Irei esquecê-lo porque cansei de me esquecer de mim mesma

Irei esquecê-lo porque cansei de me esquecer de mim mesma
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

Cansei de ser este satélite que dá voltas ao seu redor perdido e sem rumo. Como uma lua que já não brilha e que perdeu sua magia e, inclusive, sua luz.

Por que, às vezes, chegamos a estes extremos, nos quais perdemos nosso equilíbrio e nossa autoestima por outras pessoas? Sem saber como, algo vai sendo tirado de nós até que nos despedaçamos, até nos deixar com a alma vazia e sem sonhos.

É importante que você lembre que toda relação afetiva se baseia em viver a vida junto de alguém. Jamais cometa o erro de viver sua vida por e para outra pessoa, colocando as chaves da felicidade em seu bolso.

Entretanto, nós sabemos claramente que esquecer não é fácil, de fato, hoje em dia ninguém dispõe de um remédio ideal, com o qual possa dissipar para sempre cada instante de uma má relação. Esquecer não é a solução para todas as dores da alma e do coração.

Trata-se de ir abaixando “o volume” da lembrança, de desativar sua importância para que seu barulho não nos impeça de voltar a viver com equilíbrio e dignidade. Porque quem nos faz esquecer quem éramos não tem direito de perdurar de forma significativa em nossa memória.

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Quando me esqueci de mim mesmo

A necessidade de esquecimento chega após tomar uma decisão e ter dado o primeiro passo. Portanto, está implícito um grande ato de coragem e maturidade emocional ao perceber que precisamos deixar algo que estava nos causando mal.

Por mais que muitos dias passem, por muitas estações que você veja passar pela janela, o tempo não fará com que você se esqueça. O que lhe permitirá fazer isso é colocar as coisas em seu lugar e, acima de tudo, amadurecer. Porque o que é realmente difícil é esquecer quem nos fez esquecer tudo.

Se você viveu uma relação com estas características, na qual chegou a perceber que você estava deixando de ser você mesmo, você saberá sem dúvida o longo processo de recuperação e cicatrização interior que acarreta o voltar a “nos reencontrar”. De qualquer modo… O que faz com que cheguemos a estes extremos? Por que nos deixamos levar de uma forma tão cega por e para outra pessoa?

São relações muito codependentes

De alguma forma, o que chegamos a fazer é “nos diluirmos” com a pessoa que amamos, perdendo nossa individualidade. O problema é que, muitas vezes, fazemos isso por livre e espontânea vontade, completamente apaixonados e entendendo esta forma de amor e a própria relação.

Pouco a pouco vai chegando um ponto em que nós valorizamos as necessidades do outro como mais importantes que as nossas. Você vai se surpreender ao saber que nem sempre há uma imposição de um membro do casal sobre o outro para que isso ocorra.

Dentro da psicologia popularfala-se, por exemplo, da Síndrome de Wendy , em referência ao personagem de Wendy Darling do romance de Peter Pan. São, geralmente, mulheres que entendem o amor “como a oferta total ao outro”, atendendo e cuidando do parceiro enquanto deixam elas mesmas em segundo plano.

Relações nas quais “o poder” recai em uma só pessoa

Se há um membro do casal encarregado de tomar decisões e de se priorizar antes do outro, gera-se uma relação desigual condenada ao sofrimento. A outra pessoa verá sua autoestima e sua integridade violadas. Ela será, por assim dizer, como o satélite que dá voltas ao redor de um planeta, sem rumo, sem luz e a cada dia mais à deriva. O esquecimento de si mesmo chega de modo progressivo e de forma irremediável.

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Recordar é fácil para quem tem memória, o esquecimento é complicado para quem tem coração

Já que você tem coração, o esquecimento será essa alavanca emperrada que poucas vezes lhe permitirá ser livre das lembranças de ontem. Entretanto, às vezes o que procuramos não é esquecer a relação em si, mas dissipar a pessoa que éramos antes e que tinha muito pouco de nós mesmos.

Há relações que nos transformam em alguém que não somos. Nos tornam frágeis, violam nossos valores e traficam nossos sentimentos. Quando você se olha no espelho e não se reconhece devido à tristeza impressa em sua expressão, reaja.

Quem se transforma em alguém que não é, na verdade, não ama o que é, mas a imagem que criou ou que ele mesmo tem em sua cabeça.

  • O parceiro que estiver ao seu lado deve respeitar sua essência, sua luz, sua pessoa em todas as formas.
  • No momento em que você desejar mudar algo disso, e que permitir que isso aconteça, justificando que o faz por amor, começará a caminhar por um abismo muito perigoso.
  • Sempre chega um momento em que você faz um balanço de como se sente e do que você merece. Se há mais lamentos do que felicidade, e se você tem consciência de que merece equilíbrio e, acima de tudo, felicidade, terá coragem para dar o primeiro passo.
  • Tenha em conta de que a felicidade não se trata de esquecer cada dia vivido no relacionamento. Trata-se de lembrar sem que doa, e isso é algo que o dia a dia irá permitindo.
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Sempre será mais difícil esquecer quem deu coisas boas para se lembrar. Se só ofereceram lágrimas e decepções, deixe-os ir de sua mente e de seu coração, como uma lasca de madeira cravada que, por fim, lhe permite respirar.

Créditos das imagens: Christian Schloe


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