Os melhores poemas curtos de Mario Benedetti para dedicar
Certamente você já leu algum poema de Mario Benedetti e sentiu que foi escrito só para você. Essa é a magia das suas palavras: são poderosas, honestas e cheias de vida. Seus poemas são como abraços para a alma, ideais para aqueles momentos em que você quer expressar seu amor, conforto ou um pouco de esperança.
Com uma sensibilidade única e uma linguagem simples mas profunda, esse autor deixou um legado que continua a mover gerações. A seguir, apresentamos os melhores versos desse poeta.
1. Coração couraça
Porque te tenho e não
porque te penso
porque a noite está de olhos abertos
porque a noite passa e digo amor
porque vieste a recolher tua imagem
porque és melhor que todas tuas imagens
porque és linda desde o pé até a alma
porque és boa desde a alma a mim
porque te escondes doce no orgulho
pequena e doce
coração couraça
porque és minha
porque não és minha
porque te olho e morro
e pior que morro
se não te olho amor
se não te olho
porque tu sempre existes onde quer que seja
porém existes melhor onde te quero
porque tua boca é sangue
e tens frio
tenho que te amar amor
tenho que te amar
ainda que esta ferida doa como dois
ainda que busque e não te encontre
e ainda que
a noite passe e eu te tenha
e não
2. Troca – Poemas de Mario Benedetti
É importante fazê-lo
Quero que me contes
o teu último otimismo,
eu te ofereço
minha última confiança.
Ainda que seja
uma troca mínima,
devemos nos comparar.
Você está só,
eu estou só,
por algo somos próximos.
A solidão também
pode ser
uma chama.
3. Apaixonar-se e não
Quando alguém se apaixona, as patrulhas
do tempo fazem escala no esquecimento,
a desgraça se enche de milagres,
o medo se transforma em ousadia
e a morte não sai de sua caverna.
Apaixonar-se é um presságio gratuito,
uma janela aberta para a árvore nova,
uma proeza dos sentimentos,
uma bonança quase insuportável
e um exercício contra o infortúnio.
Por outro lado, desapaixonar-se
é ver o corpo como ele é, e não
como o outro olhar o inventava,
é retornar mais pobre ao velho enigma
e encontrar a tristeza no espelho.
4. O que preciso de você
Você não sabe como preciso da sua voz;
preciso dos seus olhares,
daquelas palavras que sempre me preenchiam,
preciso da sua paz interior;
preciso da luz dos seus lábios.
Não posso mais… continuar assim!
…Já… Não consigo.
Minha mente não quer pensar,
não consegue pensar em nada além de você.
Preciso da flor das suas mãos,
daquela paciência em todos os seus gestos,
com aquela justiça que me inspira
para o que sempre foi meu espinho.
Minha fonte de vida secou
com a força do esquecimento…
estou me consumindo;
aquilo que preciso já encontrei,
mas ainda… continuo sentindo sua falta!
5. Triângulo – Poemas de Mario Benedetti
O fulano está insone
e a sicrana atravessa
sua noite de desconfianças.
Ele engole seus comprimidos
porque tenta adormecer
e assim entrar no sonho
da doce sicrana
e sua abstrata luxúria.
E nesse território
buscá-lo / encontrá-los,
surpreendê-los
e então
perseguir o beltrano
até o amanhecer.
6. Relatório de carinho
1
A carícia é uma linguagem;
se tuas carícias me falam,
não gostaria que se calassem.
2
A carícia não é cópia
de outra carícia distante,
é uma nova versão,
quase sempre melhorada.
3
É a festa da pele,
a carícia enquanto dura,
e, quando se afasta, deixa
a luxúria desamparada.
4
As carícias dos sonhos,
que são prodígio e encanto,
sofrem de um defeito:
não têm tato.
5
Como aventura e enigma,
a carícia começa antes
de se tornar carícia.
6
É claro que o melhor
não é a carícia em si,
mas sua continuação.
7. Silêncio
Que esplêndida lagoa é o silêncio,
lá, na margem, um sino espera,
mas ninguém se atreve a afundar um remo
no espelho das águas quietas.
8. Amor da tarde – Poemas de Mario Benedetti
É uma pena que você não esteja comigo
quando olho o relógio e são quatro horas,
termino a planilha e penso por dez minutos,
estico as pernas como todas as tardes,
faço assim com os ombros para relaxar as costas,
e dobro os dedos, arrancando-lhes mentiras.
É uma pena que você não esteja comigo
quando olho o relógio e são cinco horas,
e sou um ponteiro que calcula juros,
ou duas mãos que saltam sobre quarenta teclas,
ou um ouvido que escuta o telefone latir,
ou um sujeito que faz números e arranca-lhes verdades.
É uma pena que você não esteja comigo
quando olho o relógio e são seis horas.
Você poderia se aproximar de surpresa
e me dizer: “E aí?”, e ficaríamos
eu com a marca vermelha dos seus lábios,
você com a mancha azul do meu carbono.
9. Enigmas
Todos temos um enigma
e, como é lógico, ignoramos
qual é sua chave, seu segredo.
Rondamos os arredores,
colecionamos os destroços,
nos perdemos nos ecos,
e o perdemos no sonho
justo quando ia se decifrar.
