Existem vários tipos de feminismo
Embora sob o rótulo de feminismo se agrupe um conjunto de movimentos cujo objetivo final é a libertação das mulheres, é necessário nos aprofundarmos na sua análise para entendermos as diferenças entre os diversos tipos de feminismo.
Os diversos movimentos que compõem o feminismo mundial assumem formas diferentes, tanto nos seus princípios quanto nas suas formas de expressão. Dependendo do movimento de que estamos falando, surgirão diferentes tipos de feminismo. Ao mesmo tempo, esses movimentos podem ser interpretados em diferentes áreas, como na política, cultural, econômica ou social.
Dada a diversidade de movimentos, alguns tipos de feminismo entram muitas vezes em disputas dialéticas. Alguns desses movimentos são: o liberal, o materialista, o radical, o separatista, o ecofeminismo, etc. No entanto, neste texto, vamos nos concentrar em outros tipos de feminismo: o “feminismo ocidental”, o “feminismo negro”, o “feminismo islâmico” e o “feminismo indígena”.
“Ser uma mulher livre é ter paixão pela catástrofe. Para derrubar a opressão dos fundamentos e iluminar a escuridão da história é preciso declarar, gritar, ser dona de uma voz, um corpo e uma vida… Uma mulher deve ser como um terremoto, um fogo que devora, uma flor que morde”.
– Vanessa Rivera de la Fuente –
Feministas de nascimento
Em muitas sociedades atuais, “ser mulher” significa viver em um estado constante de vulnerabilidade e risco. Uma mulher já nasce com a sua exposição a diferentes tipos de violência definida. A violência que sofrerá ao longo da sua vida pode ser física ou emocional, simbólica ou material, internacional ou estrutural.
Diante dessa violência, as mulheres têm se pronunciado proclamando a revolução da subjetividade. Algumas mulheres reagiram buscando o seu lugar na sociedade e, pouco a pouco, estão conseguindo atuar em todas as áreas, como por exemplo, as espirituais. A luta contra o patriarcado é uma batalha que deve se estender a todas as áreas da vida onde exista uma suposta superioridade por parte dos homens.
Por outro lado, as áreas em que as mulheres são oprimidas não são as mesmas em todo o mundo. É por isso que surgiram diferentes movimentos feministas que buscam libertar-se de diferentes perspectivas.
Tipos de feminismo
O feminismo ocidental
O feminismo ocidental ou branco não é o mais desenvolvido, mas sobre o qual mais se tem falado. A sua história é muito extensa e existem diversos movimentos muito diferentes entre si. No entanto, podemos resgatar alguns dos momentos mais memoráveis desses tipos de feminismo.
Um deles é o “manifesto das 343 vadias”, no qual 343 mulheres que fizeram aborto se declararam culpadas. Este gesto lhes deu tanta visibilidade, que a revista Charlie Hebdo lhes dedicou uma “foto de capa” sob o título irônico: “Quem engravidou as 343 vadias do manifesto sobre o aborto?”.
Embora o feminismo fosse considerado um princípio ocidental, surgiram diferentes vozes que proclamavam outros tipos de feminismo. Já existiam outros tipos de feminismo que não tinham sido reconhecidos anteriormente. As mulheres perceberam que as experiências das mulheres brancas da classe média alta não eram uma boa representação. Por isso, outros movimentos feministas se tornaram mais importantes, como veremos abaixo.
“O opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os próprios oprimidos”.
– Simone de Beauvoir –
Feminismo negro
Este movimento, além de considerar o sexismo, argumenta que a opressão de classe e o racismo também afetam as mulheres. Essas três formas de opressão fazem com que as mulheres negras e pobres enfrentem mais problemas do que as mulheres brancas e ricas. Do “feminismo negro” surgiu o termo “feminismo branco” para destacar o problema do racismo e da desigualdade vivida pela população negra e branca.
Um exemplo simbólico do feminismo negro foi fornecido pelas mulheres sul-africanas que uniram as suas vozes para cantar uma canção de protesto composta em homenagem à ocasião: Wathint’Abafazi Wathint’imbokodo (“Se você bater em uma mulher, baterá em uma rocha porque é você quem vai se quebrar “).
“Nós temos que mudar a nossa própria percepção, a maneira como nos vemos. Como mulheres, temos que dar um passo à frente e tomar a iniciativa”.
– Beyoncé –
Feminismo islâmico
Este movimento reivindica o papel das mulheres dentro da cultura do Islã. Busca a igualdade entre homens e mulheres neste quadro cultural, sem distinções de gênero ou sexo. A educação é um dos pilares desse movimento que procura liberar a espiritualidade das mulheres. A verdade é que as mulheres têm sido uma figura reprimida em muitas regiões onde essa cultura tem predominado, assumindo a interpretação religiosa dos homens e o papel que eles acreditam que a mulher merece.
Embora existam movimentos extremistas que negam que a religião possa ser compatível com o feminismo, esse movimento se estabeleceu em muitos países. A sua abordagem é baseada na interpretação do Alcorão, o livro sagrado dos muçulmanos. O livro, aberto a múltiplas interpretações, também permite uma interpretação feminista como a realizada por Fátima Mernissi em seu livro “O harém político: o profeta e as mulheres”.
“Diferente do homem muçulmano, que estabelece a sua dominação através do uso do espaço (excluindo as mulheres da área pública), o ocidental manipula o tempo e a luz. Ele afirma que uma mulher só é linda quando aparenta ter quatorze anos de idade “.
– Fatima Mernissi –
O feminismo indígena
Na América do Sul, o feminismo é inspirado por outros movimentos de libertação, como a teologia da libertação, a filosofia da libertação ou a pedagogia dos oprimidos. O legado de figuras como Che Guevara ou Frida Kahlo também está muito presente. Esses movimentos incorporam ao feminismo o conhecimento que as mulheres indígenas desenvolveram durante muitos anos. Este é um dos tipos de feminismo que é contra os movimentos totalizadores e está enquadrado no pensamento pós-colonial.
Temos uma grande diversidade de povos indígenas com suas diferentes peculiaridades e cultura. Por isso, existem diferentes tipos de feminismo indígena. Esta diferença, ao invés de alienar as mulheres na sua luta pela libertação, as aproxima. Os diferentes movimentos convergem para um objetivo principal, incorporando desigualdades que os outros movimentos não incorporaram. Por exemplo, no movimento zapatista as participantes nos relatam o seguinte:
As mulheres não querem “deixar de ser mulheres”, não amaldiçoam o fato de terem nascido mulheres, mas desejam que ser mulher deixe de ser uma marca, um pecado, o estigma que nos predestina a sermos vítimas diretas. No zapatismo não há rótulos: alta, baixa, gorda, magra, loira, negra, velha, jovem. Há um movimento que respeita a mulher porque a ama como ela é, e que ao mesmo tempo, a faz ser uma pessoa melhor… uma mulher melhor.
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- Butler, J. (2007). El género en disputa: el feminismo y la subversión de la identidad. Paidós.
- Moore, H. L. (1991). Antropología y feminismo (Vol. 3). Universitat de València.
- Valcárcel, A. (2013). Feminismo en el mundo global. Ediciones Cátedra.