Batman, o que há por trás da máscara?
O Batman é, talvez, um dos super-heróis mais complexos que podemos encontrar. É fato que, se pensarmos em outros personagens como o Homem-Aranha, perceberemos que eles compartilham algo mais do que a condição de heróis e que geralmente têm um passado sombrio. Um passado que os levará a se tornarem os personagens que todos conhecemos e que os fará “escolher o caminho do bem”.
Além do característico traje de morcego, uma das características do universo do Batman é a escuridão que envolve tanto o personagem quanto o próprio mundo. A cidade de Gotham, cujos edifícios são inspirados em Nova York, é um lugar sombrio e escuro, onde o caos e a criminalidade reinam. Uma clara oposição a Metrópolis, a cidade do Super-Homem, que facilmente identificamos com luz, cor… Curiosamente, ambas as cidades são inspiradas em Nova York e diz-se que Metrópolis representa o dia, enquanto Gotham representa a noite. Seguindo essa analogia, podemos descobrir que tanto o Batman quanto o Super-Homem são muito parecidos com suas respectivas cidades.
Batman teve sua vida contada em inúmeras histórias, filmes, (os mais conhecidos são os de Tim Burton e, recentemente, os de Christopher Nolan), séries de animação, etc. O Batman é um personagem facilmente identificável pelo público, assim como os vilões que protagonizam suas histórias, especialmente o Coringa.
A origem do Batman remonta a 1939, quando Bob Kane e Bill Finger publicaram sob o selo da Detective Comics o que seria o começo de uma era. Esse primeiro Batman dista muito da atualidade, evoluções, mudanças, novos personagens… A marca do Batman é, sem dúvida, muito extensa, mas não vamos abordar isso neste artigo, e sim tentar “desmascarar” esse super-herói obscuro.
Batman, a origem
Todos os heróis do mundo dos quadrinhos têm um ponto de inflexão, um passado trágico que fará suas vidas mudarem para sempre, que os marcará e os conduzirá a escolher o caminho da justiça. No caso de Batman, é a morte de seus pais. Bruce Wayne é a verdadeira identidade do Batman. Em sua infância, cresceu na cidade de Gotham com seus pais, cercado de luxo por pertencer a uma família rica.
No entanto, como diz o ditado “dinheiro não é tudo”, a vida do jovem Wayne se tornou problemática quando, depois de deixar o teatro com seus pais, um assaltante os assassinou diante dos olhos do pequeno Wayne que, na época, tinha 8 anos de idade. Este facto fez com que o Batman herdasse toda a fortuna e que se encarregasse do mordomo Alfred Pennyworth, que se converteria em sua figura paterna. Pennyworth é um homem de origem britânica, de maneiras impecáveis que, além de manter o refúgio do Batman, é uma espécie de conselheiro espiritual.
A morte de seus pais é o gatilho para Bruce decidir acabar com o mal, lutar sozinho contra a injustiça, para que situações como esta jamais aconteçam novamente. Talvez devamos chamar Batman apenas de herói, porque ao contrário dos super-heróis tradicionais, ele não possui habilidades sobrenaturais ou sobre-humanas. Bruce Wayne é um homem extremamente inteligente que, para realizar seu objetivo, decide estudar nas melhores universidades do mundo, com o objetivo de criar armas e aparelhos estranhos para ajudá-lo em sua luta; além disso, ele treina arduamente as artes marciais para alcançar uma condição física perfeita.
Após seu retorno a Gotham, constrói o que será seu personagem, sua nova identidade: Batman. O mais significativo desse personagem é, sem dúvida, sua roupa característica de morcego, mas por que um morcego? A resposta pode parecer óbvia se pensarmos na escuridão que envolve a cidade de Gotham: os morcegos saem à noite, estão associados ao mal e são temidos por uma grande parte da população. No entanto, Batman não escolheu este animal apenas por causa da escuridão que evoca, mas é uma maneira de se tornar seu próprio medo e enfrentá-lo.
Por que ser luz para combater a escuridão? Batman luta contra o mal a partir da sombra, de sua caverna, permanecendo no anonimato: Wayne temia os morcegos, assim como temia os criminosos, mas tornando-se seu próprio medo alcançou o “poder” que lhe faltava. Não há mais nada a temer, não há mais o que enfrentar, o medo era a principal barreira que poderia ser enfrentada e, ao se tornar a personificação dele, ele desaparece. Assim, Batman não só luta contra o mal, mas contra seus próprios medos.
Um dos pontos mais questionados por especialistas em psicologia e pela crítica tem sido a dualidade da personalidade desse super-herói, mostrando que, talvez, o personagem fictício seja Bruce Wayne e Batman a verdadeira personalidade. Para evitar suspeitas, Bruce Wayne se mostra como um homem rico e despreocupado, bastante mulherengo, embora colabore com obras de caridade. E nquanto isso, Batman é mais sério, obscuro e solitário, sendo esta a verdadeira personalidade do personagem. Desta forma, mostra um novo contraste com o clássico Super-Homem, onde o herói não é mais que um disfarce da verdadeira personalidade.
Batman como herói
A palavra herói vem do grego antigo e é um conceito que, atualmente, conhecemos graças à literatura, mitologia, cinema… A ideia do herói levanta a existência de um homem com características próximas da divindade, características que o levarão a combater o mal e o ajudarão a obter benefícios pessoais e para os outros. Segundo alguns filósofos como Platão, o herói seria uma espécie que se encontra no meio termo entre deuses e homens.
A ideia do herói tem mudado ao longo do tempo. Na Antiguidade, a mitologia era a que desenhava as características dos mesmos e, assim, temos exemplos como Aquiles. A imortalidade às vezes era ligada ao herói e, portanto, estava muito próxima da divindade. Nas tragédias, suas características eram superiores ao homem, mas não à natureza; e na Idade Média, falamos sobre heróis de guerras que protagonizaram canções épicas e livros de cavalaria, como Amadis de Gaula.
No mundo dos quadrinhos, o associamos a características sobre-humanas semelhantes à concepção mais clássica. Um dos pontos em comum dos heróis é a viagem; em toda a literatura universal, observamos viagens onde o herói cria a si mesmo, vence batalhas, supera adversidades e adquire honra.
No caso do Batman, assistimos a um herói atípico para o mundo dos quadrinhos por suas características totalmente humanas, mas assistimos à essa viagem, à essa criação do herói e à aquisição da honra e dos símbolos que o identificam.
Os vilões
Por trás de um super-herói, tem que haver um vilão, um personagem com características semelhantes que tenta arruinar seus planos. A construção do vilão é geralmente semelhante à do herói, mas tomando um novo caminho. No caso do Batman, cabe destacar que é ele quem cria seus vilões, ainda que indiretamente.
Do mesmo modo que Bruce Wayne decide combater o mal, surgem personagens que não se conformam com a luta do Batman e se tornam inimigos. Ao longo dos quadrinhos, conhecemos inúmeros personagens que decidem enfrentar o Batman. Deve-se notar que muitos também são mulheres, como a Mulher-Gato ou a Hera Venenosa, embora o mais conhecido seja o Coringa, cuja relação com o Batman é mais profunda do que parece e é colocada em questão em The Killing Joke (A Piada Mortal), obra de grande complexidade que vale a pena conhecer.
O Batman é um personagem facilmente identificável, mas complexo. Um personagem obscuro, envolto em uma atmosfera lúgubre e hipnótica que ainda nos fascina.
“O infortúnio, o isolamento, o abandono e a pobreza são campos de batalha que têm seus heróis”.
-Victor Hugo-