A carroça das emoções
Certa manhã, meu pai me convidou para dar um passeio no bosque e eu aceite com prazer. Ele parou numa clareira e, depois de um pequeno silêncio, me perguntou:
– Além do cantar dos pássaros, você está ouvindo mais alguma coisa?
Apurei os ouvidos alguns segundos e respondi:
– Estou ouvindo um barulho de carroça.
– Isso mesmo, disse meu pai. É uma carroça vazia.
Perguntei ao meu pai:
Como você pode saber que a carroça está vazia, se ainda não a vimos?
– Ora, respondeu meu pai. É muito fácil saber que uma carroça está vazia por causa do barulho. Quanto mais vazia a carroça, maior é o barulho que ela faz.
Tornei-me adulto, e até hoje, quando vejo uma pessoa falando demais, inoportuna, interrompendo a conversa de todo mundo, tenho a impressão de ouvir a voz do meu pai dizendo: “Quanto mais vazia a carroça, mais barulho ela faz …”
(Conto popular)
Agora, tente visualizar a carroça.
Podemos supor que quanto mais vazia a carroça, mais belo e luxuoso seja o seu design.
Eu a imagino com alguns sinos que tocam, com cores brilhantes, grandes e impecavelmente limpa, sem uma partícula de poeira ou a lama da estrada. Como se ela realmente tivesse se esquecido do seu verdadeiro propósito, ou para o que foi criada. Vejo-a altiva, chacoalhando na estrada. E fazendo muito barulho.
Com as pessoas é igual. Quanto mais vazios estão no interior, mais retumbará a sua presença, como se fossem sons de sinos tocando à distância.
A pessoas com alma vazia não têm nenhuma riqueza interna; elas decoram suas deficiências com discursos vazios, as mãos são preenchidas por objetos valiosos, usam seu tempo livre com banalidades, porque anseiam sentir que têm valor por dentro.
Elas nos avisam que chegam como a sétima cavalaria, já que o maior medo desse tipo de pessoa é estar presente sem ser notada.
Pode ser que a carroça delas esteja tão vazia que querem preenchê-la às suas custas. Usam a sua energia de forma muito sutil, mas podem prejudicar gravemente o seu carregamento.
Proteja-se destas pessoas cascavéis. Aprenda a identificá-las. Como o pai do conto, reconheça-as pelo som. O equilíbrio é essencial.
As emoções em nossa própria carroça
Partindo do princípio de que não queremos ser pessoas de carroça vazia, o próximo passo é decidir o que nós queremos incluir nela. Mas tenha cuidado, pois se nós a preenchermos exageradamente, podemos forçá-la demais e ela poderá se quebrar.
Você pode escolher o que preencherá a sua carroça, mas lembre-se de que o sucesso está na harmonia do todo. Não encha-a demais; pense no espaço. As emoções são justas e necessárias, e no equilíbrio encontra-se o bem-estar.
Preocupe-se em trazer amor, alegria, tristeza, surpresa e dor. As emoções básicas são necessárias. Todas elas não podem existir sem as outras, e para desenvolver qualquer uma delas, é necessário incluir as outras quatro.
– O amor para ser grande
– A alegria para compartilhá-la
– A tristeza para apreciar a alegria
– A surpresa para inspirá-lo
– A dor para seguir em frente
As emoções essenciais pesam muito, então o ruído da sua carroça se reduzirá significativamente.
Cuide para não incluir as emoções que desperdiçam a sua energia, como o ciúme, inveja ou ressentimento. A presença delas mancha a autenticidade das emoções verdadeiras. Se você deseja economizar peso, não hesite em livrar-se delas.
O mais importante de tudo é sempre a humildade. Humildade é o que distingue um carrinho cheio de um vazio. Nunca deixe que o orgulho prejudique a sua carroça, pois só a humildade constrói, o orgulho só destrói.
Não leve quinze amigos a bordo, leve apenas um que valha como vinte. Alguém que esteja com você, e que lhe ajude a experimentar o amor, a alegria e a surpresa, e que dará a mão à você quando você sentir tristeza e dor. Não desperdice espaço.
Desapegue-se de troféus ou medalhas que você ganhou. Solte-os. Saiba que o excesso de peso pode fazer com que você se torne arrogante e até mesmo inviabilizar a sua jornada.
As verdadeiras conquistas estão no coração, então esqueça os copos de estanho.
Desta forma, você vai levar a carroça mais completa possível, tão silenciosa que cria uma aura de mistério. Os pedestres irão desejar descobrir o que a faz tão silenciosa, qual será o tesouro escondido nela.
Deixá-los descobrir os seus segredos é onde mora a verdadeira humildade. Paradoxalmente, sua carroça será a mais bela de todas.
Não viva para que a sua presença seja notada, mas sim para que a sua ausência seja sentida.