A importância da memória de trabalho
A memória de trabalho é um componente cognitivo ligado à memória que permite o armazenamento temporário de informações com capacidade limitada. Todos nós utilizamos a memória de trabalho em todos os tipos de atividades e tarefas diárias. Quando calculamos a conta do supermercado, quando fazemos anotações e criamos lembretes, quando conversamos, estamos usando a nossa memória de trabalho. Dessa forma, o resultado de todos esses processos dependerá diretamente do seu funcionamento.
A memória de trabalho, também chamada de memória operacional, é um tipo de memória de curto prazo que cuida do armazenamento e da manipulação temporária da informação. É um tipo de memória que mantém certas informações no nosso foco de atenção enquanto executa tarefas cognitivas complexas. Usando uma metáfora, poderíamos dizer que, na nossa sala de cirurgias mentais, a memória de trabalho é tanto a maca que sustenta o paciente quanto o cirurgião que o opera. O resultado dependerá, logicamente, de como conseguimos fazer os dois processos simultaneamente.
Quais são as principais características da memória de trabalho?
As principais características da memória operacional são as seguintes:
- Tem uma capacidade limitada
- É ativa: manipula e transforma as informações.
- Atualiza constantemente os seus conteúdos.
- Está intimamente relacionada com a memória de longo prazo. No entanto, pode trabalhar com conteúdos armazenados na memória de longo prazo e, ao mesmo tempo, com os conteúdos armazenados na memória de curto prazo.
A importância da memória de trabalho
Você já tentou repetir o mesmo número de telefone para marcá-lo 10 segundos depois, e não consegue mais se lembrar? É nesse momento que percebemos a importância da memória de trabalho para o nosso cotidiano e os benefícios que podemos obter ao exercitá-la e “mantê-la em forma”.
Por exemplo, a memória de trabalho é fundamental no processo de tomada de decisões e no bom funcionamento das funções executivas, especialmente quando há uma muita necessidade de atenção e planejamento das ações. Ela é importante na compreensão da linguagem oral e escrita porque nos permite manter cada palavra ativa, reconhecê-la, analisá-la semanticamente, compará-la com outras palavras e combiná-la com informações armazenadas em outro tipo de memória ou com informações que recebemos nesse momento através dos sentidos.
A memória de trabalho é o motor da cognição. Como tal, é essencial nas tarefas cognitivas, como aquelas relacionadas ao cálculo, raciocínio puramente lógico e o controle perceptivo-motor. Também está relacionada com aprendizagens muito distintas, como aprender a ler e aprender matemática. Uma pessoa que tenha alguma lesão cerebral associada a problemas de memória pode não ser capaz de definir uma palavra ou decidir se duas palavras têm uma semelhança fonética.
Memória de curto prazo é o mesmo que memória de trabalho?
A memória de curto prazo permite que uma quantidade limitada de informações seja mantida por um curto período de tempo. É considerada um “armazém passivo”, que tem uma limitação em capacidade e duração. A memória de trabalho, por outro lado, permite a realização de processos cognitivos conscientes que exigem atenção, revisão, manipulação, organização e conexões com a memória de longo prazo.
Apesar desta aparente diferença conceitual, existe atualmente uma discussão sobre se a memória de trabalho é igual a memória de curto prazo. Por um lado, uma grande parte dos pesquisadores considera que esses dois armazéns são ou formam um único sistema de armazenamento temporário, o que permite trabalhar com informações para resolver ou executar tarefas cognitivas complexas.
Por outro lado, alguns autores consideram que os dois sistemas são diferentes e desempenham diferentes funções. Para eles, a memória de curto prazo envolveria apenas o armazenamento, enquanto a memória de trabalho envolveria o processamento, isto é, o armazenamento e a manipulação.
O modelo multicomponente de Baddeley e Hitch
Para tentar explicar o funcionamento do modelo multicomponente da memória de trabalho, Baddeley e Hitch introduziram um modelo inovador que propôs a divisão da memória de trabalho em 4 subsistemas ou componentes especializados:
- O executivo central: é responsável por supervisionar, controlar e coordenar os outros sistemas. Não está envolvido nas tarefas de armazenamento. É considerado um sistema de supervisão atencional, que permite mudar o foco da atenção (atenção seletiva).
- Laço ou ciclo fonológico: permite a aquisição de vocabulário. É essencial no desenvolvimento de outras habilidades intelectuais. Está dividido em dois sistemas: o armazém fonológico passivo, que mantém as informações verbais; e o processo subvocal, que “atualiza” e mantém essa informação.
- Agenda visuoespacial: nos permite perceber os objetos, encontrar um endereço ou jogar xadrez. Também é dividido em dois sistemas: o armazém visual ativo e o escritor interno, que desempenham as mesmas funções que os componentes do ciclo fonológico.
- Buffer episódico: permite conectar as informações do ciclo fonológico e da agenda visuoespacial, bem como as representações da memória de longo prazo.
As estruturas neuroanatômicas envolvidas na memória de trabalho
A memória de trabalho não está localizada em uma parte exclusiva do cérebro, mas requer a ativação de um circuito neuronal específico. Ela atua através da ativação do córtex pré-frontal, área cerebral envolvida no planejamento de comportamentos complexos, nos processos de tomada de decisão e na adaptação do comportamento social em diversas situações.
Quando está ativa, o seu funcionamento reside na interação entre o córtex pré-frontal e diferentes áreas do córtex posterior, lobo temporal e occipital.
- O lobo temporal permite armazenar e manipular informações verbais de curto prazo (atividade do laço fonológico).
- O lobo occipital processa a informação visual (atividade da agenda visuoespacial).
A memória de trabalho é um armazém de memória temporária ativo. Graças a ele e a sua capacidade, podemos acompanhar, entender a linguagem, ler, realizar cálculos matemáticos, aprender ou raciocinar. Tudo isso é fascinante, não é mesmo?