O amor não tem tamanho, o que se encaixa é o coração

O amor não tem forma nem molde. O amor é gratuito e não está cheio de preconceitos. O amor é e deve ser sempre livre e sem amarras.
O amor não tem tamanho, o que se encaixa é o coração
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 14 janeiro, 2024

O amor não tem tamanho. O que se encaixa é o coração e os valores, o que realmente importa é o que o casal quer e não o que o mundo pensa. Ninguém é responsável por termos tantos anos, que você venha do Mali e eu da Polônia ou que você seja alto e eu baixo, ou você magro e eu não… Porque não, a paixão não conhece tamanhos nem tem tempo para os olhares que nos julgam.

Devemos admitir, vivemos em uma realidade social onde o diferente incomoda, onde quem ousa sair do padrão ou do que é normativo ou esperado é instantaneamente apontado com o dedo. Estamos moldados por uma sociedade que ainda murmura baixo quando em um casal ela é a mais velha, vivemos em um mundo onde a jovem feliz e sorridente que vai segurada pela mão de um homem mais velho é vista como alguém que longe de sentir amor, tem interesse em seu coração.

“O amor não é olhar um para o outro, mas sim olhar os dois na mesma direção.”
-Antoine de Saint-Exúpery-

Nem todos são capazes de compreender que essas duas pessoas que caminham com as mãos entrelaçadas, ao contrário de quem as criticam pelas suas costas (geralmente para fazer frente a frente não há coragem suficiente), sentem felicidade. Não importa que um seja alto e outro baixo, que sejam do mesmo sexo ou que um pese 100 quilos e o outro a metade… Esse casal avança ao longo da rua como um quebra-gelo no Mar do Norte dos convencionalismos, deixando o iceberg de preconceitos de lado.

Ao menos é assim que deveria ser.

O amor não tem tamanho

Um amor corajoso, um amor que não se preocupa com os preconceitos

Mildred e Richard Loving se apaixonaram quando ela tinha 11 anos e ele 17. Eles eram muito jovens, sem dúvida, mas isso não era nem de perto o maior dos seus problemas. Eram os anos 50, estamos na Virgínia e ela era filha de um afro-americano e uma índia da tribo rappahannock.

Richard, por sua vez, é de ascendência européia. Naquela época, estava em vigor o Ato de Integridade Racial, uma das leis mais vergonhosas que distinguia socialmente as pessoas entre brancos e gente “de cor” e que proibia o casamento entre elas. Caso acontecesse, havia apenas duas opções: a prisão ou a expulsão dos Estados Unidos.

Nada disso colocou empecilhos no amor de nosso casal. Em 1958, quando Mildred completou 18 anos, eles decidiram se casar, no entanto, um ano depois, quando ela estava grávida, um vizinho os denunciou e foram separados. Richard Loving foi colocado na prisão até 1964, quando Mildred Loving, desesperada diante dessa situação, decidiu escrever uma carta emocionante e corajosa para Robert Kennedy, que a colocou em contato com a União Americana de Liberdades Civis (ACLU).

Três anos depois, em 1967, o caso Loving foi um marco no triunfo dos direitos sociais. O Supremo Tribunal declarou que “a liberdade de escolher se casar não pode ser restringida por uma odiosa discriminação racial.”

Mildred e Richard Loving

Agora, se há algo que nos surpreende nesta história é que tem apenas 50 anos e que esse tipo de progresso, como também é o caso da legalização do casamento entre membros do mesmo sexo, sejam marcos tão complexos de se alcançar e tenham histórias verdadeiramente dramáticas por trás deles.

No entanto, e embora seja difícil de acreditar, como muitos estudos nos dizem, tanto os casais inter-raciais quanto os de mesmo sexo são aqueles que mais continuam a sofrer os nossos preconceitos e o peso desses olhares que muitas vezes julgam em silêncio.

O amor não tem tamanho: 0 coração é quem torna invisíveis as diferenças

O amor é muito mais do que Antoine de Saint-Exupéry nos contou em “O Pequeno Príncipe”. Não se trata apenas de que ambos olhemos em uma mesma direção, também precisamos olhar nos olhos todos os dias para nutrir nossa “consciência de casal”, para investir nos conhecidos quatro “C” que definem o relacionamento afetivo forte e feliz: compromisso, cooperação, comunicação e comunidade – ou intimidade.

É através dessas dimensões que o casal encontra sua força para atingir essa velocidade onde rompe a barreira social da crítica e do preconceito. Porque se há algo realmente trágico, algo que iremos lamentar quando chegar a hora de deixarmos este mundo, é de não é termos sido corajosos, é de não termos amado quando fomos capazes e devíamos, quando tivemos essa oportunidade que raramente se repete.

O coração deve ser corajoso e tornar invisíveis tanto as diferenças quanto as críticas ao nosso redor. Nós nunca seremos muito velhos para amar novamente, embora nossos filhos nos digam aquilo de “na sua idade isso já não faz sentido”. Não vamos deixar esse garoto ou garota da escola ou da faculdade apenas porque nossos amigos nos dizem que “é estranho, está gordo ou esse não é para você”.

Dedos entrelaçados de casal apaixonado

Só nós sabemos o que se encaixa em nosso coração, o que dá calor à nossa pele, o que protege nossa alma e o que dá música aos nossos sorrisos. Avancemos por esta sociedade com nossos amores de mãos dadas, como quebra-gelos no mar de hipocrisia, como pipas coloridas que não precisam de vento para voar, seguros de que o amor não tem tamanho.


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