Os 10 melhores livros de psicanálise
A psicanálise é uma corrente muito curiosa: a fascinação que suas teorias e hipóteses podem causar é muito grande. Por outro lado, a leitura dos melhores livros de psicanálise, especialmente de determinados autores, pode inicialmente ser um pouco complicada para uma pessoa que não está acostumada a navegar em suas águas.
A maioria dos livros enquadrados na corrente da psicanálise requer por parte do leitor uma leitura cuidadosa e uma digestão pausada do seu conteúdo. Em outras palavras, não são livros que vão nos acordar quando estivermos com sono.
Muitas vezes o leitor tem que voltar ao mesmo parágrafo para encontrar um sentido ou continuar a leitura com a esperança de encontrar mais à frente algo que lhe permita resolver a questão que se formou na sua mente. Dessa maneira, muitas vezes a compreensão é alcançada por um tipo de epifania que, na psicologia, recebe o nome de insight.
No entanto, há determinadas obras que valem o esforço. Nesse sentido, por mais resumos ou esquemas que possamos ler sobre determinada obra, o texto original sempre terá um encanto que nunca poderá igualar os outros que falam sobre ele. Assim, neste artigo enumeramos e recomendamos as obras que mais peso exerceram na evolução da psicanálise.
Livros do início da Psicanálise
Estudos sobre a histeria (1895)
É um tratado escrito por Josef Breuer e Sigmund Freud. Nele está exposto o tratamento de cinco jovens histéricas utilizando um inovador método terapêutico. Tal método consistia em trazer à memória, com a ajuda da hipnose, lembranças traumáticas esquecidas.
Nele está incluído o famoso caso de Anna O., que foi paciente de Breuer e a primeira pessoa a ser tratada pelo método catártico, precursor da técnica fundamental psicanalítica denominada associação livre (criada por Freud). É um dos casos emblemáticos do início da psicanálise.
Esse livro apresenta dois pontos de vista diferentes sobre as causas da histeria: uma causa neurofisiológica e outra psicológica. A primeira proposta por Breuer e a segunda por Freud. Na época a recepção do livro não foi muito boa por parte dos médicos europeus, pois rompia com os paradigmas atuais.
A interpretação dos sonhos (1900)
“A interpretação dos sonhos” é uma das obras mais conhecidas de Sigmund Freud. Com essa publicação, ele dá início à teoria da análise dos sonhos, entendendo-os como a realização “alucinatória” de desejos e, portanto:
“…a estrada real que conduz ao inconsciente”.
-Freud-
Nessa obra é possível encontrar o método de análise dos sonhos através da associação livre dos símbolos mais importantes de cada sonho. Também é possível encontrar uma exposição sistemática do aparelho psíquico, que viria a ser a primeira tópica freudiana.
O curioso dessa obra é que, nas suas primeiras publicações, ela não fez tanto sucesso. Foi apenas após uma reedição e a inclusão, por parte de Freud, dos simbolismos universais que começou a adquirir notoriedade. Por outro lado, esse acréscimo gerou polêmica e críticas por parte de outros psicanalistas devido ao fato de que eles consideravam os sonhos como elementos de análise cheios de subjetividade e, portanto, não passíveis de generalização.
A maior parte dessa obra se baseia na análise dos sonhos do próprio autor – Freud – a partir da qual ele montaria sua própria teoria. Como ferramenta para fazer isso, ele se serviria da associação livre, aplicando-a aos símbolos mais relevantes que aparecem na representação onírica.
Três ensaios sobre a teoria da sexualidade (1905)
Essa obra, junto com “A interpretação dos sonhos”, é uma das contribuições mais importantes de Freud. Nesse livro, Freud avança na sua teoria sobre a sexualidade humana, especialmente na infância. É onde se pode encontrar a famosa e polêmica afirmação: “A criança pode se transformar em um perverso-polimorfo”.
Com ela, Freud quer expressar que a perversão está presente até mesmo nas pessoas saudáveis e que o caminho para uma atitude sexual madura e normal não começa na puberdade, mas na infância. Ele elabora o desenvolvimento psicossocial dos seres humanos e inclui os conceitos de inveja do pênis, do complexo de castração e do complexo de Édipo. Portanto, transformou-se em um livro fundamental para entender a evolução da psicanálise.
Melhores livros de psicanálise humanista
Existem vários autores de psicanálise humanista. No entanto, o conceito como tal foi desenvolvido por Erich Fromm, sendo produto da sua formação psicanalítica freudiana, à qual incorporou ideias que emprestou do budismo e do marxismo. A seguir falaremos das suas duas obras mais importantes.
O medo à liberdade (1941)
Esse livro tenta explicar os aspectos da crise contemporânea, especialmente marcada na civilização ocidental, relacionados com a liberdade do homem. Fromm faz referência a dois fenômenos – o fascismo, como expressão política, e a crescente padronização dos indivíduos nas sociedades avançadas como expressão sociocultural – para explicar as diferentes manifestações da crise.
Ele levanta a ideia de como ambas as manifestações da crise não são mais do que formas coletivas de fugir da realidade. Provocando grandes consequências no homem da sociedade moderna industrial: uma autoconsciência de insignificância pessoal, uma sensação de solidão moral e a resignação de sacrificar a própria vida em virtude de poderes externos e superiores.
