O cérebro reptiliano e os viciados em poder

O cérebro reptiliano e os viciados em poder

Última atualização: 02 junho, 2017

O cérebro reptiliano e a necessidade de poder sempre andam de mãos dadas. São personalidades regidas pelas emoções mais primitivas, as mais agressivas e sem empatia, nas quais só se respira o prazer do domínio e a preocupação por si mesmo. Nas suas mentes não existe o autocontrole, e menos ainda a consideração pelos outros.

Foi Paul D. MacLean que em 1952 propôs a sua teoria evolucionista do cérebro triúnico para explicar os processos emocionais e suas mudanças ao longo da nossa evolução como espécie. Segundo o célebre psiquiatra e neurocientista, o ser humano continua preservando até hoje essas três estruturas básicas: um cérebro reptiliano, o sistema límbico e um cérebro mais novo e complexo responsável pelas funções superiores, o neocórtex.

“O segredo da sabedoria, do poder e do conhecimento é a humildade.”
-Ernest Hemingway-

Embora seja verdade que os neurologistas concordam com esta concepção que faz alusão à evolução biológica do nosso cérebro, não é menos verdade que se mostram céticos diante da ideia de um cérebro “fragmentado” e sem harmonia. Acreditam que defender este último conceito seria como defender a distinção radical e quase obsessiva entre o hemisfério direito e o hemisfério esquerdo que esteve tão na moda durante alguns anos.

É preciso ver o cérebro humano como um todo, pois de outra forma estaremos enganados. Não é um quebra-cabeças, mas sim um órgão com certas áreas especializadas que se conectam umas com as outras para executar determinadas funções em conjunto, como uma equipe eficaz e sempre perfeita. Mas, às vezes, é verdade, pode ressaltar a ativação de uma parte, em especial se estivermos falando de emoções.

As pessoas que guiam seus comportamentos em função dos seus instintos, deixando de lado esse controle emocional e esse controle que o sistema límbico e o neocórtex exercem, estarão agindo sob o conceito de uma parte muito especial e exclusiva do cérebro: o cérebro reptiliano.

O cérebro reptiliano e nossas decisões irracionais

Já falamos que existe um tipo de personalidade muito especial que se deixa guiar exclusivamente pelo cérebro reptiliano: os que são aferrados à territorialidade, ao controle, ao domínio ou mesmo à agressão. Isso significa dizer que o resto das pessoas tem essa área profunda, íntima e atávica do cérebro “desligada”?

De forma alguma, e isto é bem sabido por muitos especialistas em neuromarketing. Esse cérebro reptiliano, esse velho e obscuro companheiro, também controla muitas de nossas funções básicas, de nossos instintos. De fato, tarefas como a respiração ou sensação de fome e de sede estão sob seu controle, assim como as emoções mais primitivas como o desejo, o sexo, o poder, ou mesmo a violência como meio de sobrevivência.

A indústria da publicidade sabe bem que o ser humano se rege quase sempre pelo cérebro reptiliano na hora de se encantar por um produto ou outro. Na maioria das vezes, ao sacar o nosso cartão de credito procuramos saciar nossos desejos, nossos instintos, necessidades e prazeres.

O fumante, por exemplo, continuará comprando cigarro mesmo sabendo que pode morrer, e o fará simplesmente porque precisa saciar o seu vício. Nestes casos, o neocórtex, o cérebro mais lógico, não tem voz nem voto. Tanto é assim que os especialistas em neuromarketing sabem que o seu poder de decisão nestes casos não supera 20%.

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Os viciados em poder e o baixo controle emocional

Comparar uma pessoa déspota e controladora com a personalidade de uma criança de 3 anos é, às vezes, uma equivalência bastante correta. E é por uma razão muito simples: pelo seu escasso controle na hora de administrar as emoções. David McClelland, reconhecido psicólogo motivacional e famoso pela sua teoria das necessidades, explicou que o ser humano se caracteriza basicamente por três objetivos: o de afiliação, o de conquista e o de poder.

“Exercer o poder corrompe, submeter-se ao poder degrada.”
-Mijaíl Bakunin-

Em geral cada um de nós se destaca por uma necessidade. Haverá quem valorize mais os relacionamentos, quem aspire conseguir determinadas conquistas e quem, simplesmente, só tenha uma única obsessão: exercer o poder no âmbito que lhe seja possível. Neste último acontece algo muito especial ao mesmo tempo que curioso: quanto maior a necessidade de poder, menor o controle emocional; portanto, maior é a influência do cérebro reptiliano.

Estas serias as características básicas de um perfil associado a este tipo de personalidade.

  • São enérgicos, muito inclinados ao exterior e a estabelecer novos relacionamentos sociais para com os quais aparentam grande amabilidade, proximidade e uma abertura exagerada.
  • Contudo, esta abertura esconde na verdade um interesse camuflado: conhecer para controlar, intuir para chantagear e criar alianças com as quais obter mais poder.
  • São pessoas que estão sempre na defensiva. Por muito pouco se sentem feridas ou traídas; quando isto acontece não hesitam em reagir com agressividade.
  • Costumam perder os estribos com facilidade porque o cérebro reptiliano carece de filtros, de mecanismos de controle para administrar a ira, a raiva, a irritação ou mesmo o medo.
  • São incapazes de ser receptivos ou empáticos para com as necessidades alheias, porque esta estrutura interior e profunda do cérebro carece de coerência emocional, de equilíbrio, de uma boa solução para diferenciar os instintos da razão.
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Para concluir, apesar de muitos de nós conhecermos alguma pessoa com este perfil, é preciso ressaltar que o cérebro reptiliano guia, sem dúvida, muitas de nossas reações e escolhas. Contudo, não devemos permitir nunca que assuma o controle de cada um de nossos próprios comportamentos.

A teoria do “cérebro triúnico” é útil para entender o mundo das nossas emoções, e acima de tudo, para sermos conscientes dessa necessidade final de investir tempo e esforço em conseguir um adequado desenvolvimento emocional. Assim como exercitamos nosso corpo e procuramos cada dia cultivar nosso intelecto, sejamos mais habilidosos administrando esses impulsos, essas emoções primitivas que, mesmo que seja difícil de acreditar, regem grande parte de nossas vidas.

Imagem principal cortesia de Nicoletta Ceccoli.


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