Luto congelado ou retardado: a dor que se torna crônica

Aceitar uma perda nunca é fácil. Tanto é assim que há aqueles que não conseguem lidar com o sofrimento e o deixam de lado, recusando-se a aceitar a ausência. O luto tardio pode durar décadas e formar uma realidade na qual a dor se torna silenciosa e crônica.
Luto congelado ou retardado: a dor que se torna crônica
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

O luto congelado se refere a uma perda não superada. É a dor que se torna crônica, que se arrasta permanentemente e que se manifesta de muitas maneiras diferentes: ansiedade, estresse, exaustão, apatia, irritação constante…

Assim, por mais impressionante que possa parecer, estamos diante de uma realidade clínica que ocorre com muita frequência.

Existem pessoas que não sabem muito bem o que fazer com esse conjunto de sensações adversas. É complicado lidar com esse sofrimento que paralisa e as coloca em um vazio muito difícil de administrar.

Outras se apegam às suas vidas diárias, ao seu trabalho e obrigações tentando se convencer de que podem seguir em frente. Elas dizem a si mesmas que nada aconteceu, que a dor pode ser escondida, como alguém que mantém um objeto pessoal em um cofre.

Em ambos os casos, surge a mesma anatomia do sofrimento: a do pesar patológico, aquela em que não há fechamento ou aceitação da perda. Assim, se há algo que devemos entender é que a dor não tem data de validade.

Ela pode durar décadas e se integrar em tudo que pensamos e fazemos. No entanto, o luto congelado se mascara em várias doenças e obscurece completamente a chance de ser feliz novamente.

“Chorar é tornar o luto menos profundo”.
– William Shakespeae –

Bolha de gelo representando o luto congelado

O que é o luto congelado?

A dor pode se congelar, ficar em suspensão ou até ficar presa como uma semente em uma gota de âmbar. Isso acontece quando nos recusamos a encarar uma realidade dolorosa, quando dizemos que é melhor deixá-la de lado e retomar nossas vidas, evitando pensar naquela pessoa que acabamos de perder.

Se há algo que os especialistas em luto sabem muito bem é que esse processo psicológico é vivido de maneira muito diferente por cada um de nós.

Agora, a visão geral sobre o assunto é que uma perda é sinônimo de tristeza e que, em média, levamos entre um ano e um ano e meio para enfrentar e aceitar um luto.

Essas ideias não são totalmente corretas. Para começar, quando perdemos alguém experimentamos mais do que tristeza. Além disso, há raiva, há confusão e até angústia.

Da mesma forma, a vivência de um luto está diretamente relacionada à personalidade de cada um, com os recursos que possuem e com o apoio social e pessoal de que dispõem.

Assim, como foi explicado em um estudo realizado pela Dra. Katherine Shear, da Universidade de Columbia, Nova York, é muito difícil prever como cada pessoa enfrentará a perda de um ente querido.

Além disso, estima-se que cerca de 5% da população viverá um luto congelado ou retardado em algum momento da vida. As características desse processo seriam as seguintes:

Sintomas mais comuns

O luto congelado ou retardado aparece como um mecanismo de defesa. A pessoa se recusa a aceitar a realidade do que aconteceu, não consegue enfrentá-la e se sente incapaz de lidar com tal sofrimento.

Assim, o cérebro opta por negar ou simplesmente “congelar” o sofrimento deixando-o para outro momento.

Todo esse esforço psicológico e essa contenção emocional têm consequências:

  • É comum sofrer de transtornos de ansiedade e estresse.
  • A pessoa sofre de hipersensibilidade. Qualquer imprevisto ou evento fortuito é vivido de uma maneira superdimensionada.
  • Pode levar a transtornos alimentares ou comportamentos de dependência.
  • Há uma clara recusa em falar sobre a perda da pessoa significativa.
  • Aparecem sintomas psicossomáticos como problemas digestivos, alergias, dores de cabeça, dores musculares, problemas de pele, queda de cabelo.
  • Falta de visão ou planejamento futuro. Dessa forma, a pessoa deixa de fazer planos e não tem objetivos de vida.
  • Aparecem problemas de relacionamento: falta de alegria, paciência, desejo de compartilhar, desfrutar de momentos de lazer… Além disso, às vezes até deixa de se conectar com os outros de uma maneira autêntica. Falta empatia porque o sofrimento interno obscurece quase tudo.

Como tratar o luto congelado ou retardado

A pessoa que convive com um luto congelado deve saber que, em algum momento, toda essa carga emocional acabará emergindo. No entanto, muitas vezes basta um gatilho repentino para misturar diversas sensações ​​capazes de nos transbordar.

Assim, a morte de um animal de estimação, ver alguém doente ou até mesmo sofrendo um pequeno contratempo, desencadeia uma enxurrada de sentimentos que não sabemos como administrar.

No Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), a condição clínica do luto congelado não aparece como tal. No entanto, ele inclui critérios diagnósticos para o “transtorno do luto complexo persistente”.

Agora, sabendo que esse tipo de luto patológico existe, nos últimos anos foram desenvolvidas novas terapias que se mostraram muito eficazes para enfrentá-lo.

Um exemplo disso foi apresentado em um estudo de 2012 conduzido pela Dra. Julie Wetherell, da Universidade de San Diego, Califórnia. É uma abordagem que combina terapia cognitivo-comportamental e terapia interpessoal com técnicas de exposição prolongada.

O objetivo básico é facilitar a aceitação da perda, trabalhar as emoções e um aspecto que costuma surgir em muitos casos: o sentimento de culpa.

Jovem fazendo terapia para enfrentar o luto

Para concluir, enfrentar uma perda é algo para o qual ninguém está preparado. O luto não é um processo universal nem normativo, é dinâmico, duro, complexo e até patológico em muitos casos.

No entanto, ser capaz de pedir ajuda lhe permitirá enfrentar essa realidade de uma maneira mais ajustada e saudável.


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