Os hikikomori, pessoas invisíveis

Os hikikomori, pessoas invisíveis

Última atualização: 10 agosto, 2015

Saito é um rapaz de 20 anos, de classe média, que está há anos fechado em seu quarto por vontade própria. Passa quase todo o dia dormindo e dedica a noite a ver televisão ou jogar vídeo-game. Seus únicos amigos são virtuais… jamais passam da tela do computador.

Saito não permite que ninguém entre em seu quarto. Sua mãe deixa sua comida todos os dias na porta, com uma resignação que a submerge em uma profunda tristeza… seus pais vivem com muita vergonha e um grande sentimento de culpa, pensando que não souberam educar seu filho, e tentam escondê-lo da comunidade e dos vizinhos.

Seu quarto é o seu único mundo, onde dorme, come, urina e defeca. Saito está começando a acumular lixo e a descuidar de si… mas ninguém quer ou ninguém pode fazer nada. Seus pais também não sabem como enfrentar o problema.

Os hikikomori

O caso de Saito é uma história fictícia com base na leitura de muitos casos como o do protagonista da nossa história, que possuem o mesmo tipo de conduta. São os hikikomori, um termo consolidado em 1986 que significa “afastados da sociedade”, e que faz referência a adolescentes e jovens adultos, na sua maioria homens e primogênitos, por haver maior pressão em homens do que em mulheres no Japão.

Um fenômeno social que parece estar fundamentado na estrita sociedade japonesa, na qual vivem seus habitantes. Em muitos casos, sobretudo com os mais jovens, a sociedade os afoga. O Japão tem um dos melhores sistemas de educação de todo o mundo, as melhores empresas e uma economia mais que sobressalente.

Infelizmente, o fenômeno está se estendendo e, na Espanha, são contabilizados 165 casos, segundo o Instituto de Neuropsiquiatria e Adições do Hospital do Mar de Barcelona, o primeiro estudo em nível europeu.

Desde quando a criança japonesa entra em uma creche, já começa a concorrência. Ela tem, inclusive, que passar por um teste para entrar. O sistema escolar e as perspectivas de futuro são absurdamente exigentes com os japoneses.

Muitos não suportam o sistema, sentem tanta pressão, tanto medo do fracasso, que a única saída que encontram é se refugiar no seu quarto, onde nada e nem ninguém poderá exigir algo ou causar danos. Infelizmente, há uma porcentagem de casos que acaba em suicídio, mesmo que outros, por sorte, acabem sendo reinseridos na sociedade.

A ONG New Start

No Japão, isso continua sendo um problema muito delicado, para o qual a sociedade continua dando as costas. Por isso, faz mais de uma década que um professor aposentado, Futagami Noki, que, nos anos 90, tinha alunos com esse problema, decidiu criar uma ONG para ajudar esse tipo de meninos. A ONG se chama New Start.

Seu método consiste em alojar os meninos em apartamentos compartilhados e durante a semana podem fazer algumas atividades oferecidas pelo centro e que lhes deem motivação: cafeteria, padaria, granja, apoio para idosos, escola de enfermagem e, inclusive, uma sala de redação para fazerem publicações em um jornal local. Quando há alguma melhoria, eles entram no programa de reinserção trabalhista, que a ONG possui em diferentes empresas.

Trata-se de um problema grave que essa valente e lutadora ONG enfrenta a cada dia. Em alguns casos, os Hikikomori entram voluntariamente no New Start, mas em outros muitos casos são os pais que pedem ajuda.

Começa um duro trabalho no qual são enviadas cartas aos meninos, pedindo que saiam do quarto e recorram à New Start. No entanto, as cartas quase nunca são respondidas; como última opção, “irmãos e irmãs de aluguel” vão várias vezes a suas casas para tentar convencê-los.

De fato, o problema é devastador, como nos afirma um dos colaboradores dessa ONG, Ayako Ogury. “Às vezes, podemos visitá-los por mais de um ano até que saiam do quarto… se é que saem.”

“Os hikikomori constituem uma mensagem poderosa para a sociedade japonesa”, segundo a doutora Hisako Watanabe. “Sua simples existência terá que forçar a mudança”.


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