Os efeitos do terrorismo nos levam à vulnerabilidade

Os efeitos do terrorismo nos levam à vulnerabilidade
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 02 dezembro, 2021

Costuma-se dizer que não existe maior perda de liberdade que a insegurança que o medo nos provoca. Os efeitos do terrorismo e dos últimos atentados vividos não recaem apenas sobre as próprias vítimas, já que o impacto emocional e psicológico associado à sombra do medo atinge todo mundo.

O terrorismo se instalou nas nossas sociedades em carne e osso. As vítimas nos telejornais já não vivem mais nos países do Oriente Médio, nos quais o sofrimento às vezes está “egoístamente normalizado” sob os olhos do mundo ocidental. Nos dias de hoje, personalizamos muito mais a angústia porque esses rostos e essas vidas nos lembram as nossas.

O terrorismo é essencialmente o fracasso mais absoluto do ser humano. É o germe do ódio, da incompreensão e da maldade que, por sua vez, é capaz de dividir nações e sociedades.

O terrorismo representa uma ameaça emergente e global que atinge todo o mundo e que, além disso, produz alguns efeitos específicos. Entre eles estão a significativa falta de segurança, o temor em relação a futuros ataques e sua imprevisibilidade, o medo e frequentemente a falta de confiança nas nossas instituições. Nós estamos diante de novas demandas emocionais e psicológicas que precisaremos saber como enfrentar.

Convidamos você a refletir sobre os efeitos do terrorismo.

O terrorismo e as suas consequências psicológicas

Frequentemente, costuma-se dizer que depois do atentado de 11 de setembro o mundo nunca mais foi o mesmo. De tal forma que muitas pessoas se atrevem a descrever as nossas sociedades em crise como engrenagens baseadas quase exclusivamente na sombra do medo. Graças a esse atentado, as medidas de controle ficaram mais rígidas, as estruturas de poder foram reforçadas e todos trabalham por um propósito muito específico: a segurança.

Precisamos levar em consideração que a segurança é basicamente a ausência do medo, além de um direito incluído na carta das Nações Unidas, na qual está especificado que toda pessoa deve e merece se sentir defendida, segura e protegida na sua integridade física e psíquica. Quando isso não acontece, nós perdemos nossa sensação de controle e vemos ser limitado o nosso desenvolvimentos social e pessoal.

Segurança contra atentados terroristas

Os efeitos do terrorismo e da vulnerabilidade

Segundo um trabalho realizado na Universidade Internacional de Valencia, existem dois fenômenos que explicam como funcionam os efeitos do terrorismo:

  • Em primeiro lugar estaria o efeito onda, um mecanismo que cria vários “círculos expansivos” após o atentado ou o desastre. As primeiras ondas afetam as próprias vítimas e seus familiares. As segundas afetam a comunidade, a cidade ou todo o território. É aí que o impacto emocional é tão grande que acaba aparecendo o medo ou a vulnerabilidade em relação à possibilidade de futuros atentados.
  • O efeito contágio, por sua vez, deriva não apenas do contato com uma vítima do terrorismo, mas também de quando os próprios meios de comunicação ou outras instituições geram o medo e ampliam ainda mais a sensação de insegurança.

Quase sem nos darmos conta, ocorre um efeito dominó. Nós ficamos chocados com os atentados. E, mais tarde, os programas de televisão, as redes sociais e as conversas que temos no dia a dia aumentam essa sensação de vulnerabilidade, até o ponto em que chega a limitar a nossa forma de vida ou o nosso comportamento: deixamos de viajar, desconfiamos de determinados grupos culturais…

Homenagens após atentado terrorista

Não devemos ser prisioneiros do medo

Um interessante artigo publicado na revista “Psychology Today” afirma que o terrorismo terá vencido nas nossas sociedades no momento em que as pessoas começarem a realizar quatro ações específicas:

  • Cancelar as viagens e deixar de viajar
  • Sentir medo a cada hora do dia e temer um atentado nas proximidades
  • Desconfiar das instituições
  • Sentir necessidade de se mudar com a família para lugares mais seguros

Em um artigo publicado na “Revista de Estudios Sociales”, o psicólogo Ordoñez Díaz afirma que os atentados procuram, acima de tudo, provocar um efeito psicológico que cause grande impacto social, além de exercer um tipo de poder vinculado ao medo e à insegurança.

Homenagem após terrorismo na Bélgica

É possível que não esteja nas nossas mãos o meio ou a forma de acabar com esse tipo de catástrofe. A complexidade política e os obscuros segredos que se movimentam nos palcos da geoestratégia, a política e o armamento, fazem a gente se enxergar mais como marionetes do que como atores principais.

No entanto, para enfrentar a vulnerabilidade ou a angústia, é necessário evitar ser prisioneiro do medo. Coisas tão essencias como se permitir ter uma vida normal, se relacionar e respeitar uns aos outros exaltando os valores que enobrecem o ser humano, podem nos ajudar a manter a calma e o equilíbrio.

Para isso, e para finalizar com uma boa reflexão, vamos nos lembrar do filósofo Fernando Savater, “o mais importante intelectualmente não é tanto compreender os motivos dos terroristas, mas os nossos próprios motivos para resistir a eles sem utilizar as mesmas armas”.


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