O desprezo causa danos psicológicos

O desprezo causa danos psicológicos
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

O desprezo tem a forma de uma palavra que fere e desmoraliza. Ele também é um gesto, uma sobrancelha arqueada que reflete a rejeição por aquilo que se diz ou se faz em um dado momento.

Poucos comportamentos são tão prejudiciais para a integridade psicológica como esses que, gradualmente, acabam rompendo um relacionamento de casal, ou marcam para sempre o desenvolvimento de uma criança.

Apesar de estarmos mais acostumados a falar e ler sobre os aspectos relacionados com o ódio e a indiferença, cabe indicar que o desprezo é, sem dúvida, a emoção mais letal.

Ela é uma arma de destruição em massa que requer um pouco mais de sofisticação. Desse modo, enquanto a raiva ou a indiferença podem ser reações pontuais e momentâneas, o desprezo se origina em um território subterrâneo muito mais obscuro.

Quem despreza tem a clara intenção de humilhar o outro. Procura ridicularizar, diminuir e, inclusive, anular a outra pessoa de maneira aberta e evidente. Faz isso buscando a oportunidade perfeita, e a consegue praticando diariamente até deixar uma ferida na mente, uma fratura no amor próprio e rompendo para sempre com o laço da confiança.

Pais, mães, casais, colegas de trabalho, etc. O desprezo pode ser escancarado ou surgir de maneira discreta e enigmática. Seja como for, existe algo que nós devemos ter em conta: quem despreza mostra um comportamento covarde que se alimenta do ressentimento e da falta absoluta de maturidade emocional.

“Se você conseguir não desprezar ninguém, terá se livrado do perigo de muitas fraquezas”.
– Charles Dickens –

Casal jovem tendo discussão

O desprezo cotidiano que rompe os relacionamentos

Todos, de algum modo, temos em mente a lembrança de uma situação em que sentimos a ferida do desprezo. Talvez tenha sido na infância, quando alguém não compreendeu o nosso esforço ao fazer aquele desenho, aquele detalhe que, em um dado momento, foi criticado e até ridicularizado.

Pode ser que algum dos nossos pais tivesse, inclusive, essa peculiar capacidade de menosprezar cada coisa realizada, dita ou desejada.

Também existe a possibilidade de nós termos passado por um relacionamento afetivo em que o nosso companheiro tinha esse hábito. A mania de criticar os nosso gostos, de menosprezar as opiniões, de implicar com cada coisinha que fazíamos ou deixávamos de fazer.

Não é casualidade que John Gottmann, um psicólogo e famoso especialista em relações amorosas, tenha anunciado depois de uma pesquisa de quase quatro décadas que o desprezo é um dos fatores que anuncia a maioria das separações.

Vejamos em profundidade quais são as dimensões que costumam definir o ato de desprezo.

A anatomia do desprezo

  • O desprezo é o lado oposto da empatia.
  • Enquanto a empatia é a capacidade de se abrir ao outro e se conectar com a sua realidade e necessidades, o desprezo faz o contrário. Primeiro ele constrói um muro, e depois se ergue sobre ele em uma atitude de poder para humilhar e diminuir o outro.
  • Desse modo, as crianças que crescem em ambientes caracterizados pelo desprezo e a humilhação têm uma probabilidade maior de desenvolver uma baixa autoestima, sentimentos de culpa, vergonha e até transtorno de estresse e a ansiedade.
  • As pessoas habituadas a desprezar os outros costumam ter certos pontos em comum. São perfis que não toleram a desavença e não se conectam, nem percebem as necessidades alheias. Além disso, outra característica delas é que não são muito hábeis se comunicando, por isso adotam as caretas faciais, emitem suspiros, mostram o seu profundo desprezo com a postura e o olhar.
  • Por trás desses perfis costumam existir certas dimensões psicológicas. Elas são pessoas cheias de frustração e até mesmo de ira soterrada. O exercício do desprezo serve a elas para projetar e jogar nos outros as suas próprias emoções negativas, a sua insatisfação pessoal.
Criança vítima do desprezo dos pais

O desprezo e o dano psicológico

O desprezo contínuo cria não só o dano psicológico, mas também prejudica a própria saúde. A Universidade da Pensilvânia realizou um estudo em uma série de centros escolares e descobriu alguns fatos interessantes.

O primeiro deles foi o efeito que esta dimensão tem sobre a autoestima: todos aqueles alunos que haviam sido vítimas das humilhações e do desprezo tinham uma visão mais fraca e negativa de si mesmos.

Desse modo, o desprezo e as situações repetitivas de estresse e vulnerabilidade têm um sério efeito em nossa imunidade. É comum que tenhamos mais resfriados, alergias, problemas digestivos, infecções, etc.

Devemos entender que o desprezo é a dimensão mais prejudicial que nós podemos receber e oferecer aos outros. É um maneira de invalidar, é uma falta absoluta de compaixão e empatia, é causar dor em outras pessoas e alimentar a semente da preocupação e do medo.

Esta atitude acaba rompendo com as nossas relações afetivas e faz com que as nossas crianças cresçam com medo e com um autoconceito fragmentado e fraco.

Vamos refletir sobre isso, lembrando aquilo que Honoré de Balzac disse a respeito desse mesmo assunto: “As feridas incuráveis são aquelas infringidas pela língua, os olhos, a chacota e o desprezo”.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.