Corações de gelo: pessoas com problemas para expressar sentimentos

Corações de gelo: pessoas com problemas para expressar sentimentos
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 02 dezembro, 2021

O afeto e suas demonstrações diárias são, sem dúvida, o tendão psicológico e emocional que sustenta todo relacionamento feliz e duradouro. No entanto, há quem não saiba, não possa ou se negue a dar forma a esse tipo de linguagem. São os chamados “corações de gelo”, pessoas cheias de contradições, de medos e de arames farpados que geram grandes sofrimentos para seus cônjuges e até para seus filhos devido aos seus problemas para expressar sentimentos.

Não é nenhuma surpresa que tanto o afeto quanto a própria comunicação afetiva sejam a pedra angular que sustenta qualquer vínculo significativo. Tanto é que esta é a principal razão pela qual muitas pessoas vão à terapia de casais. É muito comum, de fato, que um dos membros expresse não se sentir reconhecido ou apreciado, ou até mesmo que exista uma clara desigualdade entre o que se oferece e o que recebe.

Muitos psicoterapeutas definem esse problema como “skin hunger“, fome da pele, embora, na realidade, seja um problema que vai muito além dos sentidos. Nós falamos de emoções não validadas, de problemas para expressar sentimentos que não são apenas negligenciados, mas às vezes são tratados com hostilidade e frieza. Poucas situações podem chegar a ser tão destrutivas para uma pessoa como se ver nessa estrutura, em um vazio emocional tão abismal, onde mais cedo ou mais tarde a pessoa começa a duvidar de seu próprio relacionamento e se realmente é amada…

Mãos e braços congelados

O afeto e nossa “sobrevivência” emocional

As pessoas não precisam só de alimento para sobreviver, nutrientes dos quais obtemos energia para que nossas células realizem todos esses processos fascinantes que nos permitem ir mais além da sobrevivência. Por mais estranho que pareça, o afeto também nos nutre, nos oferece força e um senso de pertencimento a um grupo reduzido de pessoas com as quais nos identificamos, com as quais discutimos, mas também com as quais nos sentimos seguros e felizes.

Um exemplo de tudo isso é Juan Mann, fundador do famoso movimento “Free Hugs“. Este jovem se sentia tão privado de contato humano que por um tempo chegou a pensar no pior. Abandonado por sua namorada, sem amizades, com seus pais separados e sua avó doente, ele sentia que estava morrendo. Até que um dia aconteceu algo maravilhoso em uma festa: uma garota o abraçou espontaneamente ao simpatizar com sua tristeza. O frio, por um momento, desapareceu de seu coração e o mundo voltou a ter harmonia, equilíbrio e, acima de tudo, sentido.

Ele nunca foi tão feliz e, de fato, assim como ele explicou em um documentário, o que mais o fascinava era ver como as pessoas concordaram primeiro com alguma surpresa, mas depois, quando se separavam dele depois do abraço, todos tinham um grande sorriso no rosto: todos saíam ganhando.

Pessoas oferecendo abraços gratuitos

Os problemas para expressar sentimentos e a incapacidade de oferecer afeto

Já sabemos que oferecer afeto é algo tão “primitivo” e necessário que não o vemos apenas entre os humanos, pois os animais também buscam essa carícia todos os dias, aquele olhar que se emociona com nossa cumplicidade, com nossas palavras carinhosas… Então, se esse tipo de conexão é natural, básica e mágica, por que existem pessoas que agem como verdadeiros corações de gelo?

  • Bem, a primeira coisa que devemos entender é que não há uma única causa relacionada com os problemas para expressar sentimentos. Não podemos agrupar todos esses comportamentos sob uma mesma etiqueta nem muito menos vê-lo como algo patológico, como um transtorno.
  • O que há em grande parte dos casos é uma baixa autoestima. Essa falta de segurança em si mesmo faz com que estejam quase sempre na defensiva em seus relacionamentos amorosos. Com isso, eles buscam acima de tudo minimizar o risco de se sentirem rejeitados ou, pior, mostrar o que eles entendem como “vulnerabilidade”.
  • Ou seja, se eu me mostrar caloroso, carinhoso e sensível com os outros, mostro a minha fragilidade interior, minha baixa autoestima. Portanto, o mais prudente é manter a distância, evitar as demonstrações de afeto e, com isso, proteger a minha (falsa) aparência de pessoa “forte”.
Homem triste olhando pela janela

Por outro lado, existe outro aspecto que não podemos ignorar: o estilo de criaçãoNascer e crescer em um ambiente com uma privação absoluta de afeto, onde o apego é sinal de insegurança ou simplesmente há uma falta dele, fará sem dúvida com que muitas pessoas não entendam, não valorizem ou não se atrevam a oferecer esse tipo de linguagem que, de certo modo, não chegaram a conhecer em sua infância. Daí surgem os problemas para expressar sentimentos.

  • Também não podemos nos esquecer das manifestações alexitímicas. Nesse caso, não há apenas a incapacidade de mostrar emoções, mas também uma falta de introspecção, de empatia e um estilo cognitivo orientado apenas para o externo, o racional e o concreto. No entanto, e isso é importante ter em mente, a alexitimia aparece em muitos casos em pessoas que têm algum diagnóstico dentro do grupo de distúrbios do espectro autista (DEA).

Por último e para concluir, há algo que não podemos nos esquecer. Não podemos “forçar” essas pessoas a expressarem seu afeto, visto que essa estratégia nunca funciona. Além disso, tentar isso dessa forma tão direta pode ter um efeito muito contraproducente e conseguir justamente o contrário do que pretendíamos. Não vamos esquecer que essas pessoas têm problemas para expressar sentimentos.

O mais adequado é trabalhar com base nas necessidades próprias de cada pessoa, de acordo com sua realidade psicológica e afetiva. Em uma boa parte dos casos, a estratégia terapêutica mais lógica será orientada para trabalhar a autoestima, construindo uma autoimagem mais positiva e segura.

Portanto, vamos lembrar que por trás desse parceiro, amigo ou criança que é incapaz de demonstrar afeto, existe uma carência ou um problema que devemos conhecer e trabalhar em conjunto.


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  • Meza-Concha, N., Arancibia, M., Salas, F., Behar, R., Salas, G., Silva, H., & Escobar, R. (2017). Towards a neurobiological understanding of alexithymia. Medwave17(04).
  • Chiquito Benítez, M. B. (2022). Empatía y alexitimia en estudiantes de psicología clínica de la Universidad Central del Ecuador, período 2021 (Bachelor’s thesis, Quito: UCE).

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