O reino dos fantasmas famintos
O Dr. Gabor Maté é um dos estudiosos de maior prestígio no campo dos vícios e autor do livro No reino dos fantasmas famintos. Ele é uma figura amplamente considerada por seu trabalho com pessoas com altos níveis de dependência, e trabalha especialmente com viciados em drogas no Downtown Eastside de Vancouver.
Maté define o vício como um continuum que vai do viciado em drogas que evitaríamos em uma esquina até os viciados em trabalho, os compradores compulsivos ou os viciados em comida. Gabor Maté argumenta que todos nós possuímos vícios em algum grau e que eles surgem de nosso próprio núcleo emocional.
Sua teoria, sobre a qual ele fala a fundo no livro No reino dos fantasmas famintos, nos mostra o vício enraizado no abuso infantil. Segundo Maté, os primeiros anos de vida são aqueles que ditam a probabilidade e o tipo de dependência. A partir de suas experiências clínicas, ele concluiu que a fonte do vício está nas substâncias químicas formativas do cérebro.
Ele também comparou estudos que associam a falta de amor, abuso e tipo de apego a uma deficiência na capacidade de processar endorfinas e dopamina. Essas substâncias estão ligadas às sensações de prazer e redução da dor. Nesse sentido, o vício seria o responsável por repor essa deficiência na neuroestimulação.
Somos todos viciados?
No livro, Gabor Maté fala sobre o espectro de compulsão que ele entende como vício. Também reflete de maneira brilhante como todas as pessoas podem ser suscetíveis a fazer parte desse espectro de comportamento compulsivo em maior ou menor grau.
Seus exemplos vão desde assistir televisão, fazer compras compulsivas, sexo, comida e até mesmo o vício em se divertir. Ele explica que esse ponto de vista produz um efeito de espelho no qual todos podemos nos ver refletidos individualmente, mas também coletivamente.
Os vícios nascem da dor
Em No reino dos fantasmas famintos, Gabor explica que, na verdade, a origem de todo vício é a dor por traumas mais ou menos graves sofridos na infância. Essa seria a origem, mas o verdadeiro problema está nas tentativas fracassadas de preencher um vazio interno por meio de medidas externas. Nenhuma dessas medidas externas trata a origem da dor, apenas os sintomas.
Desta forma, Gabor Maté coloca uma questão-chave em todo o enfrentamento do vício, qualquer que seja a sua natureza. A pergunta não é “Por que o vício?”, como podemos pensar. A pergunta-chave seria: “Por que a dor?”
As histórias de pacientes
Na visão de Maté, essa substituição química de que o viciado precisa e que seu corpo não consegue produzir ocorre tanto nos viciados em drogas quanto nos que buscam preencher as lacunas por meio de diferentes estimulantes externos.
Em No reino dos fantasmas famintos, Maté revê algumas histórias de pacientes viciados em heroína, metanfetamina e cocaína. Os padrões de baixa autoestima e falta de habilidades de enfrentamento parecem se repetir em todos eles. Na infância, muitas vezes é fácil encontrar uma história de abuso e negligência, além de baixos níveis de dopamina.
Assumindo a responsabilidade pelas ações
O livro parte da premissa de que qualquer vício ou compulsão pode ter sua origem em um mecanismo de defesa desenvolvido em um momento e circunstância específicos. Algo que, no passado, ajudava o indivíduo a se proteger depois se torna um elemento que gerencia outros aspectos de sua vida.
Portanto, para Gabor, o enfrentamento dos vícios passa pelo reconhecimento da origem e do mecanismo de defesa, além de reconhecer a falta de necessidade desse mecanismo atualmente. A situação que causava a dor e a necessidade de se defender não existe mais e, portanto, o mecanismo de defesa também perdeu o sentido.
O reino dos fantasmas famintos
O autor de No reino dos fantasmas famintos defende um programa estatal de administração gratuita de substâncias psicoativas a viciados. A ideia é fazê-lo em um ambiente controlado e higiênico, onde não haja processos contra essas pessoas.
O Dr. Gabor é um defensor ferrenho dessa ideia, que parece ser eficaz na redução da taxa de mortalidade de pessoas viciadas. Esse fato seria consequência direta dessas pessoas não precisarem mais roubar ou se prostituir para pagar o vício. Ao mesmo tempo, a transmissão da doença é controlada.
Apesar das muitas vozes que pedem cautela nesse sentido, os dados são animadores e mostram que a administração dessas substâncias em ambientes diferentes daqueles que geraram o vício fortalece a vontade de quem quer parar. Para as pessoas que não se sentem capazes de superar o vício com nenhum tratamento, esses centros oferecem, pelo menos, a oportunidade de levar uma vida mais digna, saudável e menos arriscada.
Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.
- Kelly L. (2008). In the realm of hungry ghosts. Close encounters with addiction. Canadian Family Physician, 54(6), 894.
- Small D. (2008). Fighting addiction’s death row: British Columbia Supreme Court Justice Ian Pitfield shows a measure of legal courage. Harm reduction journal, 5, 31. doi:10.1186/1477-7517-5-31
- Rodriguez, Alejandro (2015). En el reino de los fantasmas hambrientos, encuentros cercanos con la adicción. Signs of the Times. Recuperado de https://es.sott.net/article/41527-Exclusiva-SOTT-En-el-reino-de-los-fantasmas-hambrientos-encuentros-cercanos-con-la-adiccion
- Peele, Stanton (2011). The Seductive (But Dangerous) Allure of Gabor Maté Gabor Maté is admirable, but leads us down the wrong road