Ed Wood, o entusiasmo do pior diretor de todos os tempos

Ed Wood entrou para a história do cinema como "o pior diretor de todos os tempos". No entanto, seu entusiasmo, otimismo e carisma o consagraram como um personagem que incorpora o espírito de luta e a força para acreditar em si mesmo. Tim Burton, em 1994, lhe dedicou um excepcional filme biográfico a fim de resgatar sua imagem.
Ed Wood, o entusiasmo do pior diretor de todos os tempos
Leah Padalino

Escrito e verificado por Crítica de Cinema Leah Padalino.

Última atualização: 29 dezembro, 2022

Ed Wood foi um diretor, roteirista, ator e produtor de cinema que ansiava por ver suas criações na telona e entrar para a história; de certa forma, ele conseguiu, mas talvez não da forma que esperava, já que, depois de sua morte, foi descrito como “o pior diretor de cinema de todos os tempos”.

Seu filme Plano 9 do Espaço Sideral foi classificado como o pior filme da história e como o primeiro do cinema Z, um subgênero do cinema B, de menor qualidade e menor orçamento.

No entanto, o tempo deu a Wood o reconhecimento de “diretor cult” e cineastas como John Waters e Tim Burton o citam entre suas influências. Ed Wood era tão ruim assim? A verdade é que a qualidade de seus filmes deixava muito a desejar: incoerências no script, problemas de continuidade, microfones à vista, cenas dos bastidores, decoração de papelão e uma série de problemas.

A rejeição do trabalho de Wood por parte das produtoras resultou em um orçamento muito limitado que, unido aos escassos avanços tecnológicos da época, levou à má qualidade de seus filmes. É verdade que ele não era um perfeccionista e pouco se importava com erros ou inconsistências, apenas rodava uma cena e acreditava que o cinema ia além da perfeição.

Mas apesar de seus erros, há algo interessante em seus filmes, uma essência única. Não deixemos de lado o fato de que na sociedade dos anos 50 certos temas poderiam ser considerados provocativos e, como consequência, muitos de seus filmes não seriam levados a sério. Foi o que aconteceu com Glen ou Glenda, um filme no qual Wood pretendia comover com uma história pessoal sobre o travestismo, embora tenha causado mais gargalhadas do que comoção.

Ed Wood: o filme biográfico

Tim Burton mergulhou, em 1994, na aventura de trazer para a telona a história desse diretor. Burton citou em inúmeras ocasiões influências do cinema B, especialmente do terror, algo que se reflete em toda a sua filmografia.

Entre suas influências, encontramos Ed Wood. Burton viu Plano 9 do Espaço Sideral em sua infância e mantém uma boa recordação dele. Seus filmes podem estar cheios de erros, mas há algo que não lhes falta: entusiasmo. E é precisamente esse entusiasmo que Burton nos proporciona no longa biográfico.

Ao contrário de Wood, Burton é totalmente coerente e nos oferece um filme narrado perfeitamente, agradável em todos os aspectos. Burton dispunha de um roteiro excepcional e de atores experientes: Johnny Depp e o magnífico Martin Landau. Mas nem tudo foram mil maravilhas, porque no momento em que Burton decidiu filmar em preto e branco, surgiram problemas com a produtora, que decidiu se desassociar do projeto.

Burton queria capturar a essência da época, de Lugosi e do cinema B dos anos 50, e para isso, era essencial que a história fosse contada em preto e branco. O filme estreou em 1994 e, embora não tenha recebido um bom apoio nas bilheterias, ganhou dois Oscars: melhor maquiagem e melhor ator coadjuvante. Ambos os prêmios foram ligados a uma das figuras-chave do filme: Béla Lugosi. A figura do ator mítico ganhou vida graças a uma maquiagem excepcional (favorecida pelo preto e branco) e à interpretação sublime de Landau.

