Por que existem tantas pessoas fofoqueiras?

Por que existem tantas pessoas fofoqueiras?
Sara Clemente

Escrito e verificado por psicóloga e jornalista Sara Clemente.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

As pessoas fofoqueiras não existem apenas nas cidades pequenas, nem são as típicas senhoras donas de casa que contam fofocas no quintal. O ambiente não predispõe a estar atento ao que acontece na vida dos outros, nem a criticar ou difundir informação privada e íntima das pessoas que nos rodeiam.

A técnica da fofoca se modernizou e se generalizou. Hoje em dia, está instalada em nossa vida diária e é uma prática muito presente em quase todos os tipos de sociedades. Mas, por que tanta gente faz uso dela? O que a faz estar tão difundida?

Linguagem e incerteza

Para alguns autores, a transmissão de fofocas começou com o início da linguagem humana. De alguma forma, a troca das mesmas permitiu seu desenvolvimento e o aparecimento das grandes sociedades modernas.

As histórias que uns contavam sobre os outros serviam para informar sobre o status social, os papéis que ocupavam no grupo ou as normas sociais. Inclusive, ajudavam alguns na hora de alcançar seus objetivos, como encontrar um parceiro ou conhecer o humor e as desgraças dos outros.

Mulheres contando segredos

A nível mais profundo, a necessidade psicológica básica subjacente à fofoca é a de eliminar a incerteza. Quando intuímos que não temos informação que consideramos relevante, nos sentimos mal, incompletos, nervosos.

Nossa resposta é tratar imediatamente de restituir nosso equilíbrio cognitivo. Como? Obtendo os dados necessários. Com a fofoca acontecerá o mesmo.

Nossa motivação é saber algo de outra pessoa que nos interessa muito e que desconhecemos. Para isso, vamos averiguando, fuxicando, perguntando, machucando. Nesta prática, os fins justificam os meios. Parece que vale tudo.

Como são as pessoas fofoqueiras?

Nada justifica fofocar, criticar, fuxicar ou espalhar mensagens falsas que podem machucar a reputação das pessoas. Por isso, os que são vítimas de seus comentários fazem uma série de perguntas sobre as pessoas fofoqueiras: estão entediadas? Não têm vida? Querem me machucar?

No geral, as pessoas fofoqueiras costumam ter um mundo interior muito limitado. Por isso, suas conversas se referem principalmente a aspectos externos. Na verdade, o mundo ao nosso redor costuma ser um reflexo do nosso eu interno. Quanto mais enriquecido for, mais será o nosso ambiente.

Quando falamos mal dos outros, estamos falando mal de nós mesmos.

As pessoas fofoqueiras têm vida, como todos nós! No entanto, preferem escapar de seus próprios problemas, não enfrentá-los e se preocupar mais com os problemas dos demais. É seu mecanismo de defesa. O que não sabem é que perdem um tempo que poderiam estar investindo nelas mesmas.

Uma das coisas mais curiosas é que raramente reconhecem o que são. As pessoas fofoqueiras não têm essa opinião sobre si mesmas. Na verdade, estão convencidas do contrário.

Fofocar é útil? Bom? Prejudicial?

No geral, associamos o conceito de fofoca com informações supérfluas ou pouco relevantes, e muitas vezes isso é verdade. Um exemplo são as fofocas que obtemos de pessoas famosas que só conhecemos pelos programas de televisão.

Outras vezes, fofocar é útil do ponto de vista individual. Perguntar demais pode nos fazer obter informação valiosa para gerar novas oportunidades e abrir caminhos. No entanto, este comportamento, além de ser considerado oportunista, pode não lhe trazer boa fama.

É bom mostrar interesse pelas pessoas com quem você se importa, mas ser curioso não é se meter em sua vida nem fofocar com terceiros sobre a mesma, e sim saber perguntar e escutar. Prudência e respeito, antes de tudo.

Se, pelo contrário, você está constantemente acusando-as, se metendo em seus assuntos e em sua vida (e em suas casas), acabarão rejeitando seu “interesse” excessivo.

Menino e menina conversando

Como agir quando alguém quer lhe contar uma fofoca?

Se você suspeita que uma pessoa é fofoqueira, o primeiro que deve fazer é observar. Em seguida, pode se fazer uma pergunta: Por que ela está me contando isso? Inclusive, se achar oportuno, pergunte para a própria pessoa. Dependendo de sua resposta, já poderá ter uma ideia se deve ou não levar a sério suas palavras.

Normalmente, se não falam de nós, não levamos as fofocas em consideração. No entanto, saiba que em algum momento você pode ser o alvo da fofoca. Por isso, o melhor que você pode fazer para evitar que se converta em algo muito nocivo para um terceiro é não transmiti-la a mais ninguém. A fofoca morre com você.

Uma boca fofoqueira precisa de um ouvido fofoqueiro.

Por outro lado, se alguém o perturba com suas perguntas, é preferível que você fale sobre seu incômodo ou simplesmente que corte a conversa. Qualquer desculpa pode ser boa para se livrar das pessoas fofoqueiras. Sua liberdade e intimidade estão em jogo, proteja-se!

Saber tantas coisas sobre os outros nos torna confiáveis?

De forma alguma. A confiança se ganha com discrição e compreensão, não em função da informação que temos dos demais. Se alguém lhe conta um segredo de um terceiro, como você pode confiar nesta pessoa? Por que guardaria as suas confidências, se não guarda as dos outros? Você pode confiar cegamente nela?

Estas pessoas também costumam adicionar um tempero à história. Ou seja, mentem ou pelo menos dizem meias verdades que tornam sua história mais incrível e interessante.

Todos, em alguma ocasião, nos convertemos em informantes da vida alheia. O problema está em fazê-lo de maneira compulsiva e constante, sem pudor nem respeito pelos demais. Se você considera que pode estar sendo muito curioso, tente dedicar mais tempo a si mesmo. Viva sua vida! Não a dos outros.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.