Os prazeres segundo Stuart Mill

O prazer é um fator essencial para o nosso bem-estar. Mas será que todos os prazeres são iguais e contribuem da mesma forma para o nosso bem-estar? Stuart Mill nos fornece uma teoria para nos guiar na busca da felicidade.

Escrito e verificado por o filósofo Matias Rizzuto.

Última atualização: 24 abril, 2023

Stuart Mill sustenta que a felicidade e o bem-estar são possíveis por meio da maximização dos prazeres. Seu pensamento é a continuação direta do utilitarismo de Jeremy Bentham. No entanto, Stuart Mill propõe uma nova abordagem em que a qualidade importa mais do que a quantidade.

A proposta de Stuart Mill busca superar os preconceitos em que o utilitarismo esteve envolvido em seus primórdios. Com uma abordagem mais sofisticada da psicologia humana, Mill tenta estabelecer as bases da verdadeira felicidade.

Os prazeres e a felicidade

A questão da felicidade praticamente nos obriga a estabelecer critérios para definir elementos que consideramos valiosos. Na filosofia moral, isso é chamado de teoria do valor. A teoria do valor do utilitarismo é o hedonismo. O hedonismo sustenta que a felicidade é alcançável por meio da adição de prazeres e da redução de dores.

A palavra deriva do grego antigo hedoné e o primeiro a desenvolver uma teoria hedonista foi Epicuro por volta do ano 300 a.C. No início do século XIX, Jeremy Bentham voltou a este conceito e renovou sua força teórica.

Bentham argumenta que “a natureza colocou a humanidade sob o domínio de dois mestres soberanos: a dor e o prazer. Só eles nos dizem o que devemos fazer, assim como determinam o que faremos. Dessa forma, todas as nossas decisões são pautadas na busca de experiências prazerosas e na fuga das dolorosas.

Diferentes características do prazer

Bentham estabelece uma série de critérios para medir a quantidade de prazer ou dor que as ações podem gerar, são eles:

• Intensidade.
• Duração.
• Certeza.
• Proximidade.
• Distância.
• Fertilidade.
• Pureza.
• Alcance.

Todas essas características respondem ao prazer e à dor experimentados pelos indivíduos; exceto o alcance, que implica o número de pessoas afetadas por uma ação. Assim, o valor do prazer é determinado por sua intensidade, duração ou capacidade de ser seguido por outros prazeres ou desprazeres.

A soma dos prazeres e sua diminuição

É importante notar que para Bentham o que importa é a soma dos prazeres. Quanto mais prazeres eu tiver, mais felicidade terei. No entanto, se eu tiver muito do mesmo prazer, sua intensidade tenderá a diminuir.

Por exemplo, se somos amantes do chocolate, vamos gostar de saborear um pedacinho. Agora, se continuarmos comendo, a felicidade obtida será cada vez menor e quando chegarmos ao quilo de chocolate, certamente sentiremos desconforto.

É assim que um certo prazer tende a diminuir à medida que se acumula, gerando até uma utilidade negativa. Esse fenômeno é conhecido como “utilidade marginal decrescente” e é amplamente utilizado em economia para explicar o benefício decrescente de acumular um bem.

Nos prazeres, melhor qualidade do que quantidade

Muitos criticaram a busca da felicidade através dos prazeres porque assumiram que o ideal de vida que se propõe é a entrega ao vício e à libertinagem. Para isso, Mill propõe uma nova abordagem que chamaremos de hedonismo qualitativo. Para o hedonismo qualitativo, não importa a quantidade de prazeres, mas sim a sua qualidade. Stuart Mill distingue duas classes de prazeres, os do corpo e os da mente.

Os prazeres da mente estão associados ao gozo de atividades intelectuais como leitura, música e poesia; mas também à satisfação produzida pela amizade e ações virtuosas. Para Mill, os prazeres da mente são superiores aos prazeres do corpo. Diante das críticas daqueles que diziam que os hedonistas se propunham a se comportar como porcos, Mill responde:

“É melhor ser um ser humano insatisfeito do que um porco satisfeito; melhor ser um Sócrates insatisfeito do que um tolo satisfeito. E se o tolo ou o porco pensam diferente, é porque só conhecem um lado da questão.” Em outras palavras, não há quantidade de prazer corporal que se iguale ao prazer intelectual. Não há chocolate que se compare ao prazer gerado por uma boa obra de arte, ou por um bom momento entre amigos.

A educação nos prazeres é essencial

Segundo Stuart Mill, é necessário que uma pessoa experimente a mais variada gama de prazeres para poder julgar adequadamente quais são os mais elevados. Porém, muitos perdem suas aspirações e gostos intelectuais por não terem tempo ou oportunidade de cultivá-los e se dedicar a eles.

Como resultado, Mill considera que a educação é um motor fundamental para o desenvolvimento da humanidade como um todo. É somente através do cultivo das faculdades mentais que os seres humanos podem aspirar à realização dos mais elevados prazeres. Por esta razão, Mill era um fervoroso defensor da educação gratuita. Pode-se dizer que seu projeto tenta democratizar o ideal iluminista para torná-la acessível a cada ser humano.

A dimensão espiritual do ser humano

Como vimos, Mill reconhece uma dimensão moral mais ampla e influente do que Bentham. Segundo essa visão, temos a capacidade de buscar como fim a perfeição espiritual, capaz de nos trazer mais felicidade do que qualquer prazer corporal. Para Mill, temos a capacidade de nos elevar acima da condição animal, do condicionamento reativo dos desejos comuns. Assim podemos orientar-nos para os bens do intelecto, das artes e do cultivo da virtude.

As formas virtuosas de agir, a amizade e o cultivo da arte nos dão maior paz e tranquilidade, e nos conduzem a um maior bem-estar pessoal. O que você acha? Você acha que é melhor ser um porco satisfeito ou um Sócrates insatisfeito?