A encruzilhada das dores desaprovadas

A encruzilhada das dores desaprovadas
Sergio De Dios González

Escrito e verificado por o psicólogo Sergio De Dios González.

Última atualização: 30 abril, 2018

A morte de um ser amado é uma fonte importante de sofrimento emocional. Nunca estamos totalmente preparados para perder  alguém que amamos, inclusive nos casos em que a morte não chega de surpresa. Entretanto, existem casos nos quais é mais difícil processar a dor. São situações que envolvem as dores desaprovadas.

Por dores desaprovadas entendemos aquelas que não podem ser manifestadas abertamente, já que estão, de algum modo, proibidas pelo contexto específico ou pela sociedade em geral. Nesses casos, as pessoas devem sofrer solitariamente e, em muitos casos, até esconder as suas manifestações de dor.

Essa dificuldade de expressar as emoções e reconhecer o sofrimento  faz com que as dores desaprovadas sejam mais complicadas de superar e de resolver. A dificuldade de receber apoio adiciona uma dose de complexidade a esses processos. A seguir, falaremos dos principais casos nos quais, de certa forma, a dor fica proibida.

O não reconhecimento da perda

Esse é um dos tipos de dores não reconhecidas que mais causa mal ao sofredor. Ela corresponde aos casos nos quais não se dá valor social à morte  de uma pessoa, quando ela não é moralmente significativa para os demais.

Um exemplo disso é quando quem morre é rejeitado socialmente . É o caso de um criminoso perigoso ou temido. Supõe-se que é alguém indesejável e que a sua morte é benéfica para os demais. Seus familiares ou amigos podem pensar de forma diferente. Porém, nem sempre os demais entendem isso e, por esse motivo, frequentemente quem está sofrendo não manifesta o seu sofrimento.

Cachorro observando

Outro exemplo desse tipo de dores desaprovadas é aquele que acontece quando um animal de estimação morre. Muitos consideram exagerado sofrer profundamente pela morte de um cachorro, um gato ou um cavalo. No entanto, existem inúmeras pessoas que sofrem essa perda como se fosse a de um familiar próximo.

As relações proibidas e as dores desaprovadas

Nesse caso, as dores desaprovadas ocorrem devido a esse tipo de relacionamento ser considerado ilegal, imoral ou intolerável. O exemplo típico desse tipo de dor é a morte de um amante. Parte-se da ideia de que a dor legítima é a da esposa ou esposo, não dessa terceira pessoa que estava entre os dois. Mesmo assim, esse terceiro sofre e tem direito à sua dor.

Apesar de a sociedade ter uma mente mais aberta nos dias de hoje, ainda ocorrem casos de relações homossexuais não reconhecidas. Esses casos também geram dores não autorizadas, quando o vínculo era mantido em segredo. O mesmo ocorre quando existem amores impossíveis. Quando alguém ama profundamente aquele que morre, sem que jamais tenha sido correspondido.

As circunstâncias do falecimento

Se a morte ocorre como resultado de suicídio, por exemplo, o dor é gerada em condições especiais. O mais provável é que, pelo menos em um primeiro momento, seus entes queridos tenham dificuldade de expressar a sua dor. É uma daquelas situações em que paira no ambiente a busca por respostas: “Por que tudo terminou assim?”, “Por que ele não achou outra saída?”. Infelizmente,  muitas vezes não sabemos responder a estas questões.

Algo similar ocorre quando a morte acontece em condições violentas, especialmente se envolvem a família ou são consequência de algum ato de irresponsabilidade. Se, por exemplo, alguém que dirigia um carro em alta velocidade morre, muitos pensarão que “ele mereceu”. Assim, são criadas as condições que propiciam as dores desaprovadas. O mesmo se aplica a mortes por overdose, doenças venéreas, etc.

Olhar feminino triste

O não reconhecimento do sofredor

Esse tipo de dor desaprovada corresponde aos casos nos quais não se reconhece a capacidade de sentir de quem está sofrendo. Ocorre com frequência nas crianças. Pensamos que elas não entendem o que é a morte e, por isso, que se consolam com um simples “ele foi viver no céu”. São muitas as pessoas que pensam que os pequenos não sofrem um processo de dor quando, às vezes, ele é muito mais difícil do que para os adultos, exatamente pela sua imaturidade.

Algo similar acontece com as pessoas que têm algum tipo de incapacidade cognitiva. Assumimos que a sua dor não tem a mesma profundidade que a dos outros. Da mesma forma acontece com os idosos que sofrem de alguma limitação neurológica.

Quando existem dores desaprovadas, também há uma maior probabilidade de que elas terminem transformando-se em dores patológicas. Se a expressão do sofrimento é limitada, ou anulada, superar a dor será muito mais difícil.

Casal enfrentando dificuldade


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