A teoria do desenvolvimento moral de Kohlberg

A teoria do desenvolvimento moral de Kohlberg
Alejandro Sanfeliciano

Escrito e verificado por o psicólogo Alejandro Sanfeliciano.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Todos nós já desenvolvemos uma moral própria e intransferível: valores que não só separam o “mal” do “bem” no mundo abstrato, como também têm influência sobre nossos comportamentos, percepções e pensamentos. Inclusive poderíamos dizer que pode estar tão interiorizada que pode influenciar nossas emoções. Um dos modelos mais importantes e influentes que tentam explicar o desenvolvimento de nossa moral é a teoria do desenvolvimento moral de Kohlberg.

Por outro lado, ao contarmos todos com uma moral própria, estabelecer uma universal sempre foi uma das grandes questões que preocuparam a multidão de filósofos e pensadores. E podemos observar desde as perspectivas kantianas da moral, baseadas no benefício grupal, até perspectivas utilitaristas, inspiradas no bem individual.

O psicólogo Lawrence Kohlberg queria se afastar do conteúdo da moral e estudar como ela se desenvolvia nas pessoas. Para ele não importava o que era bem ou mal, importava como alcançávamos essa ideia de bem ou mal. Através de uma variedade de entrevistas e estudos observou que a construção da moral aumenta à medida que as crianças crescem. Assim como acontece com outras habilidades, como a linguagem ou a capacidade de racionalizar.

Na teoria do desenvolvimento moral de Kohlberg a conclusão é de que o desenvolvimento moral passa por três níveis: pré-convencional, convencional e pós-convencional. Cada um dos quais está dividido em dois estados. É importante entender que nem todos passam por todos os estados, nem todos chegam ao último nível de desenvolvimento. A seguir explicamos detalhadamente cada um dos estados.

Teoria do desenvolvimento moral de Kohlberg

Orientação para o castigo e a obediência

Este estado da teoria do desenvolvimento moral de Kohlberg faz parte do nível pré-convencional. Aqui nos encontramos com a pessoa que delega toda a responsabilidade moral a uma autoridadeOs critérios do que está certo ou errado são dados pelas recompensas ou castigos que a autoridade outorga. Uma criança pode pensar que não fazer os deveres é ruim porque seus pais a castigam se não os fizer.

Este pensamento dificulta a capacidade de assumir que podem existir dilemas morais: enunciados que não tenham uma resposta moralmente clara. Isso é devido ao fato de que tudo é visto de um único ponto de vista que é o da autoridade, que a pessoa legitima. Aqui nos encontramos com o nível mais simples de desenvolvimento moral, onde não se contemplam as diferenças de interesse nem as intenções do comportamento. Neste estado a única coisa que é relevante são as consequências: prêmio ou castigo.

Orientação para o individualismo ou hedonismo

Neste estado da teoria do desenvolvimento moral de Kohlberg, já aparece a ideia de que os interesses variam de um indivíduo para o outro. E mesmo que os critérios para decidir o que é ruim ou bom sigam sendo as consequências dos atos, outros já não marcam. Agora o indivíduo pensará que tudo aquilo que lhe traga algum benefício será bom, e será ruim o que lhe traga uma perda ou mal-estar.

Ocasionalmente, apesar da visão egoísta deste estado da teoria de desenvolvimento moral de Kohlberg, o indivíduo pode pensar que é bom satisfazer as necessidades de outros, mas somente quando existe uma reciprocidade pragmática ou garantias. Ou seja, o pensamento de que se faço algo pelo outro, o outro terá que fazer algo por mim. Este estado mais complexo do que o anterior, já que o indivíduo já não delega para o outro a construção de sua moral, mesmo que as razões sigam sendo simples e egoístas.

Orientação para as relações interpessoais

Neste estado se inicia a etapa convencional do desenvolvimento moral, pois o indivíduo começa a ter relações cada vez mais complexas e tem que abandonar o egoísmo da etapa anterior. O importante agora é ser aceito pelo grupo, e a moral irá girar em torno disso.

Para a pessoa que se encontra neste estado, o correto será aquilo que agrada ou ajuda os outros. Aqui o que começa a importar são as boas intenções dos comportamentos e em qual medida são aprovadas pelos demais. A definição de moral nesta etapa se baseia em ser uma “boa pessoa”, leal, respeitável, colaboradora e agradável.

Crianças brincando juntas em roda

Existe um teste muito curioso que detecta quando as crianças alcançam este estado. Consistem em assistir dois vídeos:

  • Em um aparece uma criança que faz uma travessura (causa um mal pequeno, mas de maneira intencional).
  • Em outro aparece uma criança diferente que causa um mal maior, mas desta vez sem intenção (Ex.: se suja ou quebra um copo sem querer).

As crianças que incluíram a intenção como variável moduladora de seus juízos morais dirão que o que agiu pior foi a criança que queria causar o dano, mesmo que tenha sido menor. Por outro, as crianças nos estados anteriores da teoria do desenvolvimento moral de Kohlberg dirão que a pior criança é que causou um dano maior, sem levar em consideração que o tenha feito sem querer.

Orientação para a ordem social

O indivíduo deixa de ter uma visão baseada em grupos para ir para uma visão baseada na sociedade. Já não importa o que agrada os grupos ou as pessoas ao redor. O critério do que é bom ou ruim se baseia em avaliar se o comportamento mantém a ordem social ou a enfraquece. O importante é que a sociedade seja estável e não exista o caos.

Aqui encontramos um forte respeito às leis e à autoridade. Já que estas limitam a liberdade do indivíduo a favor da ordem social para o bem maior. A moralidade supera as razões pessoais e se relaciona com a legalidade vigente, que não deve ser desobedecida, para manter uma ordem social.

Orientação para o contrato social

Aqui entramos no último nível de desenvolvimento moral, etapa que poucos indivíduos alcançam ao longo de sua vida. Aqui a moral começa a ser entendida como algo flexível e variável. Para estes indivíduos o bem ou o mal existem devido ao fato da sociedade ter criado um contrato que estabelece os critérios morais. 

As pessoas neste estado entendem o porquê das leis e, com base nisso, as criticam ou as defendem. Além disso, estas leis para eles não são eternas e são passíveis de melhora. Para as pessoas ou crianças que se encontram neste estado, a moral supõe a participação voluntária em um sistema social aceitável, já que a criação de um contrato social é melhor para si mesmo e para os demais do que sua carência.

Mãos unidas construindo sociedade

Orientação do princípio ético universal

Este estado da teoria do desenvolvimento moral de Kohlberg é o mais complexo do desenvolvimento moral, onde o indivíduo é o que cria seus próprios princípios éticos que são compreensivos, racionais e universalmente aplicáveis. Estes princípios vão além das leis, são conceitos morais abstratos difíceis de explicar. A pessoa constrói sua moral de acordo com como acredita que a sociedade deveria existir e não como a sociedade impõe.

Um aspecto importante deste estado é a universalidade da aplicação. O indivíduo aplica o mesmo critério aos demais e nele mesmo. E trata os demais, ou tenta, como gostaria que lhe tratassem. Se isso não se cumpre, estaríamos em um nível muito mais simples, parecido com o estado de orientação ao individualismo.

Agora, já que conhecemos como se desenvolve a moral nas pessoas de acordo com a teoria do desenvolvimento da moral de Kohlberg, temos a oportunidade de realizar uma reflexão pessoal, em que estado do desenvolvimento moral nos encontramos? 


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