A origem da morte segundo a mitologia japonesa

A origem da morte segundo a mitologia japonesa
María Prieto

Escrito e verificado por a psicóloga María Prieto.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

A origem da morte segundo a mitologia japonesa está em uma curiosa lenda sobre a criação do Japão. Apesar da influência da antiga civilização chinesa, uma parte muito significativa da religião e da mitologia japonesa é única. Além disso, contêm tradições xintoístas e budistas, assim como crenças populares agrícolas.

Os mitos japoneses convencionais se baseiam no Kojiki e no Nihon Shoki. Kojiki literalmente significa ‘registro de coisas antigas’ e é considerado o livro mais antigo sobre mitos, lendas e a história do Japão. Nihon Shoki é o segundo mais antigo e narra vários feitos dos deuses.

Vamos ver a seguir como é a origem da morte segundo a mitologia japonesa, através de uma maravilhosa lenda.

“Para que se apegar ao que vamos perder de qualquer forma?”
-Isabel Allende-

A lenda sobre a criação do Japão

No início dos tempos, os primeiros deuses japoneses criaram dois seres divinos. Um homem chamado Izanigi e uma mulher, Izanami. Esses deuses ancestrais lhes incumbiram a missão de criar uma terra tão maravilhosa que não tivesse comparação com nenhuma outra.

Japão

Anos mais tarde, quando concluíram a missão imposta pelos primeiros deuses, decidiram que era o momento de ter filhos. E da união dessas duas divindades nasceram as oito grandes ilhas japonesas. 

A harmonia reinava no mundo criado. As divindades viviam felizes junto com seus filhos até que, um dia, Izanami concebeu Kagutsuchi, deus do fogo. Após um parto muito complicado, a mãe passou um tempo muito doente até que, por fim, morreu.

O sofrimento pela morte da divindade foi tão devastador que Izanigi não se conformou e, depois de sepultar seu corpo na montanha, no mítico monte Hiba, perto de Izumo, decidiu ir em busca de sua amada até o reino de Yomi, nome que recebe a terra dos mortos.

Izanigi percorreu todo o caminho até chegar ao território das trevas e começou a busca por sua amada esposa. Todos os demônios com os quais se encontrou avisaram que Izanami nunca poderia acompanhá-lo, que era impossível regressar à terra dos vivos depois de ter conhecido Yomi.

Após muitos meses de penúria e sofrimento, Izanigi por fim encontrou sua esposa em um lugar no qual reinava a escuridão. Ela lhe disse que não podia voltar com ele porque já era muito tarde, pois havia comido o alimento do submundo. No entanto, ia tentar convencer os dirigentes de Yomi para que a deixassem ir embora e pediu para que seu marido não entrasse durante esse momento.

A única condição para conseguir a aprovação dos deuses era que Izanigi não olhasse sua esposa quando voltasse a entrar no palácio. Mas a divindade, assim como no mito de Orfeu, não resistiu à tentação, acendeu uma pequena chama e entrou no palácio. Com a luz, Izanigi violou a lei de perturbar a harmonia das trevas e contemplou o corpo de sua esposa transformado em um cadáver apodrecido, cheio de vermes; de sua cabeça e de seu peito emergiam as divindades do trovão e do relâmpago.

Dessa forma, o deus fugiu aterrorizado enquanto sua cônjuge o acusou de cobri-la com vergonha e o perseguiu por todo o reino Yomi para matá-lo. Após uma perseguição incessante, Izanami atravessou o corpo de seu marido com uma lança, deixando-o gravemente ferido.

O pai da criação correu sem descanso até sentir a brisa do exterior, apesar de estar ferido, conseguiu chegar ao reino dos vivos e, com a escassa força restante, selou com uma grande rocha a estreita abertura que separava ambos os mundos.

Do interior da caverna, Izanami gritou para que seu marido a deixasse entrar no reino dos vivos, mas ele, apavorado por tudo o que passou, se negou veementemente. Então, a deusa ameaçou seu cônjuge de matar 1.000 humanos por dia, ao que Izanigi respondeu “então eu darei vida a outros 1.500 seres por dia”.

Foi assim que a morte começou a se espalhar pela Terra e teve início a celebração do Dia dos Mortos japonês, ou o Obon, há mais de 500 anos.

A origem da morte segundo a mitologia japonesa

A origem da morte segundo a mitologia japonesa não deixa de fazer parte de um passado milenar no qual os mitos e a religião fazem parte do pensamento global da cultura ancestral.

Paisagem no Japão

Hoje em dia, no Japão, ocorreu uma deterioração do senso de comunidade, família e morte, dando lugar a um pensamento mais ocidentalizado. Considera-se que a morte está revestida de uma certa sujeira que deve ser purificada e, portanto, é necessário limpar, aromatizar, vestir e preparar com uma aparência o mais digna possível a pessoa que faleceu e cuja alma está indo para o mundo do além.

Como conclusão, e diferentemente da cultura ocidental, na qual esse processo é tratado como um tabu, a morte, segundo a mitologia japonesa, é considerada algo inevitável, sendo o importante as ações realizadas em vida. A dor pelo falecimento de um ente querido se transforma em uma sensação reconfortante ao considerar que a alma da pessoa continua entre nós.

“Para sempre é muito tempo. Acho que voltaremos a nos encontrar em melhores circunstâncias ou em outras vidas”.
-Miyamoto Musashi-


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