Que metade do mundo pare e conte suas histórias
Que metade do mundo pare e conte suas histórias pela primeira vez. Que as mulheres abram caminho sem pedir permissão e que percebamos que, sem elas, a sociedade não faz sentido. Que as mulheres tenham seu espaço, sua voz em todos os sentidos, e que metade do mundo pare para que, graças ao feminismo, possamos nos tornar iguais à outra metade.
Você está pensando que já vivemos em um mundo igualitário e que o feminismo é um movimento exagerado? Convido você a refletir: quantas mulheres você via em seu livro de história? E no de química ou de matemática? Quantas mulheres administram departamentos ou empresas? Quantas mulheres são julgadas todos os dias por serem solteiras ou por seu corpo? Continue lendo e você ficará surpreso com o que a metade feminina do mundo fez na história, mas foi silenciada por pertencer ao “gênero errado”.
“Somente depois que as mulheres começam a sentir-se à vontade nesta terra vemos uma Rosa Luxemburgo, uma Madame Curie. Elas demostram brilhantemente que não foi a inferioridade feminina que determinou sua insignificância histórica.”
-Simone de Beauvoir-
A metade do mundo e a história ou a ciência
Embora o acesso das mulheres à educação nos países ocidentais não tenha ocorrido até meados do século XX, e em outros países ainda não seja uma realidade, as mulheres fizeram importantes descobertas científicas que mudaram o mundo. Uma das mais conhecidas foi Marie Curie, ganhadora de dois prêmios Nobel, um, o mais conhecido, de física, que compartilha com o marido Piere Currie e o Sr. Henri Becquerel. Porém o mais desconhecido, de química, ganhou sozinha em 1911 pela descoberta do rádio e do polônio.
Ela não foi a única mulher de sua família a ganhar um Nobel, você sabia disso? É muito possível que não. Sua filha, Irène Joliot-Curie, o ganhou com seu marido em 1935 por causa das descobertas que fizeram sobre a radioatividade enquanto continuavam os estudos de sua mãe.
E não são as únicas, Gerty Theresa Cori, Maria Goeppert-Mayer, Dorothy Crowfoot Hodgkin ou Rosalyn Yalow, entre muitas outras, também ganharam este prestigioso prêmio em física ou medicina, mas você nunca as encontrou em seus livros de ciências ou história. Nós mulheres somos sistematicamente silenciadas por nossas conquistas quando as mesmas pertencem a campos em que os homens tendem a ser a maioria, e mesmo naqueles em que eles não são.
E os eventos históricos? Todos nós conhecemos Cleópatra, embora mais do que por suas técnicas de batalha ou de gestão de seu império, a conheçamos por seus casos e seus truques de beleza. Isso nunca acontece com os homens. Difícil imaginar que se julgue um homem na história por estas razões, eles não fazem parte da outra metade do mundo.
Mesmo assim, há mulheres que foram muito importantes na história e que geralmente não aparecem nos livros. Ada Lovelace, que lançou as bases da computação moderna, Ellen Swallow Richards, mãe da engenharia ambiental, Sarah Mather, inventora do periscópio, Emily Warren Roebling, arquiteta que liderou a construção da famosa Ponte do Brooklyn, Beulah Louise Henry, uma das inventoras mais produtivas da ciência que em nada perdem para Leonardo Da Vinci, ou muitas outras mulheres corajosas e inteligentes das quais não ouvimos falar.
A metade do mundo que nos rodeia
Mas isso não acontece mais, certo? Hoje em dia muitas pessoas continuam fazendo essa pergunta. Sinto dizer que a resposta é que ainda temos muito a fazer pela igualdade. Pergunte ao seu redor, escute as mulheres que você conhece e saberá a resposta.
Eu quero que se levante a metade do mundo, que pode ser sua avó, e te conte por que ela não pôde estudar. Uma explicação comum: sua mãe trabalhava no campo, e ela, sendo a mais velha de suas irmãs, tinha que cuidar do resto das crianças, mesmo que tivessem um irmão mais velho, porque eles eram os únicos provedores de sua futura família e ela seria mais uma das sustentadas.
Eu quero que se levante a metade do mundo, pessoas como sua mãe, e que te contem porque durante o regime de Franco as aulas foram divididas por sexo e elas aprendiam a costurar enquanto eles aprendiam ciência. O que faz com que atualmente eles tenham empregos com melhor salário que elas.
E, finalmente, quero que levante a metade jovem do mundo, aquela que não consegue ascender e progredir em seu trabalho porque decide ser mãe. Porque não pode fazer hora extra e se ausenta mais no trabalho por ter que cuidar da família, pois é “coisa de mulher”. Os homens, ainda que ajudem na paternidade, não a exercem no local de trabalho. Eles raramente vão a reuniões na escola porque é “coisa de mulher”. Aquela metade do mundo que trabalha em dobro, fora e dentro de casa, mas sofre com a diferença salarial.
Eu quero que se levante a metade do mundo em busca de igualdade. Que sejamos ouvidas porque temos que encontrar nosso espaço. Porque se nós tivermos um capítulo nos livros, será mais fácil para as meninas da geração futura terem uma referência na ciência, na história e na vida. Precisamos escutar as mulheres, porque, embora você não saiba, raramente as ouvimos de verdade.