A arte de amar (1957)
Outra obra de Erich Fromm que não se pode deixar de ler. Apesar de ser um livro de psicanálise, sua leitura pode ser classificada como menos densa ou um pouco mais amena, sem deixar de ser uma profunda análise da natureza humana e dos princípios teóricos que o autor já tinha começado a desenvolver no livro “O medo à liberdade”.
Neste livro, Fromm levanta a ideia de que o amor pode ser produto de um estudo teórico, pois o eleva à categoria de arte. Ele acredita que sua teoria e sua prática devem ser dominadas. Assim, um dos postulados mais importantes desse livro é que o amor é a resposta ao problema da existência humana, pois o desenvolvimento deste envolve uma dissolução do estado de separação ou de separabilidade sem perder a própria individualidade.
Faz uma recapitulação no estudo dos diferentes tipos de amor: amor fraternal, amor de pai e de mãe, amor por si mesmo, amor erótico e amor por Deus. Desenvolvendo a ideia de que os elementos necessários para o desenvolvimento de um amor maduro são o cuidado, a responsabilidade, o respeito e o conhecimento.
Livro de psicanálise lacaniana
Jaques Lacan, psicanalista francês freudiano, se caracteriza por ter um desenvolvimento teórico que dá continuidade à obra de Freud, mas que inicialmente é bastante complexo de compreender. É um autor complicado de ser entendido num primeiro contato e o que ele escreve pode parecer desconcertante ou, até mesmo, sem sentido. A lógica da sua perspectiva costuma ser descoberta quando o leitor deixa o texto amadurecer na mente e, após um tempo, volta a se debruçar sobre ele. De qualquer maneira, se lermos com muita atenção, descobriremos proposições surpreendentes.
O seminário – livro 3 – As psicoses (1955-1956)
É um livro muito interessante. Lacan faz um completo desenvolvimento teórico sobre as psicoses. Ele propõe ideias bastante revolucionárias e inovadoras. Nesse sentido, confere uma visão diferente ao que essa estrutura representa, desde as bases do seu surgimento até a forma de abordagem destas.
Faz um estudo do livro “Memórias de um doente dos nervos”, autobiografia de Daniel Paul Schereber, que foi presidente da corte de apelações da Alemanha e desenvolveu uma esquizofrenia paranoica. Obra à qual Freud prestou muita atenção e sobre a qual, posteriormente, Lacan desenvolveu uma compreensão teórica, verdadeiramente interessante do caso.
A causa das crianças (1986)
É um livro da psicanalista francesa Françoise Dolto. Apesar de ser um livro de psicanálise, também é de leitura bastante agradável e com um realismo incrível, qualidade característica dessa autora. É um livro que rompe com o que se costuma dizer geralmente sobre o universo das crianças, invertendo a ordem pois observa o mundo a partir do ponto de vista da criança e do seu interesse exclusivo.
Assim, Françoise Dolto não apenas nos leva a escutar e compreender plenamente as crianças através da sua própria linguagem, mas também nos leva a conversar com elas sem nos impor. É uma contribuição muito valiosa e lúcida, que não vai decepcionar quem já conhece Dolto e também não deixará indiferentes aqueles que a descobrirem agora.
Deseo sobre deseo (2006, sem tradução para o português)
É um livro de Fernando Colina, psiquiatra psicanalista contemporâneo. É um livro no qual o “desejo” é concebido como um fluxo curvo que se posiciona entre o prazer, as ilusões e a moral. Deixa-se querer ao longo do livro para mostrar os jogos dialéticos que estabelece entre a igualdade e a diferença, a vida e a morte, o impulso e o prazer.
É um livro para uma leitura tranquila, porque suas ideias são ricas em conteúdo e, para fazer um esquema adequado das mesmas, é preciso tempo.
Sobre la locura (2013, sem tradução para o português)
Esse é outro livro de Fernando Colina que propõe uma visão, um entendimento (ou não) e uma abordagem daquilo que se chama de “loucura”. Ele realiza uma crítica importante em relação à posição do especialista frente à psicose e seu rigor técnico que pode desumanizar aquele que está na sua frente. É um livro crítico e agradável.
Captura a difícil relação do interpretante – analista – com a teorização, com a distância justa, com os medicamentos ou com o fundamental direito de estar louco. Tange vários temas que estão relacionados com o desvario, como o poder, o diagnóstico, a ternura ou a violência. É um texto polêmico porque se opõe à postura tradicional da psiquiatria.
Vocabulário de psicanálise de Laplanche e Pontalis (1967)
É um livro de psicanálise que ajuda na compreensão da terminologia dessa corrente. Extremamente útil para quem é iniciante nesse tipo de leitura. Contém explicações bastante claras e comparativas entre os autores. Por isso é muito interessante tê-lo ao alcance das mãos quando se quer compreender questões básicas dessa corrente antes de mergulhar nela.
Assim, cada conceito que está nele tem sua definição e seu comentário pertinente, predominando a clareza na exposição. Trata-se, portanto, de uma ferramenta de trabalho muito útil. Poderíamos, até mesmo, classificá-la como indispensável para continuar o desenvolvimento da psicanálise e para aproximar os termos e os conceitos mais importantes dos leitores novatos.
Não é uma simples classificação de conceitos de forma alfabética. Existe uma completa estrutura de referências e remissões entre as entradas que permite ao leitor estabelecer as relações significativas entre os conceitos e se orientar nas redes de associações da linguagem psicanalítica.