Dor crônica: a doença invisível

Dor crônica: a doença invisível
Gema Sánchez Cuevas

Escrito e verificado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Última atualização: 17 fevereiro, 2020

O processo para eliminar ou pelo menos aliviar a dor parece muito simples: vamos ao médico, ele nos indica o tratamento adequado e a dor desaparece. Mas nem sempre é assim. Um dos grandes desafios para a medicina é a dor crônica. O que acontece quando nada a alivia? Como controlar algo tão confuso e cansativo quanto a dor constante?

A pessoa que sofre com uma dor crônica sente como se milhares de agulhas estivessem espetadas no seu corpo de maneira constante, afetando a sua vida não só no nível físico, mas também emocional, cognitivo e relacional. Dessa forma, o estresse contínuo ao qual a pessoa está sujeita, juntamente com as limitações que a dor crônica lhe impõe, fará com que em determinados momentos as suas concepções sobre o mundo, a vida e os seus relacionamentos fiquem abaladas.

“Há dores que matam, mas existem dores mais cruéis, aquelas que nos deixam viver sem nos permitir apreciar a vida”.
– Antonie L. Apollinarie Fée –

Esta situação não é difícil somente para a pessoa que sofre de dor crônica. As pessoas próximas e os amigos também experimentam alguma dificuldade, especialmente quando a ignorância, a incompreensão ou o cansaço tomam as rédeas da situação. Como já enfrentaram diferentes tipos de dor ao longo das suas vidas, acreditam que têm a capacidade de compreender o que está acontecendo. No entanto, como é algo subjetivo e dependente das próprias sensações, fica muito difícil para as pessoas se colocarem na situação da pessoa que sofre.

O que a psicologia pode fazer pela dor crônica?

A dor é um aviso do nosso corpo que nos alerta que algo não está bem. Mas, o que acontece quando a dor persiste depois que as recomendações médicas foram seguidas? A vida pode se tornar ameaçadora para a pessoa que sente dor. As atividades do dia a dia se transformam em sofrimento e ela pode ver o futuro de forma desesperada.

Mulher que sofre de dor crônica

Esta sensação de estar à mercê da dor como uma folha ao vento é muito prejudicial à autoestima do sofredor, embora seja verdade que o grau de incapacidade que uma dor crônica acarreta depende da situação de cada pessoa. No entanto, independentemente do grau de autonomia e funcionalidade que se experimenta, a situação pode ser vivenciada como algo limitante e frustrante.

Em termos gerais, de acordo com os especialistas entende-se que há uma dor crônica quando ela dura mais de seis meses e não é aliviada por tratamentos médicos ou cirúrgicos. Embora haja medicação para aliviar os sintomas, a psicoterapia também pode ser de grande ajuda nesses casos.

Além do alívio e dos efeitos práticos no dia a dia, trabalhando a aceitação e o empoderamento da pessoa a psicoterapia pode reforçar e aumentar o sentimento de “controle sobre a própria vida”.

“A alegria e a tristeza não são como o óleo e a água, elas coexistem”.
– José Saramago –

Desafiando a dor

Existem várias técnicas para lidar com a dor crônica. Focaremos aqui nas técnicas mostradas no “Manual da Dor”. (Moix e Kovacs, 2009).

Uma das melhores formas de enfrentar uma adversidade é saber como funciona o que está nos desestabilizando. A partir do entendimento e conscientização do problema, encontraremos melhores estratégias para enfrentá-lo e o nível de tensão acumulado pela incerteza será reduzido.

Conhecer os processos atencionais e como direcionar o foco da atenção é fundamental para tomarmos consciência do nosso poder sobre a dor. Dessa forma, treinar a nossa atenção para orientá-la para estímulos relaxantes será de grande ajuda, em vez de nos concentrarmos nessa dor desgastante.

“O homem que a dor não educou será sempre uma criança”.
  – Nicolás Tommaseo –

Outro aspecto importante é perceber que o desconforto gerado pelo desânimo fortalece e alimenta a doença. O medo, o estresse, o cansaço ou as dificuldades para dormir aumentam a dor. Sabendo disso, podemos trabalhar na direção oposta, isto é, concentrando as emoções, os pensamentos e os comportamentos de uma forma que nos tragam bem-estar em vez de contribuir para aumentar a dor. Por menor que seja esse alívio, será a nosso favor.

Mulher com dor crônica

Mãos à obra

Precisamos fazer a nossa parte e abordar o problema do ponto de vista da ação e começar a trabalhar nele. Alguns dos principais pontos dos protocolos de ação são:

  • Relaxamento e respiração: são essenciais para aliviar a tensão muscular. O relaxamento não é apenas repousar e se desligar fisicamente a nível muscular, existem outros métodos como ir ao cinema, comer em um restaurante, ouvir música, conversar por telefone com um amigo, caminhar… também ajudam a relaxar.
  • As emoções são outro ponto forte do processo. Conhecê-las, entender como elas afetam o ciclo da dor, trabalhar as técnicas de distanciamento, pode ser de grande ajuda.
  • Comunicar-se de forma saudável: é normal que, em uma situação de dor crônica, a queixa faça parte do cotidiano da pessoa. Melhorar a forma como se expressa e comunicar a mesma mensagem de uma maneira diferente ajudará a melhorar as relações pessoais.
  • Recuperar hábitos antigos e saudáveis: é normal deixar de lado algumas atividades diárias quando estamos com algum problema de saúde. Mas a recuperação de hábitos antigos, incluindo aos poucos atividades gratificantes, contribuirá para a reconstrução do novo plano de vida.
  • Elaborar um plano com o seu terapeuta: identificar os padrões de pensamento e as distorções cognitivas que nos impedem de transformar nosso modo de pensar é fundamental.

“Todas as dores que nos isolam são dores perdidas”.
– Simone Weil –

A dor crônica não é apenas uma doença que nos afeta fisicamente, mas também afeta os nossos pensamentos, relacionamentos e emoções. Um problema invisível, mas de grande peso. É fundamental fazer a sua parte para poder desfrutar de uma vida mais saudável.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.