Entrevista motivacional: uma forma de ajudar a pessoa a mudar
Poucos métodos têm experimentado um avanço tão significativo e em tão pouco tempo como a entrevista motivacional. Seu êxito se deve a vários fatores: facilita a relação com o paciente, é possível avaliar sua eficácia cientificamente, e ela se desenvolveu de maneira colaborativa. Na atualidade, a entrevista motivacional pode ser aplicada em uma grande variedade de contextos, e os receptores da mesma podem ser clientes, pacientes, alunos, tutelados, viciados, delinquentes ou presos.
Do mesmo modo, a entrevista motivacional pode ser praticada por mentores, educadores, terapeutas, treinadores, psicólogos, médicos ou enfermeiros. Essa versatilidade a torna uma poderosa ferramenta.
O que é a entrevista motivacional?
De maneira geral, podemos entender a entrevista motivacional como uma ferramenta para que a pessoa mude naturalmente aquilo de que não gosta nela mesma. Aquilo que lhe provoca alguma desarmonia e, portanto, tristeza. É possível chegar a esse problema através do diálogo colaborativo com o paciente. Por meio dessa ferramenta, conseguimos derrubar as barreiras que dificultam ou até impedem que as pessoas mudem.
A verdade é que falamos sobre as mudanças diariamente e de maneira bastante natural. Nós fazemos pedidos para os outros e somos muito sensíveis aos aspectos da linguagem cotidiana que manifestam resistência, boa disposição, compromisso… De fato, além de transmitir informação, uma das funções mais importantes da linguagem é motivar e influenciar o comportamento da pessoa. Pode ser algo tão simples como pedir a alguém que nos passe o sal ou tão complexo como negociar um tratado internacional.
É importante destacar que a entrevista motivacional tem como base uma pessoa tentando ajudar a outra a mudar. Médicos, dentistas, enfermeiros, nutricionistas e pessoas de outras áreas também podem conversar sobre uma mudança de conduta, ou mesmo de estilo de vida.
A entrevista motivacional presta atenção à linguagem natural quando o assunto é a mudança. Seu propósito é ter um diálogo mais efetivo sobre si mesmo. Isso se pretende sobretudo quando ocorre em um contexto em que alguém oferece ajuda profissional a outra pessoa.
Muitas dessas conversas transcorrem de forma inútil ou disfuncional, por melhores que sejam as intenções do entrevistador. Assim, é importante pensar que a entrevista motivacional foi idealizada para encontrar um modo construtivo de superar os desafios que aparecem.
Especificamente, a entrevista motivacional consiste em organizar as conversas. Dessa maneira, as pessoas podem convencer a si mesmas a mudar em função de seus próprios valores e interesses.
Os estilos comunicativos
Podemos pensar nas conversas de ajuda como se estivessem situadas paralelas a um segmento. Em um extremo encontramos o estilo diretivo. No extremo oposto, encontramos o estilo de acompanhamento. O centro dessa linha se encontra governado pelo estilo de guia, que é o modelo seguido pela entrevista motivacional. Para esclarecermos melhor essa situação, imaginemos que você viajou para um país estrangeiro e contratou um guia para que te ajude.
O trabalho do guia não consiste em dizer a você quando deve chegar, onde ir o que deve fazer ou ver. Um guia profissional sabe escutar e oferecer uma informação especializada quando for necessário e em função de seus interesses. A entrevista motivacional se situa nesse território intermediário entre direcionar e acompanhar, e inclui elementos de ambos os lados.
Guiar é uma tarefa em que muitas vezes é preciso acompanhar, em outras dirigir, e em outras não fazer nenhuma das duas coisas. Às vezes basta dar liberdade ou abrir um leque de possibilidades para que a pessoa guiada possa se inteirar e intercalar essas três atitudes com inteligência.
Por exemplo, estimular o aprendizado de uma criança, na maioria das vezes, implica que nos tornemos seu guia. Demanda que intercalemos períodos de acompanhamento ou supervisão, com outros de direção e de liberdade.
Evitar o reflexo de correção é fundamental na entrevista motivacional
As pessoas se dedicam a profissões em que a função é ajudar os outros por diversas razões. Pode ser por querer devolver algo à sociedade, prevenir e aliviar o sofrimento, manifestar seu amor a Deus, etc. Ironicamente, esses mesmos motivos podem levar a uma utilização excessiva do estilo diretivo na hora de oferecer essa ajuda. O estilo diretivo pode chegar a ser ineficaz ou mesmo contraproducente quando queremos ajudar as pessoas.
Quando usamos o estilo diretivo também utilizamos o reflexo de correção. Queremos ajudar tanto a pessoa que impomos muitas vezes o que ela deve ou não fazer. Porém, isso infelizmente cria resistências, embora um dos objetivos da entrevista motivacional seja conseguir minimizar essas resistências.
O que não é entrevista motivacional?
É importante esclarecer o que não é entrevista motivacional e diferenciá-la de outros métodos de entrevista. A entrevista motivacional não consiste simplesmente em ser amável com os demais. Tampouco é igual à terapia centrada no paciente, desenvolvida por Carl Rogers. Na entrevista motivacional existe um movimento intencional e estratégico em direção a um ou mais objetivos específicos.
A entrevista motivacional também não é uma ‘técnica’, um truque fácil de aprender que podemos acrescentar à nossa caixa de ferramentas. É, na verdade, um estilo de estar com os outros, uma integração de habilidades clínicas específicas que promovem a motivação para a mudança.
É um estilo complexo que pode ir se aperfeiçoando ao longo dos anos. Também não é a cura, nem mesmo a solução de todos os problemas clínicos. A entrevista motivacional foi desenvolvida especificamente para ajudar as pessoas a resolverem a ambivalência diante da mudança e fortalecerem sua motivação.
Durante todo o processo da entrevista motivacional são utilizadas cinco habilidades comunicativas importantes. Essas habilidades são as seguintes: formular perguntas abertas, afirmar, refletir, resumir e proporcionar informação e conselhos, sempre com a autorização do cliente.
Como vimos, a entrevista motivacional é uma poderosa ferramenta que facilita a mudança nas pessoas. Ela enfraquece a hesitação e incentiva a motivação. Tudo isso é possível por meio de um estilo comunicativo de orientação, sem impor absolutamente nada e deixando que o cliente decida os passos a serem tomados.
Referências bibliográficas
- Miller, W.R., Rollnick, S. (2008). Motivational interviewing in the treatment of psychological problems. New York: Guildford Press.