Drunkorexia: substituir a comida pelo álcool

"Não comer durante o fim de semana porque se consumirá álcool e é preciso controlar as calorias." Esta é uma prática recente e generalizada entre jovens de 17 a 24 anos. Será que a drunkorexia é um novo transtorno alimentar?
Drunkorexia: substituir a comida pelo álcool
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

A drunkorexia é uma alteração do comportamento alimentar que aparece principalmente em jovens universitárias. Manifesta-se principalmente durante os fins de semana. Durante esse período, e uma vez que o objetivo é consumir álcool nas horas de lazer, decide-se restringir a ingestão de alimentos. Dessa forma, é possível ter um maior controle sobre o número de calorias consumidas.

De fato, estamos diante de um comportamento limítrofe que é tão desconcertante quanto preocupante ao mesmo tempo, uma vez que está em ascensão. O que começou como uma prática entre estudantes universitários está se espalhando para outra faixa etária, que vai dos 25 aos 35 anos.

Foi há pouco mais de uma década que o New York Times descreveu essa prática pela primeira vez, dando-lhe o nome que já conhecemos. Atualmente, o termo drunkorexia não define uma categoria clínica ou um transtorno que aparece em manuais de diagnóstico. No entanto, está claro que estamos diante de mais uma variação dos transtornos do comportamento alimentar (TAs). Os especialistas alertam para a necessidade de prestar atenção a esse fenômeno cada vez mais frequente.

Restringir a ingestão de alimentos também tem como objetivo fazer com que os efeitos do consumo excessivo de álcool apareçam muito mais rapidamente.

Amigos bebendo representando drunkorexia
A drunkorexia se combina com a bulimia e o aumento do exercício físico.

Drunkorexia: definição, características e causas

A drunkorexia é uma alteração do comportamento alimentar. A pessoa afetada substitui as calorias dos alimentos pelas calorias do álcool. Não estamos diante de uma clara dependência do álcool, nem de um distúrbio alimentar comum como bulimia ou anorexia, por exemplo. Trata-se de outro fenômeno que requer atenção, análise e medidas de prevenção.

A Universidade de Huddersfield, no Reino Unido, realizou uma pesquisa em 2020 para tentar entender essa prática. A questão era se, de fato, esse era um costume exclusivo de estudantes universitários e quais poderiam ser as motivações.

Algo que pôde ser descoberto é que, na verdade, esta é uma tendência crescente que vai além da comunidade estudantil. A baixa autoestima e a busca de sensações parecem ser dois fatores que atuam como gatilhos. No entanto, também existem outras variáveis que é interessante conhecer.

Como se manifesta?

A principal característica dessa prática é a restrição da alimentação durante o final de semana, com a ideia de substituir as calorias dos alimentos pelas do álcool. Ou seja, em outras palavras, o objetivo prioritário da drunkorexia é controlar o peso. No entanto, outra motivação é aproveitar as bebidas alcoólicas em si e o contexto social que envolve o consumo.

  • Por outro lado, além de fazer dieta com o objetivo de compensar as calorias consumidas através do álcool, há também uma outra finalidade. Busca-se ficar bêbado mais rapidamente.
  • Da mesma forma, também se iniciam práticas de exercícios intensos para queimar essas calorias com antecedência.
  • Em um grande número de casos, isso leva ao comportamento de purga. Ou seja, causar vômitos ou recorrer a laxantes ou diuréticos.

Os episódios de consumo compulsivo de álcool combinados com transtornos alimentares (TAs) são mais comuns em mulheres.

Quais são os efeitos da drunkorexia?

A drunkorexia tem um grave impacto na saúde da pessoa. Principalmente se essa prática se estender ao longo do tempo e se tornar um hábito.

  • Devemos pensar que as calorias obtidas através do álcool são calorias vazias, quase sem nenhum valor nutricional real. Isso tem como resultado a desidratação e um grande déficit de vitaminas e minerais.
  • Há um maior risco de desenvolver dependência do álcool.
  • Também é provável desenvolver transtornos alimentares, tais como bulimia, anorexia, transtorno de compulsão alimentar, etc.
  • A longo prazo, também podem aparecer doenças hepáticas, problemas cardiovasculares, diabetes, demência, osteoporose, distúrbios menstruais, envelhecimento acelerado, etc.

A cultura da magreza como principal causa

Já faz décadas que vivemos em uma cultura em que reina a tirania do corpo perfeito e da magreza como a única forma de beleza. As redes sociais são um espelho no qual os jovens se olham diariamente para se comparar e também para se julgar. Isso leva a práticas cada vez mais nocivas e, ao mesmo tempo, sofisticadas.

  • Em média, a baixa autoestima e a imitação social são os elementos centrais que desencadeiam a drunkorexia. Por um lado, há a necessidade de controlar o próprio peso e, por outro, o desejo de se integrar ao grupo. Afinal, beber e se embriagar é uma prática à qual grande parte dos jovens dedica o fim de semana.
  • As habilidades escassas de enfrentamento emocional são outro fator. Eles não têm recursos para administrar a ansiedade, para desativar os cânones de beleza socialmente impostos de suas narrativas mentais.
  • Pressão acadêmica, problemas profissionais e familiares e o desencanto geral com a sociedade são outras motivações para recorrer ao álcool como mecanismo de fuga.
Mulher triste que sofre de embriaguez
Geralmente demora muito tempo para que se perceba que há um problema com a alimentação e o consumo de álcool.

O que posso fazer se estiver reduzindo a minha alimentação para consumir álcool?

Em 2018, a Universidade do Sul da Califórnia publicou um artigo sobre a drunkorexia. A proposta era incluir uma nova categoria diagnóstica, a do transtorno do comportamento alimentar e alcoólico. É evidente que estamos diante de um problema gravíssimo, no qual se combinam duas esferas clínicas: o consumo de álcool e um transtorno alimentar.

Nesses casos, é necessário procurar um médico a fim de ser encaminhado para clínicas especializadas. Precisaremos de atendimento multidisciplinar para cuidar dos níveis psicológico, nutricional e médico. Em geral, quem sofre desse problema não procura ajuda até que apareça um estado de grave desnutrição e também se torne evidente a dependência do álcool.

Portanto, será necessário realizar um diagnóstico adequado para traçar um plano individualizado para cada paciente. Esses programas serão formados por médicos, psicólogos, nutricionistas e outros terapeutas que darão o suporte necessário para reconstruir a vida em si, aplicando novos e melhores hábitos diários.

Não devemos hesitar em pedir ajuda especializada.


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