflito, ou às condições que apresenta um desafio. Fugir se torna a primeira opção, sem que se avalie realmente a situação. Neste caso, fugir é sim se render. Não se foge para reorganizar forças ou repensar o cenário. Também não se foge como estratégia para se colocar a salvo de um perigo, mas para evitar as fantasias de uma derrota. Na verdade, se foge do medo.

Como se o valor não estivesse feito disso:  de medo. Como se fugindo do medo, na verdade nos colocássemos a salvo do verdadeiro perigo:  nossas fantasias. Existe uma velha lenda que descreve mais ou menos a seguinte situação:

Um mestre e seu aprendiz chegaram nas portas de um templo e foram recebidos por três cães furiosos que, contudo, estavam amarrados por correntes. O aprendiz sentiu medo e começou a agir de forma desesperada. Isso exaltou ainda mais os animais, a ponto de quebrarem as suas amarras e avançarem sobre os dois homens. Então, o mestre, em vez de fugir, fez o contrário. Olhou fixamente as feras e começou a correr em direção a elas, com plena determinação. Os animais se desconcertaram e terminaram se afastando dele. Na verdade, não fugiam dele, mas de sua determinação. O aprendiz então se aproximou e o mestre lhe deu o seguinte ensinamento: “A única maneira de vencer os medos é ir ao seu encontro”.

Os cachorros, obviamente, são uma metáfora. Nos falam desses medos imaginários que desaparecem assim que os enfrentamos.

As vezes o perigo está somente em nossa mente. Estamos presos pelos fantasmas do medo. O ruim disso é que cada vez que fugimos é como se lhe déssemos alimento para crescer. Assim, forma-se um círculo vicioso que se quebra somente o dia em que por fim decidimos que é momento de ser livres. Somente então teremos controle sobre a opção de escapar ou de ficar, segundo o que disser a razão.

Imagem cortesia de José María Cuéllar


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