Você não tem que mudar, mas colocar a seu favor tudo que você é

Você não tem que mudar, mas colocar a seu favor tudo que você é

Última atualização: 29 dezembro, 2016

Mudar é um verbo que conjugamos todos os dias. Todos os seres humanos carregam um mal-estar que querem superar, em maior ou menor grau. Viver não é fácil, e desde que nascemos estamos sujeitos a proibições e perdas que continuam até que nosso coração pare de bater. Sempre vai existir algo que desejamos e que não podemos conseguir. Sempre haverá uma nostalgia nos assediando ou alguma frustração cozinhando.

O mal-estar diante da vida em si não é negativo, porque é exatamente a partir dele que encontramos motivações para evoluir. Mas a discordância pode se tornar danosa quando alcança uma dimensão desproporcional e se transforma em um obstáculo. Quando nos leva a culpar-nos por não sermos “melhores” ou a renunciarmos aos nossos sonhos porque sentimos que estamos excluídos do mundo das conquistas.

Às vezes o mal-estar que sentimos se volta contra nós mesmos. É um erro de foco, já que isso não se trata de nos açoitarmos. Em algumas ocasiões nos culpamos por não alcançar o feito “x”, ou por algo não ser da maneira “x”.

Na realidade, não se trata de mudar, de ser diferente ou de negar aquilo que somos. A questão vai mais pelo lado de assumir uma perspectiva mais inteligente e compreensiva com nós mesmos para podermos aproveitar melhor nossos talentos e até mesmo as nossas deficiências.

O que devemos mudar e o que não

Podemos mudar a nossa forma de agir, mas não nossa forma de ser. Viemos ao mundo com um temperamento, um patrimônio genético e algumas condições socioculturais que vão sempre marcar a maneira como edificamos nosso ser no mundo.

O temperamento e o caráter básico podem ser polidos, melhorados, potencializados, mas em termos essenciais, não é possível mudar. No entanto, existe uma espécie de “mercado da personalidade” que foi imposto e que insiste em promover a ideia de que há apenas UMA forma adequada de ser, UMA forma “certa” de viver.

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Essa ideia de que existem algumas formas adequadas e outras inadequadas é o que termina transformando-se em uma dificuldade para que cada um possa se aceitar da forma como é. Não é melhor ser extrovertido que introvertido, nem é mais louvável ser ousado do que cauteloso, nem é mais admirável ser racional do que sensível. Tratam-se simplesmente de formas de ser diferentes, que podem ser adequadas ou inadequadas dependendo das circunstâncias específicas.

Cada um se desenvolve e floresce de uma maneira diferente. A opção de mudar só é válida para os hábitos, os aspectos da personalidade que não estão suficientemente cultivados, ou os comportamentos que podem machucar a própria pessoa ou as outras. Mas o núcleo central do que somos deve ser preservado, já que ele é o que nos define.

As virtudes que se transformam em defeitos e vice-versa

Alguém que fala demais pode ser muito problemático para trabalhos que exigem sigilo, como o de detetive privado ou investigador de seguros. Outra pessoa que seja muito reservada certamente não se dará bem como promotor ou animador de eventos. Portanto, o que é uma virtude em certo âmbito, pode ser um terrível defeito em outro. Nem um, nem outro são bons em si mesmos, mas sim diferentes. Nem um, nem outro teriam que mudar, apenas localizar-se no ambiente que mais os favoreça.

No plano pessoal costumamos dar um padrão de polaridade ou complementaridade. Isso quer dizer que, em certos aspectos, duas pessoas que sejam muito parecidas não se entendem ou não funcionam bem. As melhores equipes são formadas por pessoas que têm características complementares. Ninguém tem que mudar para pertencer a um grupo, mas sim aprender a localizar-se para poder operar dentro dele.

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Por exemplo, alguém que sempre tem muitas ideias se complementará bem com outra pessoa que tenha habilidades para organizar ou colocá-las em prática. Alguém impulsivo pode inspirar e motivar outra pessoa que seja mais cautelosa e esta, por sua vez, pode colocar um limite realista nas iniciativas arriscadas do primeiro.

Cada um tem a tarefa de aprender a ver o valor daquilo que é. Não permita que filtrem mensagens vazias que tentam induzi-lo a deixar de ser quem você é. Se alguma coisa tem que mudar, isso sempre deve ser feito respeitando a sua essência. Se alguma coisa tem que mudar, é possivelmente o ambiente onde você está alojado: pode ser um meio que não deixa você ser quem realmente é.

Imagens cortesia de Francine Van Hove.


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