Elogios e bajulação são ventos que ameaçam nos arrastar

Elogios e bajulação são ventos que ameaçam nos arrastar
Sergio De Dios González

Escrito e verificado por o psicólogo Sergio De Dios González.

Última atualização: 27 janeiro, 2023

Conforme vamos crescendo, ganhamos independência. Com alguns meses, conseguimos nos deslocar engatinhando; quando passamos dos dez anos, já nos deixam ir para alguns lugares sem companhia e, quando encontramos um emprego que nos permite, saímos de casa. Este é um processo gradual, durante o qual vamos acumulando uma boa coleção de elogios e insultos, à medida que aprendemos e adquirimos responsabilidade.

No entanto, por mais que avancemos no caminho da independência, nunca  vamos nos emancipar completamente da influência que os outros exercem sobre nós. Essa influência pode ser deliberada, como quando o nosso chefe nos atribui uma tarefa, por exemplo; ou mais sutil, como quando o nosso chefe nos dá uma boa quantidade de elogios, tentando reforçar a nossa motivação e estilo comportamental.

A história de Luís

Conta a mosca que pululava na cozinha no momento que, naquele dia, Luís voltou para casa consternado. Sua mãe, vendo o seu estado de espírito, perguntou qual era o problema. Com tristeza, Luís disse que seus colegas haviam dito que ele era inútil, pois não sabia como resolver o problema que o seu professor pediu para resolver no quadro-negro.

A mãe disse que, naquele fim de semana, quando saísse para passear no bosque perto de sua casa, ele deveria recolher uma pinha do chão e dizer para ela todas as coisas ruins que viessem à sua mente. O menino olhou para a mãe com estranheza e saiu intrigado. Naquele sábado, entre os muitos chutes na bola, ele pegou uma pinha do chão e disse para ela um monte de palavras horríveis que não vamos reproduzir aqui. Enfim, ele a insultou de todas as formas.

À noite, enquanto jantavam, a mãe perguntou se ele havia falado com a pinha. Luís disse que sim. A mãe então disse que, no próximo sábado, ele teria que recolher outra pinha, mas, desta vez, diria a ela todos os elogios que conseguisse pensar. Luís assim fez, é claro, e sua mãe voltou a perguntou sobre o assunto naquele dia.

Mais especificamente, ela perguntou se em algum dos dois sábados ele havia notado alguma diferença na pinha, antes e depois de ser recolhida. O menino disse que não.

A mãe então disse que a mesma coisa acontece com as pessoas: que os insultos ou os elogios não mudam quem somos. Além disso, também contou a ele que nós temos uma vantagem fundamental sobre a pinha, já que nós podemos aprender.

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Somos parecidos com Luís

Já fomos o Luís da história muitas vezes e, certamente, continuaremos a ser, uma vez que as palavras dos outros penetram em nós e deixam a sua influência. Provavelmente não poderemos evitar que isso aconteça, mas o que podemos fazer é olhar para as mensagens que chegam até nós a partir da perspectiva que merecem.

Afinal, quando alguém tenta fazer um retrato nosso a partir do seu ponto de vista, independentemente de querer nos insultar ou não, isso não significa que ele possa ser mais preciso do que um retrato aleatório. De fato, antes de receber a mensagem de seus colegas, Luís certamente não se considerava inútil, embora também não soubesse como resolver o problema.

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Diante deste tipo de mensagem, é sempre bom introduzir uma pergunta no nosso diálogo interior: porque os critérios devem ser definidos pelos outros, e não por você? Perceba que os outros passam somente uma parte do dia com você e, portanto, conhecem apenas uma pequena parte do que você faz ou pensa. Algo que, quer você goste ou não, não acontece com você.

Pense que a pessoa que te enche de elogios hoje pode te insultar amanhã. Da mesma forma, também pode acontecer o contrário. Portanto, não seja como um barco à mercê das ondas da bajulação, nem uma folha ao capricho do vento que sopra em forma de elogios.

Extraia todas as informações que você quiser do que te disserem, mas, quanto a ser, ao verbo ser, é você quem tem a última palavra quando se trata de introduzir qualificadores na sua definição. Este é um grande poder, por isso não o coloque nas mãos dos outros e, se em algum momento você concedê-lo em parte, deixe-o nas mãos das pessoas que te amam de verdade.


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