Como pensam as mentes mergulhadas em um conflito sem fim?
Você se imagina vivendo em um conflito? Acordar todos os dias pensando que existe uma alta probabilidade de que ele poderia ser o último? Infelizmente, há pessoas que não precisam nem imaginar. Essas pessoas são aquelas que vivem dia a dia imersas em um conflito que parece não ter fim.
Chamamos de conflitos intratáveis os conflitos ou guerras que se mantêm ao longo do tempo e para o qual a solução não parece chegar. A solução para esses conflitos é difícil de se obter e sua permanência no tempo produz um grande desgaste sobre as pessoas que vivem neles diretamente, seja em uma posição neutra ou em um dos lados opostos.
Aqueles que são forçados a viver nesta situação por um longo período de tempo acabam por desenvolver estruturas mentais que lhes permitam reduzir as consequências do conflito em suas vidas. O lado negativo é que essas estruturas também dificultam o alcance da paz.
O que é um conflito intratável?
Os confrontos, para serem considerados intratáveis, devem apresentar certas características. Algumas delas são:
- Têm um caráter violento. A violência pode ser física, estrutural ou simbólica.
- Apresentam uma longa duração temporal.
- O conflito deve ser centralizado e total. A vida é afetada pelo desenvolvimento do conflito; ele é uma preocupação constante e faz com que a satisfação das suas necessidades só se cumpra quando o conflito permite.
- A segurança é uma necessidade constante nas vidas dos que estão envolvidos no conflito.
- Há uma percepção de soma-zero. As partes litigantes não reconhecem as necessidades dos seus adversários.
Você conhece algum conflito com estas características? Claro que sim. No momento, a guerra na Síria e no Iraque se encaixa perfeitamente nessa definição, embora não sejam os únicos.
A evolução da mente nos conflitos
A psicologia das pessoas que são afetadas por esses conflitos sofre mudanças. As experiências negativas que têm que enfrentar fazem com que sua estrutura sociopsicológica seja diferente. Esta estrutura é constituída por três elementos que são interligados entre si:
- A memória coletiva: são as crenças sociais relacionadas à história do conflito e que descrevem o início, a progressão e os eventos mais importantes que ocorrem durante o curso do conflito. É uma memória seletiva que se lembra apenas dos eventos que beneficiam a sua causa. Essa memória coletiva inclui diferentes tipos de memória como a memória popular, a memória oficial, a memória autobiográfica, a memória histórica e a memória cultural. Sua retransmissão é realizada através das notícias.
- O ethos do confronto: são as crenças compartilhadas sobre as características da sociedade e do significado da identidade social. É uma visão organizada do mundo, que permite que os membros da sociedade entendam o contexto do conflito em que vivem e que guia seus comportamentos. As principais crenças são a justiça dos objetivos do grupo, uma imagem positiva, a vitimização, a deslegitimação do adversário, o patriotismo e a unidade.
- A orientação emocional coletiva: é a tendência para expressar emoções específicas. As emoções mais comumente expressas são o medo, a raiva e o ódio, mas também a humilhação, o orgulho e a esperança.
Os conflitos a partir do sofá
Esta estrutura fornece uma explicação clara, holística e significativa da razão pela qual o conflito começou, por que é mantido e por que não vai ser resolvido. No entanto, nós, que vemos tudo da tranquilidade das nossas casas, não temos essa mesma estrutura sociopsicológica.
Nossos pontos de vista sobre o conflito serão diferentes daqueles que estão imersos nele, porque as consequências para alguns e para outros são distintas. É importante compreender essa estrutura na hora de julgar as opiniões das pessoas que vivem o dia a dia imersas em um conflito, a fim de compreender que a resolução do mesmo não será fácil se essas estruturas não mudarem.