Divertir-se em excesso não significa ser feliz

Divertir-se em excesso não significa ser feliz

Última atualização: 08 janeiro, 2017

A discussão sobre o conceito do que é ser feliz ou não pode ser interminável. A felicidade é um conceito abstrato e é difícil discutir sobre o assunto sem cair em um “beco sem saída”. A diversão, no entanto, é muito mais fácil de entender, pelo menos aparentemente: diversão é tudo aquilo que quebra a rotina e lhe dá satisfação.

A má notícia é que ser feliz e se divertir não são sinônimos. Alguém pode se divertir e não ser tão feliz. O contrário também pode acontecer: a pessoa não realiza muitas atividades divertidas, mas é feliz.

“A minha felicidade consiste em apreciar o que tenho e não desejar em excesso o que não tenho”.
-León Tolstoi –

Mas, o que é tudo isso? É simplesmente uma introdução para chegar a um ponto que deve ser motivo de reflexão: no mundo atual, a diversão tornou-se praticamente uma obrigação. Os infelizes só são bem-vindos nas igrejas e em clínicas psicológicas. Por esta razão, a diversão em excesso pode ser uma forma de encobrir uma grande infelicidade.

A obrigação de se divertir para parecer feliz

Alguns a chamam de “sociedade da Coca-Cola”. Você se lembra do que um dos primeiros slogans dessa empresa pedia? “Divirta-se!”, dizia. E mostrava pessoas sorrindo e vivendo felizes”, ou seja, rodeados por muitos amigos, viajando, se aventurando, comendo comidas deliciosas ou parecendo um “casal de revista”.

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Nas últimas décadas, muitas pessoas não pararam de seguir essa regra. Uma das palavras mais assustadoras no mundo de hoje é o “tédio”. E presume-se que o oposto do tédio seja o dinamismo em excesso, muitos “finais de semana” divertidos. Muitas pessoas dizem: “O que eu mais gosto nele é que me faz rir” ou “O que eu mais gosto é que ela não leva as coisas tão a sério”.

Supõe-se que para ser feliz é necessário ser sorridente e parecer com as pessoas dos comerciais do Coca-Cola ou de algum creme dental. Expressões que não são sorrisos, são “cara feia”. Se você tem alguma dificuldade, sempre aparece alguém que quer ajudá-lo, convidando para uma festa ou aconselhando a introduzir mais diversão na sua vida.

Diversão e culpa

A obrigação de se divertir é tão forte que, por vezes, acabamos nos sentindo culpados quando pensamos que não estamos desfrutando o suficiente, ou que não temos as ferramentas emocionais para aproveitar “como Deus manda”.

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A diversão, o momento de festa, aparece na história da humanidade como algo sagrado. Cada cultura tem reservados momentos especiais para interromper a vida diária e compartilhar um tempo com a comunidade. Representavam momentos muito emocionantes porque eles supostamente compartilhavam a alegria, expressões artísticas e um encontro afetivo com os outros.

A eterna festa do mundo atual, no entanto, está se tornando cada vez mais ligada a fins comerciais programados. Em muitos casos, tem a sua origem no tédio e não na intenção de celebrar. Mas o pior é que, quando ela se torna uma prática contínua, também se torna parte de uma rotina, que tira seu encanto e a diversão.

Divertir-se não é sinônimo de ser feliz

Houve um tempo em que a diversão e a satisfação eram vistas como inimigas da virtude. O sexo foi demonizado e visto como uma área em que os seres humanos poderiam começar um processo para a decadência. O prazer era algo para pessoas pouco evoluídas, irracionais, e por isso se entregavam à satisfação de seus instintos.

Graças às contribuições de muitas disciplinas, incluindo a psicologia, foi compreendida e difundida a ideia de que, ao contrário do que a maioria pensava, o prazer, a satisfação e a diversão eram componentes legítimos de uma boa saúde mental; que a repressão do desejo era algo negativo e poderia aumentar significativamente as neuroses das pessoas.

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Atualmente, parece que a ideia que deve ser divulgada é exatamente o contrário: nem tudo pode ser desfrutado e as frustrações e as carências também desempenham um papel importante no desenvolvimento e crescimento emocional. O que é demonizado hoje em dia é tudo aquilo que não implica diversão ou prazer. O divertimento não exclui ou responde as questões sobre o sentido da nossa existência; o fato de nos divertirmos não significa termos resolvido o enigma da felicidade pessoal.

Imagens cortesia de Pierre Manning, Classic pop-art Coca-Cola.


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