Como criamos expectativas sociais e como elas nos afetam

Como criamos expectativas sociais e como elas nos afetam
Alejandro Sanfeliciano

Escrito e verificado por o psicólogo Alejandro Sanfeliciano.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Todos os dias lidamos com várias pessoas, entre elas algumas que são muito conhecidas e outras não. E temos um conceito formado sobre a personalidade de cada uma delas, inferido através das interações que tivemos com essas pessoas. Isso nos leva a criar uma série de expectativas sociais sobre o comportamento de cada uma delas.

A psicologia social tem se preocupado bastante com o estudo das expectativas. Graças a isso, sabemos que elas estão intimamente relacionadas às impressões que temos dos outros. Em primeiro lugar, vamos falar sobre a nossa percepção social.

Percepção social

O ser humano, ao nascer desprovido dos recursos para ser independente, precisa de relações sociais complexas. Portanto, nosso cérebro está preparado para perceber o nosso ambiente social e avaliá-lo. Uma parte muito importante para controlar nossos relacionamentos é saber como são as pessoas que compõem o nosso ambiente social. E é aí que entra a percepção social.

Uma forma simples e interessante para explicar este fenômeno é o modelo de percepção social de Fiske. Segundo este modelo, assim que conhecemos uma pessoa, a colocamos em uma categoria. E ela permanecerá nessa categoria, a menos que aprofundemos o relacionamento e descubramos algo que nos convide a mudá-la.

Além disso, se tivermos esse interesse, iremos comprovando se o comportamento dessa pessoa se adapta a essa categoria; em caso de isso não ocorrer, iremos adaptando ou mudando a categoria até que tenhamos essa pessoa categorizada ou conceitualizada.

Dois homens envoltos por expectativas sociais

Este é um processo muito importante; sem ele a tarefa de gerenciar nossos relacionamentos seria muito mais complicada. Mas é importante ter em conta que esse é um processo rápido e útil, mas não muito preciso. As pessoas têm uma personalidade complexa em forte interação com o contexto, que dificilmente pode ser incluída dentro de categorias. No entanto, este pequeno “atalho mental” é útil para sabermos como tratar as pessoas do nosso ambiente.

Assim que tivermos o nosso ambiente social categorizado e tivermos formado conceitos de cada uma dessas pessoas, vamos começar a criar expectativas. Mas o que são exatamente as expectativas?

Expectativas sociais

As expectativas sociais são ideias que temos de como uma pessoas do nosso ambiente social vai se comportar no futuro perante uma determinada situação. Quando geramos uma impressão sobre uma pessoa, associada à imagem que criamos, aparecem essas expectativas. Isso nos ajuda a imaginar como temos que nos comportar e a prever seu comportamento.

Esta conduta de criar expectativas sobre nossos relacionamentos cumpre uma função adaptativa. É bastante simples intuir qual é: em um ambiente artificial, baseado em sociedades complexas como as que a maioria de nós habita, prever o comportamento dos outros permite adaptar as nossas condutas, e assim sair beneficiados das interações sociais. Apesar de não ser um processo preciso, poder fazer uma antecipação e errar às vezes é melhor do que não a realizar ou não acertar nunca.

É importante saber que estas expectativas sociais ou da conduta dos outros afetam em grande medida o nosso comportamento. Não tratamos todas as pessoas da mesma forma, e não tratamos a mesma pessoa da mesma forma em diferentes situações. Isso pode ser observado em várias situações cotidianas.

Além disso, vamos tentar fazer com que os outros cumpram com as nossas expectativas, seja forçando-os de forma indireta ou alterando a nossa percepção do que os outros fazem. Além do mais, este processo não ocorre apenas nessa direção: como nós também somos conscientes das expectativas que os outros têm de nós, iremos adequar o nosso comportamento para satisfazer as ideias dos outros.

Uma pequena reflexão

Nossa vida está cheia de expectativas sociais, tanto nossas sobre os outros como dos outros sobre nós. Neste sentido, para que nossos relacionamentos sejam sejam confortáveis, temos a tendência de cumprir essas expectativas, já que romper com elas pode gerar um espaço de incerteza e, portanto, ansiedade. Mas atenção: devemos ter em mente que este não é um processo preciso e, portanto, muitas vezes essas expectativas não serão atendidas.

O erro ao atribuir uma expectativa conduz a três situações: (a) a pessoa que recebe a expectativa muda seu comportamento para se adaptar a ela, (b) a pessoa que cria a expectativa muda sua percepção para acreditar que ela se adapta às suas expectativas, e (c) quebra-se a correlação entre expectativa e conduta, e assume-se como erro.

Duas amigas conversando e sorrindo

Embora as duas primeiras opções evitem o conflito social e consigam, no início, manter qualquer relacionamento, a verdade é que elas também podem levar a grandes problemas a longo prazo. Isso ocorre porque, na primeira opção, a pessoa muda seu comportamento para satisfazer a outra, o que faz com que a outra pessoa crie uma ideia errônea de como ela é na realidade. E, no caso da segunda opção, a pessoa que cria a expectativa está enganando a si mesma de forma inconsciente sobre como a outra pessoa é.

A terceira opção é a que causa uma maior ansiedade, devido à falta de controle sobre o ocorrido. Apesar disso, se o relacionamento supera ou assume esta ansiedade, surgirá uma relação mais estável. É possível que em relações momentâneas (por exemplo, um vizinho), as duas primeiras opções sejam as corretas, já que não existe um relacionamento a longo prazo nem uma ligação próxima com elas. No entanto, seria uma grande negligência nos comportarmos assim com as nossas relações mais profundas.

Agora pense: como você acha que se comporta em relação às suas expectativas sociais? E como você gostaria de se comportar?


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.