A existência feminina não se resume a cuidar dos outros

A existência feminina não se resume a cuidar dos outros

Última atualização: 04 maio, 2017

Em tempo de empowerment feminino, é inevitável olhar para a história do mundo. A mulher sempre teve um poder oculto. Sabemos que, ao longo da história, perdemos e ganhamos espaço repetidas vezes. Em alguns momentos ficamos na sombra, em outros como peça principal. Hoje desejamos andar ao lado dos homens em todas as áreas da vida. Não precisamos competir, só conquistar nosso espaço. Pesquisas mostram que as mulheres estudam mais, lêem mais, lideram melhor, passam 25% do seu tempo envolvidas com o trabalho invisível (cuidar da casa), e ainda assim ganham menos que os homens, mesmo sendo muitas vezes mais competentes.

Culturalmente fomos condicionadas a cuidar da família ou a escolher profissões de cuidadoras como professora, RH, médica, enfermeira. Há pouquíssimas mulheres na engenharia, na tecnologia, na política. E as que lá estão sofrem terríveis preconceitos.

O que mais me surpreende é que somos nós, as mulheres, quem educam os machistas do mundo. Como permitimos que isto aconteça?  Entre os diversos dilemas da mulher está o trabalho. Como ser mulher mantendo os assuntos femininos em dia, cuidar da família e ainda trabalhar ao mesmo tempo? Primeiro, precisamos desconstruir este mito sobre o trabalho. No século 21 e na era digital, trabalhos remotos e part time são cada vez mais comuns, não precisamos mais escolher trabalhos das 8 as 18h e ficar o dia inteiro longe de nossos filhos. O mundo está aberto, e há inúmeras possibilidades para todos nós. Mulheres de todas as idades podem voltar ao mercado de trabalho, como conselheiras, mentoras, freelancers, empreendedoras ou colaboradoras corporativas.

O tempo onde se precisava escolher entre vida pessoal e trabalho já era: hoje podemos tudo sem perder qualidade de vida ou o nosso equilíbrio. Há um grupo de mulheres entrando em condição de igualdade com os homens no mundo do trabalho. Há grupos de meia idade bastante diferentes. Alguns compostos por mulheres que deixaram de construir sua família para dedicar-se à carreira. Outros que fizeram a opção inversa. E  aquelas que equilibram os dois assuntos em uma balança estável.

presença feminina no trabalho

Mas afinal, por que trabalhar? Às vezes não é preciso!

Sempre é preciso, mesmo que não seja por dinheiro. É preciso porque o trabalho nutre o ser humano, o conecta com sistemas sociais e com a vida. Os maiores depressivos são as pessoas que estão sem trabalho, desempregadas ou aposentadas. A amargura, a depressão e a baixa autoestima são problemas comuns. Há pouco tempo observei duas mulheres: uma aposentada há um bom tempo. Vida boa, mas hoje tem depressão porque sente solidão e porque, no fundo, não está a serviço de nada que não de si mesma. A outra, fundadora de um grande laboratório nacional. Empreendedora, batalhadora, construiu uma obra memorável, trabalha todos os dias, casou aos 64 anos, e tem luz própria e alegria sobrando.

Culturalmente somos incentivadas cuidar de todos que estão à nossa volta: pais, irmãos, amigos, filhos, marido…se sobrar espaço, e é claro que não sobra, temos tempo para nós mesmas. Um dia, percebemos que alguns anos se passaram, e quando encaramos o espelho, vemos uma imagem que não reconhecemos. Engordamos, temos rugas, manchas na pele, menos cabelo, e um vazio ecoando em nossa mente: “o que fiz com minha vida? “. Poucas decidem virar o jogo neste ponto, a maioria entra em depressão e se arrasta nela por um bom tempo. Como rota de fuga, algumas mulheres voltam a ocupar o espaço de mãe de filho adulto. Como não tem sua própria história atual, encaixam-se na história de outra pessoa, tentando assim tornar-se útil e sentir-se feliz.

trabalhos em casa

Cuidar da casa e dos filhos por um tempo é legítimo. Sabemos que bebês dão trabalho e que muitos afazeres são mesmo femininos, por mais que os maridos modernos ajudem. Somos as líderes da casa. O problema é abrir mão da vida profissional em 100% e não retomar o assunto ao longo do tempo. Sempre com base nos relatos das histórias reais do meu trabalho, percebo que mulheres que não produzem profissionalmente acabam tornando-se desinteressantes para os maridos e até os filhos. O assunto caseiro não gera curiosidade, desafio intelectual, troca abundante.

Por mais que nos dediquemos a trabalhos sociais, é pouco para preenchermos uma necessidade que todos os seres humanos têm: sermos úteis ao mundo, valiosas para a sociedade, capazes de oferecer nosso talento para produção de algo relevante, que impacta outras pessoas que não só a nossa família. Maridos e filhos não têm orgulho a longo prazo de mulheres que não são engajadas em nada que não a casa ou a vida familiar. A médio prazo , estas escolhas trazem sofrimento para nós mulheres.

Precisamos refletir sobre nossa postura perante a vida. Não precisamos nos tornar aquilo que não somos, mas temos que saber que todo ser humano tem dentro de si um desejo incessante de evoluir. Evoluir significa trocar com outras pessoas, ensinar, aprender, doar, receber, aprender, desenvolver habilidades e sermos capazes de monetizar usando nossos talentos. A independência feminina depende da própria mulher, que muitas vezes tem medo do mundo, tem síndrome de perfeição, trabalha para ser reconhecida como uma super mulher, mas que no fundo se acha menos capaz do que realmente é. Todos nós temos espaço no mundo, e podemos ser excelentes profissionais, ótimas esposas, boa mães e filhas, e uma peça importante na sociedade.

Construa uma pessoa inteira e plena. Cuide de todos, mas cuide de você na mesma proporção. O seu maior trabalho não é descansar, agradar aos outros, levar filhos para a escola e preparar o jantar do marido. A vida precisa de você. Use seu poder e seu talento em favor do mundo. Nos mulheres fazemos toda a diferença em todos os ambientes que frequentamos.


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