A corrupção começa com as pessoas anônimas
Tornou-se uma prática comum que todos nós nos queixemos da corrupção e nos assombremos com a falta de decência que muitas pessoas de poder podem demonstrar, principalmente os políticos. O jornal relata novos casos todos os dias e todos nós percebemos que isso é apenas a ponta do iceberg.
A corrupção é muito prejudicial para uma sociedade. Significa uma ruptura com o pacto que está na essência de toda sociedade: a lei. Também implica um ato perverso, enquanto transforma os outros em vítimas passivas de danos. Mais perverso ainda se levarmos em conta que muitos dos corruptos roubam um dinheiro de que não precisam, encorajados apenas pelo prazer antissocial de se aproveitar dos outros.
“Parar de lutar por causa da corrupção que está ao seu redor é como cortar o pescoço porque há lama lá fora”.
– Nicolae Lorga –
Tudo isso é uma fonte de profunda indignação. No entanto, há outra corrupção da qual não se fala muito. São os cidadãos comuns que também participam dessa lógica, embora seja em uma escala muito menor.
A lei e a corrupção
A lei utiliza um discurso que impõe limites e obrigações a todos os membros de uma sociedade. Nós podemos até discordar da lei, mas ela é, de fato, uma das grandes forças que impulsionam a história: o debate em torno do que a lei propõe. Dessas contradições surgem novas leis e se extinguem as antigas. Ou elas se misturam.
Quando você está em desacordo com a lei, existem mecanismos para obrigá-lo a cumpri-la. Ninguém quer obedecer cegamente à lei. No entanto, muitas vezes, as consequências podem ser muito sérias em termos pessoais. Enquanto a lei estiver em vigor, só temos a opção de cumpri-la até que possamos mudá-la.
A corrupção nasce quando um discurso de deveres e obrigações aparece paralelamente ao que está estipulado na lei. Tal discurso, ao contrário do legal, é orientado a buscar o bem individual e ignora completamente o bem social. Então, tudo que implica lucro para si mesmo se torna legítimo. Os outros não são seus iguais cujos direitos devem ser reconhecidos, mas meios ou obstáculos para a realização dos seus desejos. Portanto, eles não contam. A lógica da corrupção é, fundamentalmente, o interesse individual.
O cidadão e a corrupção
Devemos nos perguntar se são apenas os políticos, ou as pessoas de poder, que agem com essa lógica de tirar vantagem para si mesmos, embora isso não respeite os direitos dos outros. Se algumas situações cotidianas forem examinadas, poderemos comprovar que muitas pessoas operam dentro dessa lógica de corrupção. Cumprir a lei e renunciar às próprias satisfações em função do bem comum não é uma atitude popular.
Pelo contrário, o que prevalece com maior força é o individualismo. Em algumas sociedades isso chega ao extremo. As leis se tornam basicamente letra morta. O que vale são as regras dos mais inescrupulosos. O legal é obedecido somente quando alguém está vendo. A corrupção invade a nossa vida com pequenas ações, como “furar fila” ou se aproveitar da amizade de alguém para conseguir um privilégio.
Talvez por isso os grandes atos de corrupção continuem acontecendo. No fundo, eles são tolerados por toda uma sociedade que, em vez de proibi-los com rigor, os toma como um exemplo para o seu próprio modo de agir. Ou simplesmente se torna uma testemunha passiva de tudo isso e não quer complicar a vida tentando intervir para estabelecer limites.
Além dos danos econômicos ou políticos causados pela corrupção, o mais grave é a maneira como esse fenômeno corrói a cultura. Os laços sociais se deterioram como resultado da corrupção. A confiança se desfaz e o senso de autoridade começa a desaparecer.
Nesse ponto, os comportamentos civilizados começam a ser questionados. Na prática, prevalece a lei do mais forte, e o que era uma sociedade civilizada vai se tornando um bando de pessoas que avançam sem rumo.