E você também tem o seu,
um enigma tão simples
que as janelas não o ocultam,
nem os presságios o descartam.
Está nos seus olhos, e você os fecha;
está nas suas mãos, e você as retira;
está nos seus seios, e você os cobre;
está no meu enigma, e você o abandona.
10. Eu te amo
Suas mãos são minha carícia,
meus acordes cotidianos,
eu te amo porque suas mãos
trabalham pela justiça.
Se eu te amo é porque você é
meu amor, minha cúmplice e tudo,
e na rua, lado a lado,
somos muito mais que dois.
Seus olhos são meu feitiço
contra o dia ruim,
eu te amo pelo seu olhar
que olha e semeia futuro.
Sua boca que é sua e minha,
sua boca não se engana,
eu te amo porque sua boca
sabe gritar rebeldia.
Se eu te amo é porque você é
meu amor, minha cúmplice e tudo,
e na rua, lado a lado,
somos muito mais que dois.
E pelo seu rosto sincero,
e seu passo vagabundo,
e seu choro pelo mundo,
porque você é povo, eu te amo.
E porque o amor não é auréola
nem ingênua lição de moral,
e porque somos um casal
que sabe que não está só.
Eu te amo no meu paraíso,
quer dizer, no meu país,
onde as pessoas vivam felizes
ainda que não tenham permissão.
Se eu te amo é porque você é
meu amor, minha cúmplice e tudo,
e na rua, lado a lado,
somos muito mais que dois.
11. Não sei quem é
É provável que venha de muito longe,
não sei quem é nem para onde vai.
É apenas uma mulher que morre de amor,
percebe-se em seus pétalos de lua,
em sua paciência de algodão,
em seus lábios sem beijos ou outras cicatrizes,
em seus olhos de azeitona e penitência.
Essa mulher que morre de amor
e chora protegida pela chuva
sabe que não é amada nem nos sonhos.
Carrega nas mãos suas carícias virgens,
que não encontraram pele onde pousar,
e, fugindo do tempo, sua luxúria
se derrama em uma tigela de cinzas.
12. When you are smiling
When you are smiling
acontece que seu sorriso é o sobrevivente,
o rastro que o futuro deixou em você,
a memória do horror e da esperança,
a marca dos seus passos no mar,
o sabor da pele e sua tristeza.
When you are smiling
the whole world
que também guarda sua amargura,
smiles with you.
13. Como um milagre
O lindo casalzinho que caminha
pelo velho teclado de ladrilhos
sabe e não sabe sobre seu amor com prazo
ou sobre as marcas que os dias imporão.
O lindo casalzinho em sua bolha
não quer saber de cinzas,
nem de covas alheias, nem de fobias;
só quer amar-se aos tropeços.
Assume sua paixão como uma prisão,
nada de liberdade condicional;
com suas duas solidões basta e sobra,
com seus dois corpos e suas quatro mãos.
Tem razão o lindo casalzinho,
não é fácil instalar-se na exceção.
O prazo do amor é um instante
e é preciso fazê-lo durar como um milagre.
14. Vice-versa
Tenho medo de te ver,
necessidade de te ver,
esperança de te ver,
angústia de te ver.
Tenho vontade de te encontrar,
preocupação de te encontrar,
certeza de te encontrar,
pobres dúvidas de te encontrar.
Tenho urgência de te ouvir,
alegria de te ouvir,
boa sorte de te ouvir
e temores de te ouvir.
Ou seja,
resumindo,
estou ferrado
e radiante,
talvez mais o primeiro
do que o segundo,
e também,
vice-versa.
15. Sobre cartas de amor – Poemas de Mario Benedetti
Uma carta de amor
não é uma carta de baralho.
Uma carta de amor tampouco é uma carta
pastoral ou de crédito, de pagamento ou frete.
No entanto, assemelha-se a uma carta de amparo,
já que, se a alegria ou a tristeza
se animam a escrever uma carta de amor,
é porque nas entranhas da noite
se abrem a euforia ou a angústia,
as cinzas esquecem sua fogueira,
ou a culpa se abriga em seu passado.
Uma carta de amor
é, geralmente, um pobre afluente
de um rio caudaloso.
E nunca está à altura da paisagem,
nem dos olhos que olharam verdes,
nem dos lábios doces
que beijaram trêmulos ou não beijaram,
nem do céu que, às vezes, desaba
em tempestades, em escárnio ou em granizo.
Uma carta de amor pode ser enviada
de uma colina ou de uma masmorra,
da exaltação ou do luto,
mas não tem jeito, sempre
será apenas um reflexo,
uma cópia singela do sentimento.
Uma carta de amor não é o amor,
mas um relatório da ausência.
Mario Benedetti, um universo para explorar
Embora curtos, se os poemas anteriores de Mario Benedetti tocaram suas emoções ou fizeram você pensar em alguém especial, não hesite em continuar descobrindo mais de sua obra. Suas frases e versos continuam sendo uma fonte infinita de reflexão, consolo e beleza, capaz de nos acompanhar nos mais diversos momentos da vida.
Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.
- Benedetti, Mario. (1994). Antología Poética. Editorial Sudamericana
- Benedetti, Mario. (1998). La vida entre paréntesis. Ediciones La Cueva.
- Benedetti, Mario. (2016). El amor, las mujeres y la vida. Editorial Sudamericana.