Por que às vezes culpamos a vítima?
Em muitos casos, deveríamos nos perguntar: por que culpamos a vítima ou lhe atribuímos uma parte da responsabilidade? Esse tipo de atribuição é mais comum quando compartilhamos alguma característica com o agressor.
Isso também é comum quando não queremos ver nosso senso de controle em perigo (se a culpa é dos agressores e não da vítima, isso pode acontecer conosco também). Esta última atribuição geralmente faz com que as pessoas compartilhem características com a vítima, pois se foi ela quem cometeu algum “erro/imprudência”, obtêm uma “falsa sensação de segurança”: se não cometerem o mesmo “erro/imprudência” delas, não isso vai acontecer.
Quando pensamos que a responsabilidade é da pessoa que sofreu a agressão, nos sentimos mais seguros porque acreditamos que controlamos a situação. Ou seja, acreditamos que estamos seguros, desde que façamos “a coisa certa”. Essa crença age inconscientemente culpando as vítimas, inclusive quando a vítima é ela mesma.
Em qualquer tipo de violência de gênero, a atenção, em parte, se concentra na possível responsabilidade da mulher. Como exemplo, temos as campanhas de prevenção e educação, que sempre se concentram nas “medidas de segurança” que devem ser adotadas.
Ou seja, a única que parece obrigada a fazer algo para evitar as agressões é a mulher. Nesse sentido, as campanhas de informação e prevenção deveriam visar com maior frequência outros objetivos, como os agressores em potencial e até mesmo a sociedade como um todo, com o objetivo de não contribuir indiretamente para essa culpa.
As boas pessoas não se concentram no condenado, mas sim na vítima.
Por que algumas pessoas não resistem quando são vítimas de abuso sexual ou estupro?
Nós temos uma complexa rede no sistema nervoso que nos paralisa quando há um perigo em que a luta ou a fuga não é possível (ou é possível, mas não é considerada a melhor resposta). Falamos de um recurso como uma forma extrema de sobrevivência. Quando há sexo consensual e há imobilização, o cérebro produz oxitocina, o hormônio do amor, que previne o trauma.
Mas quando o sexo é forçado, a pessoa fica paralisada e congelada, e isso é visto pelo estuprador (ou por observadores externos) como uma oportunidade ou como um consentimento. Paradoxalmente, a pessoa abusada, que é a vítima, permanece traumatizada pela vergonha e o agressor fica sem nenhum tipo de problema para sua consciência.
Todas as vítimas são iguais e nenhuma é como a outra.
Por que culpamos a vítima e não nos colocamos no seu lugar?
Quando culpamos a vítima da agressão, podemos estar nos defendendo de alguma coisa. As atribuições que fazemos sobre os fatos minimizam o peso com o qual queremos que a justiça caia sobre os agressores, aceitando sentenças menos duras.
Quem sabe ainda viveremos em um mundo onde os direitos das mulheres sejam da forma como deveriam ser, mas há algo a mais nessa postura psicológica de ir contra a vítima. Talvez os homens que defendam os condenados por agressão sexual nos julgamentos dos mesmos apenas observem as atribuições a partir do seu ponto de vista e, em certo sentido entendam que indiretamente estão sendo atacados.
Quando culpamos a vítima, podemos estar nos defendendo de alguma coisa.
No caso das mulheres que pensam que a vítima era parcialmente responsável, pode ser que o façam para terem a ilusão de controle, identificando os fatores que impediriam que a mesma coisa lhes acontecesse. Todos nós já ouvimos comentários de outras mulheres dizendo: “Isso não aconteceria comigo”, “Eu agiria de forma diferente”. No entando, a única coisa que sabemos sobre essas situações é que nunca sabemos como agiríamos.
É permitido se colocar no lugar dos acusados, mas em muitos casos, as atribuições são claras e a ciência nos dá a resposta de por que uma pessoa, quando não pode lutar ou fugir, permanece paralisada. Agora chegou a hora de realmente se colocar no lugar da vítima.
“Você não está sozinha. Irmã, eu acredito em você “