Desenvolvimento das normas: até as que não conhecemos nos controlam

Desenvolvimento das normas: até as que não conhecemos nos controlam
Roberto Muelas Lobato

Escrito e verificado por o psicólogo Roberto Muelas Lobato.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Como ocorre o desenvolvimento das normas? As normas são ideias que ocupam nossas mentes e indicam o que deve ou o que deveria ser feito. Também podem expressar o que é esperado que façamos e, em geral, são compartilhadas por um grupo de pessoas. Todos os grupos têm suas próprias normas e estas não são inócuas porque indicam e influenciam a maneira de sentir, pensar e atuar de cada um dos componentes do grupo.

Nas ocasiões em que a identidade grupal é importante, as normas do grupo vão guiar o comportamento. Se estamos andando em uma rua e encontramos um mendigo pedindo dinheiro, pode ser que demos algo ou não. Mas se somos membros de um grupo de caridade religioso cuja norma é dar esmola, é muito provável que demos dinheiro a ele. Isso se deve ao fato de que dar esmola seria uma norma de nosso grupo.

“Quando falamos de nossa herança e nossos ideais, nosso código e nossas normas – as coisas que vivemos e ensinamos a nossos filhos – sabemos que elas são conservadas ou diminuem de acordo com a liberdade que temos para trocar ideias e sentimentos”.
-Walt Disney-

Desenvolvimento das normas

As normas de um grupo podem ser negociadas – elas podem surgir de um acordo entre os membros do grupo. Ou, também, podem ser estabelecidas a partir do comportamento das pessoas de forma implícita. Quando estes são imitados pelos demais membros, acabam se convertendo em normas do grupo. A imitação pode ser devido ao fato de que as ações observadas satisfazem alguma função ou ajudam na sobrevivência do grupo.

Mas estas não são as únicas formas como as normas nascem. Elas também podem se desenvolver de uma forma bem menos democrática. Pode ser que o líder de um grupo seja a pessoa que decide sozinho as normas, ou seja um membro exemplar do grupo e acabe criando normas sem querer. Quando um membro especialmente representativo ou exemplar se sobressai e começa a sentir, pensar ou agir de modo diferente, uma tensão é gerada. Esta é resolvida, dentre outras formas, quando o resto dos componentes do grupo integram essa nova forma de comportamento entre as suas normas.

“Normas e modelos destroem o gênio e a arte”.
-William Hazlitt-

Pessoa escrevendo

Tipos de normas

São dois os tipos de normas que podem existir nos grupos. Falamos aqui de normas descritivas e normas prescritivas. As normas descritivas são aquelas que correspondem ao que os membros de um grupo fazem em uma dada situação. Quando não sabemos o que fazer, buscamos informação no comportamento dos demais. Desse modo, podemos, na pior das hipóteses, imitá-los. Além disso, se os demais nos apoiam depois que nós os imitamos, é fácil entender que continuaremos fazendo isso. Essas normas surgem geralmente a partir da imitação dos membros mais importantes do grupo.

As normas prescritivas indicam o que os membros do grupo aprovam ou desaprovam. Elas indicam o que pode ser feito e o que não pode ser feito. São dotadas de moral, mostram o que é considerado bom e o que é considerado ruim. Seu cumprimento é motivado por prêmios e castigos que o grupo impõe. Aqueles que não as cumprem são castigados, e os que as seguem são reforçados e premiados.

Funções das normas

As normas dos grupos têm diferentes funções. Podemos distinguir entre as funções individuais, as que afetam a cada membro do grupo quando olhados separadamente, e as funções sociais, que afetam o grupo como um todo, a todos os seus membros. A principal função individual das normas é a de proporcionar uma direção para entender a realidade. As normas grupais indicam a cada pessoa como funciona o mundo, como devem pensar, sentir e agir.

Entre as funções sociais, podemos destacar diferentes objetivos. Nesse caso, regulam as relações entre os membros. Indicam como se comportar em relação a demais pessoas. Também deixam claro quais são as funções e metas do grupo. Por outro lado, elas mantêm uma identidade grupal.

A ovelha negra da família

O efeito ovelha negra

Se existem normas, existe quem vai quebrá-las. Os membros dos grupos sempre têm a possibilidade de passar por cima de suas regras. Nesses casos, os grupos contam com outras normas que tratam de impedir que isso aconteça. Normalmente a norma a seguir é repreender os membros que não respeitam o estabelecido. Ao contrário, aos membros que respeitam são destinados prêmios e eles são reconhecidos como os exemplos perfeitos. Isso é denominado o efeito ovelha negra.

Isso serve para se livrar dos membros do grupo que contribuem negativamente para a identidade social. Vamos dar um exemplo a seguir.

Quando alguém que faz parte de um grupo começa a destoar do resto, o grupo como um todo começa a se afastar da pessoa e a olhar o sujeito a partir de uma posição de reprovação. Com esse afastamento, aquela pessoa deixa de ser reconhecida como alguém do grupo. A pessoa é considerada uma ovelha negra, que não mais se encaixa, de forma que a identidade seja mantida.

“Quando alguém não se encaixa das normas culturais, a cultura deve se proteger.”
-Robert M. Pirsig-


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