O que é e para que serve uma avaliação neuropsicológica?

O que é e para que serve uma avaliação neuropsicológica?
Sara Clemente

Escrito e verificado por psicóloga e jornalista Sara Clemente.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

A avaliação neuropsicológica ou avaliação cognitiva é um método diagnóstico criado especificamente para explorar o funcionamento cognitivo das pessoas. Ela traz informações muito valiosas que podem passar despercebidas em outras metodologias de exame, e por isso é usada de forma complementar a técnicas de neuroimagem ou exames radiológicos.

A técnica permite estudar a atividade e o funcionamento dos sistemas cognitivos cerebrais por meio da exploração das capacidades humanas superiores. Por isso, é realizada tanto em pacientes com danos ou lesões cerebrais, com a finalidade de conhecer o grau de alteração intelectual, quanto em pessoas que querem verificar seu funcionamento mental durante as diferentes etapas da vida.

Tipos de avaliação neuropsicológica

Não há dois pacientes iguais. Na análise de cada um deve ser considerado um universo inteiro que é particular. Por isso, a avaliação neuropsicológica é sempre flexível e deve ser adequada para cada caso clínico. É por isso que não se pode estabelecer uma classificação restritiva dos tipos de exploração cognitiva. Falaremos de algumas características a partir dos objetivos possíveis para essa avaliação:

Avaliação cognitiva

O objetivo principal de muitas avaliações neuropsicológicas é simplesmente conhecer em profundidade como funciona a atenção, a memória, a linguagem e algumas funções chamadas de executivas – funções como planejamento, prevenção, controle, supervisão, organização – do paciente. Para isso, são realizados alguns testes normatizados que registram informações tanto quantitativas quanto qualitativas.

Os quebra-cabeças do cérebro

Nesse sentido, é muito importante, se não a questão mais importante, que o profissional relate suas conclusões tanto a partir dos resultados do paciente nos testes que foram aplicados quanto em seu comportamento e seu modo de execução dos mesmos. Ou seja, a interpretação da pontuação numérica que é obtida em um teste por uma pessoa com alterações intelectuais é importante, mas é igualmente importante que o profissional avalie também o comportamento que se apresenta na hora de realizar as tarefas.

Na maioria dos casos, a informação que os familiares do paciente trazem é fundamental. Isso porque em algumas alterações psicológicas o paciente não tem consciência das alterações em suas funções intelectuais. Por isso que os dados que as pessoas que convivem com o paciente podem trazer são muito necessários para a elaboração de um perfil neuropsicológico completo do paciente, que considere todo o quadro.

As funções executivas e a cognição social

Esse tipo de avaliação neuropsicológica é mais comum em crianças. Os pequenos podem realizar uma série de baterias de testes que permitem conhecer seu nível de maturidade cognitiva e rendimento. Esses testes devem examinar o controle inibitório da criança, assim como múltiplas habilidades multitarefa e sociais. O objetivo final é a adequação das estratégias interpessoais que as crianças empregam no dia a dia.

Um dos testes mais utilizados globalmente é a bateria BANFE. Sigla para Bateria neuropsicológica de funções executivas e lobos frontais, ela avalia as funções executivas mediante 15 processos, agrupados em três áreas cerebrais específicas: orbitomedial, prefrontal anterior e dorsolateral. Sua principal vantagem é que permite obter um índice global e um índice específico para cada região avaliada.

Específica das funções visuoespaciais

As habilidades visuoespaciais são muito aplicadas e úteis no nosso dia a dia. Elas nos permitem representar, analisar e manipular objetos mentalmente. Sem elas seria impossível, por exemplo, encher um copo de água sem derramar, pois isso exige a percepção do espaço e previsão da quantidade de líquido que caberá lá dentro.

Em muitas ocasiões, as falhas que ocorrem nas nossas ações parecem problemas visuais, mas algumas vezes a situação tem pouco a ver com os órgãos primários da percepção visuais: os olhos. Pelo contrário, os problemas estão relacionados com etapas posteriores de processamento da informação, ou seja, com processos de percepção que se relacionam com áreas específicas de processamento de informação visual no córtex cerebral.

Alguns testes neuropsicológicos podem avaliar esse funcionamento. Alguns exemplos são tarefas em que se apresentam uma série de figuras sobrepostas e entrelaçadas que devem ser resolvidas, assim como o teste dos 15 objetos e os relógios de Luria.

Como você provavelmente já percebeu, a avaliação neuropsicológica típica envolve a medição de vários aspectos da cognição. Entre eles, a a capacidade intelectual global, a linguagem, a personalidade e o comportamento, a atenção, a memória e outras habilidade de alto nível de execução. Dependendo de cada caso e das necessidades dos pacientes, algumas habilidades são analisadas mais profundamente do que outras.

Avaliação neuropsicológica

A avaliação neuropsicológica pode ser a chave do diagnóstico

A avaliação neuropsicológica tem muitas aplicações e usos. Entre estes está a possibilidade de identificar áreas e funções cognitivas alteradas. Por exemplo, transtornos ou problemas de memória que não são fortes o suficiente para impactar o dia a dia nunca seriam detectados se não fosse a possibilidade fazer testes neuropsicológicos mais sensíveis.

De fato, muitas vezes as baterias neuropsicológicas são as únicas ferramentas disponíveis para um profissional detectar de forma precoce algumas patologias. Por isso elas são muito utilizadas em idosos, empregadas para o diagnóstico de doenças neurodegenerativas como o Alzheimer ou em alterações atencionais ligadas à diabetes e ao alcoolismo.

Além disso, o exame permite diferenciar entre possíveis diagnósticos. É o que chamamos de diagnóstico diferencial diante de sintomas semelhantes e mais de um quadro clínico. Ou seja, a avaliação neuropsicológica é a chave para diferenciar entre doenças, podendo determinar quando uma alteração cognitiva de um paciente é consequência de uma acidente cerebrovascular ou fruto de uma depressão profunda, por exemplo.

Por fim, cabe ressaltar que é fundamental não confundir a avaliação neuropsicológica com a mera administração de testes neuropsicológicos. A avaliação não é só isso, há a administração de testes e baterias, mas essa é apenas uma fase de uma avaliação neuropsicológica completa.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.