Ed Wood é, para muitos, um dos melhores filmes da filmografia de Burton. Trata-se de uma obra com personalidade, que não tem nada a invejar a outros filmes do diretor e que consegue transmitir a essência de uma época, o outro lado de Hollywood, e recupera figuras tão significativas como Lugosi ou o próprio Wood.

Uma homenagem ao cinema

Além da homenagem a Ed Wood, o filme é uma homenagem ao próprio cinema B; uma ode ao cinema, aos anos 50, aos filmes em preto e branco. Já nos créditos, percebemos uma certa nostalgia, uma certa magia que o cinema mais atual parece ter esquecido.

O filme começa com lápides nas quais são lidos os nomes dos atores, no verdadeiro estilo Wood. Aparecem imagens de tentáculos e discos voadores; em seguida, uma música sombria nos acompanha a uma sala escura e misteriosa. A câmera entra na sala onde se destaca um caixão sob uma janela sinistra; no exterior, a tempestade ambienta uma cena sombria.

Ed Wood: a personificação do entusiasmo

O caixão se abre e Jeffrey Jones aparece, caracterizado como Criswell, para explicar que o que estamos prestes a ver é a verdadeira história de Ed Wood. Essa introdução, tão característica do cinema B, é realmente magnética e termina com um movimento brilhante da câmera atravessando a janela, isto é, nos submergindo na escuridão da tempestade. A cena final nos leva ao início, mas com um movimento de câmera ao contrário, nos levando de volta ao quarto e fechando o caixão; algo simplesmente mágico.

Outro elemento significativo é o letreiro de Hollywood, presente em vários momentos do filme, visto no alto, mas acompanhado de trovão e escuridão. Nos convida a pensar que talvez a meca do cinema não seja tão maravilhosa quanto nos fizeram acreditar.

Em contraste, Burton nos conduz a um estudo do mais pobre e rudimentar, mostrando o outro lado da indústria, a crueldade de Hollywood. Todo o filme é uma homenagem, é cheio de alusões e contado em detalhes; uma verdadeira joia com pitadas de humor e nostalgia.

Ed Wood: a personificação do entusiasmo

Wood ficou conhecido por seu grande amor pelo cinema, por sua paixão, embora seu talento fosse terrivelmente questionado. Ed Wood se sentia como Orson Welles, estava convencido de que poderia fazer algo grande, algo importante, e confiava em suas habilidades para assumir, ao mesmo tempo, as funções de roteirista, produtor, diretor e ator.

Burton nos apresenta em seu filme um personagem cativante, inocente, e com a ilusão de uma criança. Wood, apesar das duras críticas e adversidades, nunca perdia o sorriso, acreditava em si mesmo e continuou a fazer filmes de baixo orçamento.

Fez amizade com Béla Lugosi, o ator húngaro que desfrutou de grande popularidade por sua atuação como Drácula. Burton viu nessa amizade um reflexo do que aconteceu com Vincent Price, ator muito popular nos filmes de terror e a quem Burton, assim como Wood com Lugosi, deu o que seria o último papel de sua carreira.

Ed Wood: o filme biográfico

Ed Wood se caracterizou por seu carisma, por isso, apesar da rejeição por parte da indústria, conseguiu somar as forças de seus mais próximos, que chegaram a ser batizados para obter financiamento de um grupo religioso e Wood pudesse filmar Plano 9 do Espaço Sideral. Seu otimismo incomum o consolidou como um personagem que despertou o interesse do público; sem ir mais além, há a Igreja de Ed Wood, uma organização de crescimento espiritual inspirada na figura do cineasta.

Ao final de sua vida, esse otimismo tão característico foi desaparecendo e Wood morreu falido e com sérios problemas com o álcool. Burton consegue capturar a essência do personagem e nos oferece um filme cheio de otimismo, de esperança. Um filme nostálgico que nos convida a lembrar este diretor peculiar, a sermos otimistas diante da adversidade e a pensar que, talvez, em outros tempos, o destino de Wood poderia ter sido diferente.

“Todo mundo pode ser um mau diretor, mas nem todo mundo pode ser o pior”.
-Tim Burton-


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.